quinta-feira, 28 de abril de 2022

 

Monsenhor Flávio Medeiros, protonotário apostólico

Padre João Medeiros Filho

Talvez, poucos tenham conhecimento dessa honraria e sua importância na História Eclesiástica. Depois do cardinalato, trata-se da mais elevada distinção que a Igreja concede a seus clérigos. O episcopado não é título honorífico, mas o último grau do sacramento da Ordem, portanto, um ministério a ser exercido junto ao Povo de Deus. Recentemente, o Papa Francisco nomeou Padre Flávio José de Medeiros Filho cônego efetivo da Basílica de São Pedro (Vaticano), elevando-o consequentemente e “pari passu” à dignidade de protonotário apostólico. Atualmente, este galardão só é concedido a eclesiásticos membros da diplomacia e a servidores da Santa Sé. Monsenhor Flávio tem suas raízes em Acari. Há quase dezessete anos, vem prestando relevantes serviços à cúpula da Igreja, notadamente como cerimoniário papal. É um representante do Rio Grande do Norte, no Vaticano. Há unanimidade em apontar sua fidalguia e presteza. Cabe ressaltar o seu empenho para que a Sé Apostólica elevasse à qualidade de Basílica Menor a Matriz de Nossa Senhora da Guia do Acari, pertencente à diocese de Caicó. “O zelo de tua casa me devora” (Sl 69/68, 10).

Os protonotários apostólicos podem igualmente ser chamados de prelados, o que, por vezes, dava margem a dúvidas de que fossem bispos. Isso acontecia devido às vestes, insígnias e a alguns privilégios, como o uso da mitra episcopal, em missas solenes. Há mais de meio século, o Rio Grande do Norte não conhecia eclesiásticos com tal distinção. Foram os últimos: Monsenhores José Alves Ferreira Landim, falecido em 1968 e Paulo Herôncio de Melo, que nos deixou em 1963, tendo sido o primeiro (do qual se tem notícia) José Paulino de Andrade, em1904.

Até Paulo VI, havia três categorias de monsenhores: os camareiros secretos de Sua Santidade, os prelados domésticos e os protonotários apostólicos, subdivididos em: numerários (apenas sete, exercendo funções importantes na Cúria Romana) e os supranumerários, podendo residir, fora de Roma. Paulo VI modificou a nomenclatura, denominando os camareiros secretos capelães de Sua Santidade e prelados de honra os prelados domésticos. Esta última classe foi extinta pelo Papa Francisco. Este modificou as normas para a concessão do título de capelão de Sua Santidade e restringiu a outorga de protonotários apenas a clérigos diplomatas da Santa Sé ou exercendo funções específicas, em órgãos do Vaticano.

Câmara Cascudo escreveu em sua Acta Diurna um magistral texto intitulado “O primeiro norte-rio-grandense com o título de bispo?” Nele, procurou esclarecer dúvidas e elucidar uma questão local. O historiador potiguar explica o uso da expressão “prelado urbano”, como era chamado Monsenhor José Paulino de Andrade, um mipibuense, nascido em 1861. Nas primeiras décadas do século XX, assim eram denominados os protonotários para distingui-los dos prelados domésticos. Muitos imaginavam ter sido ele o primeiro potiguar a ascender ao episcopado. Por algum tempo, Padre José Paulino foi pároco de Pouso Alegre (MG), hoje sede arquiepiscopal. Naquela cidade, nosso conterrâneo dinamizou a paróquia para torná-la sede diocesana. Recebeu os incentivos do bispo de Mariana (Dom Silvério Gomes Pimenta), ao qual estava subordinado. Padre José Paulino preparou com esmero a matriz pouso-alegrense para se tornar catedral, construiu o seminário e o paço episcopal, organizando o patrimônio do futuro bispado. Seus paroquianos esperavam que o ilustre norte-rio-grandense fosse escolhido bispo pelo seu dinamismo pastoral.

A nova diocese mineira foi criada em 4 de agosto de 1900. Entretanto, em maio de 1901, o Papa Leão XIII designou Dom João Batista Correia Nery seu primeiro bispo, transferindo-o de Vitória (ES). Padre José Paulino deixou o sul de Minas, retornando ao RN. A pedido de Dom Nery e dos fiéis da sua antiga paróquia, ele voltou às Gerais, em 1904. Numa tentativa de fixá-lo em sua antiga paróquia, foi muito festejado e agraciado com as honras de protonotário apostólico. Foi o reconhecimento pela sua dedicação à Igreja. O eminente potiguar retornou a Natal, onde terminou os seus dias. Em Pouso Alegre, é nome de rua e de escola. É preciso ter sempre em mente o que escreveu o apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerdes, fazei-o para o Senhor e não para os homens” (Col 3, 23).

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