O menino das bolas de pano: Saquinho (Berilo de Castro)
Rivaldo de Oliveira
Paula (Saquinho) é conhecido, no meio futebolístico da cidade, como um dos
maiores ídolos (artilheiro) do time do América FC de
todos os tempos.
Nasceu na cidade
paraibana de Rio Tinto em 1932. Recebeu esse apelido porque usava, às
escondidas, as meias do pai como “saquinho”, enchendo-as
de pano para jogar futebol e fazer embaixadas pelas ruas das Rocas. Filho de
família modesta, seu pai, Joaquim de Oliveira
Paula, era estivador, e Amélia Enedina de Oliveira Paula,
do lar. Da união nasceram sete filhos: Rivaldo de Oliveira Paula (Saquinho),
Edivaldo de Oliveira Paula (Vavá), Etevaldo de Oliveira Paula (Boca Larga),
Euvaldo de Oliveira Paula (Vadinho), José Gobat de Oliveira Paula (Zé Gobat),
Evaldo de Oliveira Paula (Pancinha) e Everaldo de Oliveira Paula (Everaldo),
todos atuantes no futebol do bairro; com menção honrosa para o irmão caçula,
Evaldo (Pancinha), que herdou o DNA do irmão mais velho.
A família mudou-se
para Natal, onde fixou residência no
bairro das Rocas.
Em 1948, começou a
jogar pelo time do Racing, equipe briosa do bairro, atuando na posição de
centro-avante; time detentor de vários títulos em competições realizadas no
Estádio João Câmara e grande formadora de craques para o futebol potiguar.
Em 1951, foi
convidado para jogar no time do Santa Cruz FC, que disputava o campeonato
oficial de futebol da cidade, no Estádio Juvenal Lamartine; foi o princípio
para a sua ascensão.
Não demorou muito,
quando recebeu convite para atuar no América FC, equipe forte e poderosa, que
disputava com o ABC FC a hegemonia do futebol do Estado.
Logo, sua fama de
artilheiro se impôs, passando a figurar como um dos maiores artilheiros da
história do América em todos os tempos. Sua qualidade inquestionável
era marcada
pelos seus deslocamentos em velocidade, bom domínio de bola, com dribles
rápidos e desconcertantes, grande proteção com a bola nos pés e giro rápido
para chutar em gol. A equipe marcou época na década de 1950. Fazia gosto
assistir o América jogar – “jogava por música”, regido por sons afinadíssimos
de um exultante violino. Teve uma formação que ainda hoje é lembrada e enaltecida:
Gerin, Artêmio e Barbosa (Cuica); Euclimar, Renato e Dico; Gilvan, Pedro Dieb
(Juarez), Saquinho, Wallace e Gilvandro, (PV, Cezimar Borges), comandada pelo
treinador gaúcho Álvaro Barbosa. Um timaço! Foi bicampeão em 1956 e 57
(invicto), e teve Saquinho como o seu grande artilheiro, com quatorze e dezoito
gols, respectivamente.
Aos 18 anos,
defendendo a Seleção de Futebol do Rio Grande do Norte, foi visto pelo então
árbitro Eunápio Queiroz, que o apontou para o time carioca das laranjeiras — o Fluminense. De imediato foi chamado, onde atuou por
quatorze meses, na forte e famosa equipe tricolor carioca, jogando ao lado de
Telê Santana, Pinhero, Castilho, Edmilson Piromba, Aldair, e o grande meia da
famosa “folha seca”, o craque Didi. Depois teve uma rápida passagem pelo Vila
Nova, de Minas Gerais.
Em 1959, participou
da bela e eficiente seleção do Rio Grande Norte, comandada pelo competente
treinador Pedrinho 40, quando foi campeão do Nordeste, chegando a disputar, com
a forte seleção Carioca, duas partidas no Estádio Juvenal Lamartine.
Em 1960, quando o
América afastou-se das competições oficiais da cidade, Saquinho foi defender as
cores do time Timbú, o Náutico, sagrando-se campeão pernambucano. Foi um dos
primeiros jogadores de cor escura (morena) a jogar pelo time “branco” do
Recife. Teve também uma passagem pelo Treze FC de Campina Grande, em 1961, onde
também foi campeão, sempre identificado como um legítimo artilheiro.
Em 1962, fez parte
novamente da seleção do Rio Grande do Norte, que disputou o campeonato
brasileiro de seleções estaduais. A equipe foi comandada pelo treinador Eugênio
Barros; fui seu aliado na equipe, ocupando a posição de quarto-zagueiro.
Foi casado com Maria
Lizete de Oliveira Paulo, com quem teve seis filhos.
Em 1964, aos 32
anos, Saquinho vestiu a camisa do ABC FC e disputou o título do campeonato da
cidade, quando perdeu para o bom time do Alecrim FC, que se tornara bicampeã da cidade. Fui seu adversário naquela
ocasião, atuando pela equipe esmeraldina. Um episódio lamentável aconteceu
nesse jogo, quando Saquinho foi expulso de campo por agressão física ao nosso
meio Paulo. Ocorrência jamais acontecida com o craque artilheiro que, durante
todos os anos que jogou, sempre se comportou como um exemplo maior de jogador:
disciplinado e de um respeito inigualável e fiel aos seus adversários, seja no
campo ou fora dele. Acredito que o acontecimento surpreendente tenha antecipado a sua despedida definitiva do futebol
potiguar.
Faleceu no ano de 2001, aos 69 anos, em sua residência no bairro das Rocas, vítima de complicações de doença hepática, com falência múltipla de órgãos. Foi assistido e acompanhado com a atenção e muito carinho pelos seus familiares, amigos e admiradores. O corpo foi sepultado no Cemitério do Alecrim.
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