sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

 ODE EMERGENCIAL

Agora que já não acreditas em caminhos impossíveis
Mesmo nos emergentes como aquele
De que mais falas: o da paixão
Por que te surpreendes com a ousadia da noite
Que do acaso emerge
E como sibarita da volúpia
Te arrebata o olhar o desejo e o sonho?

Jamais queiras autenticar impossibilidades
Pois o mundo te surpreenderá
Tomado hélas pelo desastre
Embora também lhe caiba representar
O beijo das graças  -
O lado alegre da fortuna

Em toda impossibilidade
Há uma possibilidade do ser
Que se manifesta nos sortilégios do vir a ser
E que faz da impossibilidade
Jazigo apenas temporário
De sua própria possibilidade

Sob o êxtase profético formatas o amanhã
E julgas adivinhar teus passos no escuro
Mas logo em vão te comoves
Na contrariedade das lágrimas
Ou na alegria coroada de luz

Convém pois que absorvas
Impassível o sim e o não
Nunca como anjos do bem e do mal
Mas como unidade harmônica
Do élan vital que move o próprio ser

E se das nuvens chegar o anúncio
Ditado pelas chagas da memória
Do dilúvio iminente
Que te coloca na rota dos abismos
Finge no colo da verdade
Dominar a arte da ausência
E não te deixes levar pelo medo

Que não percas em momento algum
a consciência do fantástico
Nem a doçura e o encanto de teu lirismo

(Horácio Paiva)

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