Celebrar a Semana Santa
Padre João Medeiros Filho
Neste ano de 2022, vamos relembrar o sofrimento de Cristo em tantos irmãos nossos, vítimas de injustiça, desprezo e abandono. Em cada Semana Santa, renovam-se o mistério da dor e a alegria da vitória. O Filho de Deus assume a nossa existência em tudo o que ela contém de esperança e desespero. Sua Morte é a manifestação da fragilidade de nosso ser e sua Ressurreição, o sinal da dimensão infinita do homem. Nossa história faz-se presente. Não celebramos apenas fatos do passado, e sim tudo o que somos e o Verbo Divino encarnou, quando se “fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Sofrendo, Ele desmascara a estrutura injusta da humanidade. Ressurgindo, proclama a vitória sobre o pecado, simbolizado na destruição e na angústia humana. A Semana Santa – memorial da misericórdia divina –revive a resposta suprema de Cristo à tentação e ao desafio cotidiano do mal.
Jesus provou sua solidariedade incondicional pelo ser humano. Por isso, deixou-nos o sacramento da Eucaristia: sinal inefável e permanente da bondade de Deus. Jesus não tem somete palavras de conforto. Mas, entrega sua vida para selar a união do Pai com a humanidade. “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). A presença diária de Cristo em nossa vida está assegurada pelo Pão Eucarístico, que se torna nossa força. Ele caminhará ao nosso lado, como outrora fizera com os discípulos de Emaús. Ao se entregar como nosso alimento, Ele quis mostrar que tomar a refeição juntos representa partilha e comunhão. Convida-se à mesa quem se ama e considera. Eis o sentido da atitude do Redentor, que expressa sua plena doação, vivenciada na Quinta-feira Santa.
Quem ama, serve e se doa. Esta é uma das lições do Senhor, antes de dar a sua vida pela salvação de todos. Ele revoluciona o conceito de importância e grandeza. Nobre, grande, importante é quem serve, não quem é servido. Devemo-nos lembrar constantemente das palavras de Jesus: “Estou no meio de vós, como quem serve” (Lc 22, 27). Eis o significado maior do Lava-Pés. Para os cristãos, amar é servir. Na Última Ceia, o Salvador recomenda: quem ocupa o lugar de honra, deve descer ao nível do ser humano para mostrar-lhe a sua dignidade. O Senhor ensina através de exemplos. Isto consiste também em ser Mestre. “Vós me chamais de Mestre e Senhor” (Jo 13,13). O Filho de Deus inaugura uma nova mentalidade pelo gesto insólito do Lava-Pés.
A Semana Santa é a celebração da total doação divina. Esta, diante da lógica dos homens, chega a beirar à insanidade. E ninguém pode duvidar: é a “loucura de Deus” (cf. 1Cor 1, 25), que se traduz e plenifica na entrega de seu Filho Único à morte, a fim de que ninguém se perca. A Paixão e a Ressurreição de Cristo são a prova maior de seu amor por nós. Jesus aceitou padecer e aniquilar-se na cruz para demonstrar nossa condição, o nada de nosso ser humano. Mas, Ele ressurgiu para revelar nosso destino e nossa vocação, sobretudo a magnitude divina que existe em nós. Para os cristãos, a cruz tornou-se símbolo de conversão e sede de salvação.
A Ressurreição significa os anseios de uma vida nova e busca da dimensão verdadeira de nossa existência. É fruto da clemência de Deus, que tudo recria. Assim é a Páscoa, também esperança e não apenas memorial. Dá-nos a certeza: Ele ressuscitou e não morre mais! Ensinou-nos que o amor, nascido do perdão, é mais forte que a própria morte, pois é vida. Quem ama, fala muito do amado. É o testemunho. Por isso somos chamados a proclamar o Ressuscitado. Cabe-nos, pois, levar o Cristo à sociedade marcada por sinais de opressão e aniquilamento. No primeiro dia da semana (Jo 20, 1), Maria Madalena foi à procura do corpo do Salvador. Inicia-se assim a nova criação, nascida da alegria e da vitória. Somos vencedores e não derrotados, eis a mensagem central da Semana Santa! Feliz Páscoa, marcada pelo desejo de um Brasil melhor e um mundo sem guerras!
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