EXPLICAÇÃO
NECESSÁRIA
Valério Mesquita*
Revisito
o poeta Orides Fontela que, parafraseando o Eclesiastes, nos lega uma lição
maravilhosa de vida quando diz que “há um tempo para desarmar os presságios; há
um tempo para desamar os frutos e também um tempo para desviver o tempo”. Nos
meus 50 anos de vida pública vivi a minha circunstância, no melhor dizer
orteguiano: “ Eu sou eu e minha circunstância. E se não a salvo, não me salvo eu”.
Sempre assumi riscos no jogo da política. Convenci-me do pensamento de Corneille
de que “Vencer sem perigo é triunfar sem glória”. Conforta-me haver atravessado
as noites escuras do tempo sem haver sofrido nenhuma derrota eleitoral em minha
terra, à despeito do quinhão usual de tristezas, de alguns equívocos, produzidos
pela difícil condição humana e política de ser.
Heródoto,
historiador grego, deixou escrito que “são as circunstâncias que governam os
homens e não os homens que governam as circunstâncias”.
Em
1970, ingressei no meu primeiro partido, a Arena, tendo me elegido prefeito de
minha terra. Com a sua extinção, fiquei no PFL e nessa legenda conquistei o
primeiro mandato de deputado estadual em 1986. No ano seguinte, por ter sido
preterido na eleição da Mesa da Assembleia Legislativa, rompi com o partido e
filiei-me ao PL, uma costela do PFL, ou uma dissidência em forma de legenda,
àquela época. Neste partido aprendi uma amarga lição de que “na política não há
só amigos e inimigos, mas conspiradores que se unem”. Nesse partido me reelegi
deputado em 1990. Nele fui punido por ser livre e por não ter deixado de me
indignar com os medíocres e superficiais. Permanecendo no mesmo sistema
gravitacional da política do Estado, voltei ao PFL. Descartei os convites que
me fizeram à época outras legendas. Retornei às origens para retomar o ritmo e
fui em busca do tempo perdido, à maneira proustiana.
Mas
se a política não fosse um jogo de conquistas, ela não seria tão fascinante. É
justo que todos tenham pretensões no limite exato em que não prejudiquem a concorrência
dos outros. Lembra-me Sartre ao dizer que: “O inferno são os outros”. Porisso é
que, existem ambiciosos tanto para o bem como para o mal. Vi-me nesse processo
eleitoral no dilema que me fez recorrer ao estadista Tancredo Neves depondo
sobre Petrônio Portela: “Ele nunca foi arenista, governista, oportunista ou
coisa que o valha. Ele teve o senso da sobrevivência. E o político que não o
tem está morto”. Mesmo dissidente do PFL nas eleições de 1994, conquistei o terceiro
mandato que o povo me conferiu por ter aprovado a minha atuação nos dois
mandatos anteriores de deputado estadual.
Por
fim, em 1998, cheguei pela quarta vez a Assembleia e posso, como poucos, após
todo esse tempo de vida pública, proclamar que trabalhei pelo Rio Grande do
Norte e tenho uma imensa gama de serviços prestados a minha terra Macaíba no
âmbito da cultura, do social, da saúde e da educação. É o patrimônio mais expressivo
que posso deixar para os meus filhos. É a minha paz cósmica satisfeita, lição
maior do meu pai Alfredo Mesquita Filho que morreu pobre e com a dignidade
intacta.
No
começo do ano 2000, fui indicado por unanimidade pelo Poder Legislativo para
servir ao Tribunal de Contas do Estado por quase 12 anos e lá me aposentei ao
completar 70 anos, servindo-o também como presidente. Sou servidor público de
uma só aposentadoria, pois no desempenho do meu segundo mandato parlamentar
votei contra a aposentadoria de deputado. Deixei a vida pública. E assim
respondo a legião de amigos que me indagam o retorno e a razão do porque
recusei convites para disputas de mandatos eleitorais.
(*)
Escritor
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