O PARAÍSO PERDIDO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Aprendi nos
compêndios de geografia no Colégio Marista que “o Brasil é um país
essencialmente agrícola”. Essa teoria mudou radicalmente nesses últimos 60
anos. Principalmente no Nordeste, grande produtor de cana de açúcar, banana,
algodão, milho, feijão, mandioca, etc. Particularizando o Rio Grande do Norte,
podemos dizer, sem medo de errar, que o produtor rural está falido.
Quem faliu a
atividade agrícola? Ora, o Governo Federal, através dos seus próprios
instrumentos: o Ministério da Agricultura, os juros bancários e o calote das
usinas de açúcar aos produtores de cana.
O produtor rural é
hoje um refém permanente dos bancos oficiais. Além das dívidas padecem as
dúvidas do tempo, da ausência de uma política agrícola definida que objetive a
produtividade. Quem cair na arapuca do empréstimo agrícola em banco do governo
se arrisca a perder a propriedade. Nesses tempos alternativos, para sair do
buraco, ou o proprietário rural faz acordo com os sem terra para invadirem sua
propriedade, ou, quem tem nome/sobrenome arranja um gancho de um financiamento
a fundo perdido, tipo “reflorestamento”, que já salvou, pelo “ladrão”, muita
gente boa. O mais, ser produtor rural é padecer num paraíso perdido.
E a SUDENE?
Pergunta um idiota chapado. Evadiu-se nas vagas vazias e vadias da
incredibilidade, da inconsequência e da incompetência. Morreu de inanição sem
se aperceber que a próxima crise mundial será a da escassez de alimento. No Rio
Grande do Norte, se não fosse o programa do leite todos os produtores rurais,
sem exceção, já teriam se enforcado. Desde o Governo Sarney, quando foi extinto
o subsídio agrícola a atividade rural nesse país entrou em colapso. Na ANORC
(Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores) ou fora dela, a maioria dos
agropecuaristas está vendendo o rebanho para pagar o banco. Para se viver
honestamente, tirar da terra o sustento, acreditar que somos essencialmente um
país agrícola, sem bandalheira, sem maracutaía, sem empréstimos dadivosos a
fundo perdido com o dinheiro do contribuinte, o que fazer? Só há dinheiro para
a atividade industrial urbana, fábricas, pólo-gás-sal, etc., e o campo vai se
esvaziando, se erodindo...
Dir-se-á que o país
todo se urbaniza e as propriedades rurais vão ficar mesmo para os sem-terras
que irão se decepcionar e constatar que o trabalho agrícola é mesmo uma
atividade marginal nesse país. Aí virá o Evangelho e Cristo dirá novamente:
“Naquele tempo...”. O Nordeste será a Galiléia.
(*) Escritor.
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