OS
BAOBÁS BRASILEIROS
Diogenes
da Cunha Lima
Por
serem árvores sagradas na África, os baobás não podem ser cortados, danificados
e merecem homenagens místicas, velas votivas, fitas e outros louvores. Perto
deles não há maldade que resista, cura mau-olhado, alegra a vida. É símbolo
reconhecido da resistência negra. Ao contrário das pessoas, não são, pois,
discriminados, excluídos na participação social.
Hoje, o baobá é brasileiro. Tanto quanto os afrodescendentes.
Aqui vivem, multiplicam-se nos Estados, são estimados. Viram poemas, músicas,
estudos biossociológicos.
Há 30
anos, comprei um terreno na rua São José para, assim, evitar a construção de um
belo edifício, salvando o mais antigo habitante da nossa cidade, chamado de “O
Baobá do Poeta”. Venho pagando, sem sofrer, o imposto predial devido porque, em
três décadas, a árvore só me tem dado alegrias.
Professores
e alunos de colégios potiguares fazem a festa ao seu redor. Então, converso com
eles sobre a preservação da natureza, a beleza das flores que a árvore produz,
a história de “O Pequeno Príncipe”. Normalmente, as crianças retribuem com
desenhos, pinturas, observações graciosas e muitas perguntas.
No local, são promovidos eventos especiais:
apresentação de teatro infantil, lançamentos de livros, acontecimentos
culturais variados. Entre os quais, são notáveis o circuito de bike, do baobá de
Natal ao baobá de Nísia Floresta; celebração da consciência negra e festa de
instituição de invisuais, os cegos.
O
baobá de Natal inspirou o conjunto de danças Cisne Negro, que fez 50
apresentações do espetáculo em São Paulo. A exposição do tema no Ibirapuera atraiu
milhares de visitantes.
Jornais
e revistas do Brasil e de vários países registram e celebram o maior baobá do
país, com seus 19,5 metros de circunferência. Ele é mulher. No documentário
elaborado por Woldney Ribeiro, a atriz afrodescendente Tony Silva sai de dentro
da árvore e conta magistralmente a história do “Baobá do Poeta”. Ganhador de
prêmios, o curta-metragem foi apresentado no Festival Brasil-Áustria, em Gmund,
cidade das artes, e aplaudido de pé. Com legendas em alemão, foi exibido em
escolas.
Ativistas
e idealistas criaram o Fundo Baobá para a equidade social, construindo um senso
de justiça e o reconhecimento das virtudes da negritude brasileira.
O
Brasil teve cinco Independências: a comercial, a política, a heroica formal, a
estética e a Independência negra, que ainda se busca alcançar. Todo brasileiro
é beneficiário das origens africanas nos costumes, nas artes, na dança, na
música, na literatura. Precisamos retribuir, abraçando a nossa identidade
africana.
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