Monsenhor Flávio Medeiros, protonotário apostólico
Padre João Medeiros Filho
Talvez, poucos tenham conhecimento dessa honraria e sua importância
na História Eclesiástica. Depois do cardinalato, trata-se da mais elevada distinção
que a Igreja concede a seus clérigos. O episcopado não é título honorífico, mas
o último grau do sacramento da Ordem, portanto, um ministério a ser exercido
junto ao Povo de Deus. Recentemente, o Papa Francisco nomeou Padre Flávio José
de Medeiros Filho cônego efetivo da Basílica de São Pedro (Vaticano), elevando-o
consequentemente e “pari passu” à dignidade de protonotário apostólico.
Atualmente, este galardão só é concedido a eclesiásticos membros da diplomacia
e a servidores da Santa Sé. Monsenhor Flávio tem suas raízes em Acari. Há quase
dezessete anos, vem prestando relevantes serviços à cúpula da Igreja, notadamente
como cerimoniário papal. É um representante do Rio Grande do Norte, no
Vaticano. Há unanimidade em apontar sua fidalguia e presteza. Cabe ressaltar o seu
empenho para que a Sé Apostólica elevasse à qualidade de Basílica Menor a
Matriz de Nossa Senhora da Guia do Acari, pertencente à diocese de Caicó. “O zelo de tua casa me devora” (Sl 69/68,
10).
Os protonotários apostólicos podem igualmente ser chamados
de prelados, o que, por vezes, dava margem a dúvidas de que fossem bispos. Isso
acontecia devido às vestes, insígnias e a alguns privilégios, como o uso da
mitra episcopal, em missas solenes. Há mais de meio século, o Rio Grande do
Norte não conhecia eclesiásticos com tal distinção. Foram os últimos: Monsenhores
José Alves Ferreira Landim, falecido em 1968 e Paulo Herôncio de Melo, que nos
deixou em 1963, tendo sido o primeiro (do qual se tem notícia) José Paulino de
Andrade, em1904.
Até Paulo VI, havia três categorias de monsenhores: os camareiros
secretos de Sua Santidade, os prelados domésticos e os protonotários
apostólicos, subdivididos em: numerários (apenas sete, exercendo funções
importantes na Cúria Romana) e os supranumerários, podendo residir, fora de
Roma. Paulo VI modificou a nomenclatura, denominando os camareiros secretos capelães
de Sua Santidade e prelados de honra os prelados domésticos. Esta última classe
foi extinta pelo Papa Francisco. Este modificou as normas para a concessão do
título de capelão de Sua Santidade e restringiu a outorga de protonotários
apenas a clérigos diplomatas da Santa Sé ou exercendo funções específicas, em
órgãos do Vaticano.
Câmara Cascudo escreveu em sua Acta Diurna um magistral texto
intitulado “O primeiro norte-rio-grandense com o título de bispo?” Nele, procurou
esclarecer dúvidas e elucidar uma questão local. O historiador potiguar explica
o uso da expressão “prelado urbano”, como era chamado Monsenhor José Paulino de
Andrade, um mipibuense, nascido em 1861. Nas primeiras décadas do século XX, assim
eram denominados os protonotários para distingui-los dos prelados domésticos.
Muitos imaginavam ter sido ele o primeiro potiguar a ascender ao episcopado. Por
algum tempo, Padre José Paulino foi pároco de Pouso Alegre (MG), hoje sede
arquiepiscopal. Naquela cidade, nosso conterrâneo dinamizou a paróquia para
torná-la sede diocesana. Recebeu os incentivos do bispo de Mariana (Dom
Silvério Gomes Pimenta), ao qual estava subordinado. Padre José Paulino
preparou com esmero a matriz pouso-alegrense para se tornar catedral, construiu
o seminário e o paço episcopal, organizando o patrimônio do futuro bispado. Seus
paroquianos esperavam que o ilustre norte-rio-grandense fosse escolhido bispo
pelo seu dinamismo pastoral.
A nova diocese mineira foi criada em 4 de agosto de 1900.
Entretanto, em maio de 1901, o Papa Leão XIII designou Dom João Batista Correia
Nery seu primeiro bispo, transferindo-o de Vitória (ES). Padre José Paulino
deixou o sul de Minas, retornando ao RN. A pedido de Dom Nery e dos fiéis da
sua antiga paróquia, ele voltou às Gerais, em 1904. Numa tentativa de fixá-lo
em sua antiga paróquia, foi muito festejado e agraciado com as honras de
protonotário apostólico. Foi o reconhecimento pela sua dedicação à Igreja. O
eminente potiguar retornou a Natal, onde terminou os seus dias. Em Pouso
Alegre, é nome de rua e de escola. É preciso ter sempre em mente o que escreveu
o apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerdes,
fazei-o para o Senhor e não para os homens” (Col 3, 23).
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