DUAS HORAS
Pas de Deux
A HORA RASA
não há mais
onde abrigar-se
o quarto é um
símbolo mudo
e a calmaria
sinal de
perigo
os odres
estão vazios
e muita
cautela é preciso ao pisar
as nuvens de
silêncios inflamáveis
outrora havia
rumor de tambores
que
anunciavam a chuva
mas os
ventiladores pararam
o quarto está
despido
sem sombras e
sem luz
sem qualquer
movimento de espera
exceto a
expectativa
de que uma
porta se abra
e exponha o
jazigo
à
exterioridade dos ruídos
- Horácio Paiva (Brasil)
É ESTA A
HORA...
É esta a hora
perfeita em que se cala
O confuso
murmurar das gentes
E dentro de
nós finalmente fala
A voz grave
dos sonhos indolentes.
É esta a hora
em que as rosas são as rosas
Que floriram
nos jardins persas
Onde Saadi e
Hafiz as viram e as amaram.
É esta a hora
das vozes misteriosas
Que os meus
desejos preferiram e chamaram.
É esta a hora
das longas conversas
Das folhas
com as folhas unicamente.
É esta a hora
em que o tempo é abolido
E nem sequer
conheço a minha face.
- Sophia de Mello Breyner (Portugal)
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