quarta-feira, 30 de maio de 2018

Padre João Medeiros


“TÃO SUBLIME SACRAMENTO”
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO

Este canto litúrgico é a parte final do hino eucarístico “Pange Lingua”, composto por Santo Tomás de Aquino, em 1264, para a festa do Corpo de Deus. Marcou a história mística e a vida espiritual de muitos. Toquinho, parceiro de Vinicius de Moraes, ainda hoje se encanta e se emociona, ao recordar a música tocada por padre Romano, organista do Liceu Salesiano Coração de Jesus (São Paulo), onde estudou. 
Plantão permanente da eterna solidariedade de Deus é a Eucaristia, meiguice de um Pai, que nos envia um Irmão para dialogar com os outros filhos. Ali, Ele nos diz: “quem comer deste Pão, jamais terá fome” (Jo 6, 35). A Eucaristia é a espera de Deus por nós, abraço divino que nos é reservado. Beijo carinhoso de um Pai cheio de bondade, que no silêncio da Hóstia nos mostra seu amor e perdão. Eis o sacramento augusto, continuidade da presença celestial, temporalizada no mistério da Encarnação. Cristo quis se unir à humanidade e revelar que ela tem valor infinito, não importando seus pecados e limitações. Um dia, Deus perfilhou-nos por ato de misericórdia, fruto de sua inefável generosidade. 
A Encarnação é, sem dúvida, um incomensurável gesto de amor de Cristo. Mas, Ele quis ir além, complementando misteriosamente esse ato no Sacramento do Altar. Assim, Ele se dá ainda mais, transformando elementos materiais na sua própria pessoa. Consagra o universo, através dos três elementos que o representam: pão, vinho e água. A matéria inanimada torna-se suporte da divindade de Cristo ali presente, porém humanamente invisível. Graças à fé podemos sentir essa teofania e a presença de Cristo, concedida por Deus aos filhos de seu amor. Por isso, exclamou Tomás de Aquino: “Et si sensus deficit, ad firmandum cor sincerum, sola fides sufficit!” (Ainda que o sentido falhe, a fé basta para confirmar o coração sincero). 
A profecia de Isaías, retomada pelo Senhor, no Evangelho de João, afirma: “Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai, sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite” (Is 55,1 e Jo 7,37). Aqui se alude ao alimento espiritual que Jesus oferece, através do seu Corpo e Sangue. É verdade que temos sede de justiça e do próprio Deus, às vezes, aparentemente, tão distante de nossos sentimentos e de nossa vida. A Eucaristia sacia a nossa fome de valores maiores. Quem tem saudades de Cristo, vai buscá-LO na beleza dessa presença silenciosa. E, embora sem falar, Ele deixa que sua palavra repercuta no íntimo de cada um que se achega a Ele para mitigar todo tipo de fome e sede. 
A Eucaristia é o pão dos viandantes, o viático na dimensão semântica do termo. Não apenas para os enfermos, mas, sobretudo para os caminhantes. Vale citar as palavras ouvidas pelo profeta Elias, cansado, deprimido, como muitos de nós, em certos momentos da vida: “Levanta-te e come, porque ainda tens um caminho longo a percorrer” (1Rs 19, 7). 
“Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18), isto é, largados à própria sorte, prometeu o Senhor. A Eucaristia é Cristo em nós. Ele sabia que a convivência é fundamental para a existência humana. É duro o caminhar sozinho. Nele, a dimensão do diálogo é importante. Por isso, Jesus legou-nos esse memorial, sinal de sua companhia. Não queria que padecêssemos de solidão e abandono. Deste modo, fez-se Pão e permanência. 
A Eucaristia é antecipação da eternidade (o grande banquete), onde gozaremos o definitivo de nossa história. Ela é Deus, em Cristo, abrandando em nós as saudades do Eterno. Ficamos extasiados diante de um mistério tão admirável! Várias interrogações podem surgir no coração dos fiéis, que, não obstante, encontrarão paz nas palavras e na intimidade de Cristo. Sustentados pela fé e sua luz, que ilumina os nossos passos na noite da dúvida e das dificuldades, pode-se proclamar, como fizera Monsenhor Paulo Herôncio de Melo: “Rei eterno, ó Deus humanado, suplicamos aos céus com fervor. Glória a Ti, ó Jesus escondido, ó mistério querido, ó milagre sublime de amor!”
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Colaboração de 


   
Eugenio Batista Rangel Rangel

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