Plantão permanente da eterna solidariedade de Deus é a Eucaristia,
meiguice de um Pai, que nos envia um Irmão para dialogar com os outros
filhos. Ali, Ele nos diz: “quem comer deste Pão, jamais terá fome” (Jo
6, 35). A Eucaristia é a espera de Deus por nós, abraço divino que nos é
reservado. Beijo carinhoso de um Pai cheio de bondade, que no silêncio
da Hóstia nos mostra seu amor e perdão. Eis o sacramento augusto,
continuidade da presença celestial, temporalizada no mistério da
Encarnação. Cristo quis se unir à humanidade e revelar que ela tem valor
infinito, não importando seus pecados e limitações. Um dia, Deus
perfilhou-nos por ato de misericórdia, fruto de sua inefável
generosidade.
A Encarnação é, sem dúvida, um incomensurável gesto de amor de
Cristo. Mas, Ele quis ir além, complementando misteriosamente esse ato
no Sacramento do Altar. Assim, Ele se dá ainda mais, transformando
elementos materiais na sua própria pessoa. Consagra o universo, através
dos três elementos que o representam: pão, vinho e água. A matéria
inanimada torna-se suporte da divindade de Cristo ali presente, porém
humanamente invisível. Graças à fé podemos sentir essa teofania e a
presença de Cristo, concedida por Deus aos filhos de seu amor. Por isso,
exclamou Tomás de Aquino: “Et si sensus deficit, ad firmandum cor
sincerum, sola fides sufficit!” (Ainda que o sentido falhe, a fé basta
para confirmar o coração sincero).
A profecia de Isaías, retomada pelo Senhor, no Evangelho de João,
afirma: “Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai, sem dinheiro e sem pagar,
vinho e leite” (Is 55,1 e Jo 7,37). Aqui se alude ao alimento
espiritual que Jesus oferece, através do seu Corpo e Sangue. É verdade
que temos sede de justiça e do próprio Deus, às vezes, aparentemente,
tão distante de nossos sentimentos e de nossa vida. A Eucaristia sacia a
nossa fome de valores maiores. Quem tem saudades de Cristo, vai
buscá-LO na beleza dessa presença silenciosa. E, embora sem falar, Ele
deixa que sua palavra repercuta no íntimo de cada um que se achega a Ele
para mitigar todo tipo de fome e sede.
A Eucaristia é o pão dos viandantes, o viático na dimensão semântica
do termo. Não apenas para os enfermos, mas, sobretudo para os
caminhantes. Vale citar as palavras ouvidas pelo profeta Elias, cansado,
deprimido, como muitos de nós, em certos momentos da vida: “Levanta-te e
come, porque ainda tens um caminho longo a percorrer” (1Rs 19, 7).
“Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18), isto é, largados à própria
sorte, prometeu o Senhor. A Eucaristia é Cristo em nós. Ele sabia que a
convivência é fundamental para a existência humana. É duro o caminhar
sozinho. Nele, a dimensão do diálogo é importante. Por isso, Jesus
legou-nos esse memorial, sinal de sua companhia. Não queria que
padecêssemos de solidão e abandono. Deste modo, fez-se Pão e
permanência.
A Eucaristia é antecipação da eternidade (o grande banquete), onde
gozaremos o definitivo de nossa história. Ela é Deus, em Cristo,
abrandando em nós as saudades do Eterno. Ficamos extasiados diante de um
mistério tão admirável! Várias interrogações podem surgir no coração
dos fiéis, que, não obstante, encontrarão paz nas palavras e na
intimidade de Cristo. Sustentados pela fé e sua luz, que ilumina os
nossos passos na noite da dúvida e das dificuldades, pode-se proclamar,
como fizera Monsenhor Paulo Herôncio de Melo: “Rei eterno, ó Deus
humanado, suplicamos aos céus com fervor. Glória a Ti, ó Jesus
escondido, ó mistério querido, ó milagre sublime de amor!”
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Colaboração de
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