Augusto Severo, macaibense ilustre
Padre João Medeiros Filho (*)
Os seus restos mortais
encontram-se custodiados pelo Instituto Histórico e Geográfico do RN,
aguardando o mausoléu definitivo. Reconhecemos e agradecemos os esforços
daqueles que se engajaram, ontem e hoje, na luta para que o traslado
acontecesse. Todavia, há um dado que parece esquecido e necessita de registro
histórico. Trata-se do gesto de Valério Alfredo Mesquita e Odiléia Mércia da
Costa, há quarenta anos. Eis o que ela afirmou em carta publicada no Diário de
Natal, aos 29 de setembro de 1983: “A ideia da remoção dos restos mortais do
aeronauta Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, do Rio de Janeiro para a sua
cidade Macaíba, não é minha e nem de agora. Ela é antiga e até Mestre Luís da
Câmara Cascudo e outros se pronunciaram favoravelmente.” Há um brocardo
jurídico, inspirado em Santo Agostinho: “Unicuique suum tribuere” (A cada um o
que lhe cabe e merece).
Em 1983, Dr. Valério presidia a
Fundação José Augusto e a Senhora Odiléia era a Prefeita de Macaíba. À época,
representávamos aquela Fundação junto aos órgãos culturais, sediados no Rio de
Janeiro. Ali, exercemos, dentre nossas atividades eclesiásticas, as funções de
vigário da Igreja de São João Batista (em Botafogo), em cujo cemitério jaziam
os restos mortais de Augusto Severo. Igualmente naquela Cidade, no Colégio e
Convento Santa Doroteia (situado à Rua do Bispo nº 191, Rio Comprido), residia
a veneranda Madre Maranhão (Berta Augusta de Albuquerque Maranhão), filha do
grande vulto macaibense.
Naquele bairro carioca (onde
viemos habitar posteriormente com nossos familiares), morava uma grande amiga,
Theresinha de Souza Machado, ex-aluna de Madre Maranhão. Ela agendou um contato
nosso com a antiga mestra. Em junho de 1983, hora e dia aprazados, acompanhamos
o Presidente da Fundação e a Prefeita ao convento. Ambos expuseram à freira o
desejo dos conterrâneos de trazer os restos mortais de Augusto Severo para sua
terra natal. Na ocasião, foi entregue à religiosa um documento da
municipalidade, assegurando a construção de um jazigo condizente com o ilustre
potiguar. Tranquilamente, a Madre expressou seu assentimento sobre o assunto. O
Presidente da Fundação e a Prefeita de Macaíba prontificaram-se em providenciar
as passagens aéreas para a religiosa acompanhar o traslado. No dia seguinte,
após o encontro, fomos à referida necrópole para saber das futuras tratativas.
Como vigário daquele bairro, íamos frequentemente ali presidir cerimônias
litúrgicas. Recebeu-nos o administrador, o qual nos inteirou sobre os
procedimentos necessários.
De retorno a Natal, o Presidente
da Fundação e a Prefeita procuraram iniciar os passos para concretizar o
projeto. Entretanto, alguns descendentes de Augusto Severo, manifestaram
discordância, inclusive pela imprensa. É o que se infere de longa matéria
publicada no Diário de Natal, datada de 26/09/83. O Senhor Augusto Severo Neto,
representando a família, em correspondência endereçada à então Prefeita de
Macaíba, publicada no Diário de Natal, nessa mesma data, assim se expressou:
“Nossa tia, de já noventa e dois anos de idade, telefonou-nos, aflita,
dizendo-nos ter sido procurada pela Senhora Prefeita, acompanhada de seu marido
e um padre (grifos nossos) para solicitar permissão para o
translado, mas que era absolutamente contra.” Entretanto, não foi isso o que
ouvimos da veneranda religiosa, muito lúcida ainda. A aquiescência formal da
religiosa consta na carta enviada à Prefeita Odiléia, publicada integralmente
no Diário de Natal, edição de 29/09/83. Ali, pode-se ler frases lapidares: “O
amor filial e a sensibilidade feminina dariam preferência a conservar, onde,
até o momento, estão os restos mortais de meu inesquecível Pai... Mas, o
coração deve ceder aos motivos da Razão e ao Amor à Pátria que se expressarão
na homenagem que pretendem lhe prestar” [em sua terra].
Diante da desaprovação de alguns
familiares de Augusto Severo, Dr. Valério e a Sra. Odiléia desistiram das
tratativas, “ad bonum pacis” (para o bem da paz). Sempre desejamos conhecer a
história daquele que deu nome, por algumas décadas, à cidade de Campo Grande,
berço de nossos pais. A Providência Divina quisera que, em 2011, fôssemos
acolhidos para ocupar a cadeira 18 da Academia Norte-rio-grandense de Letras,
da qual Augusto Severo é patrono. Dissera Cristo aos seus concidadãos: “Dai a
Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).
(*) Da Academia
Norte-Riograndense de Letras
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