domingo, 31 de dezembro de 2017

FELIZ ANO NOVO




FELIZ ANO NOVO, DE VERDADE

PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO


O tempo é um enorme desafio, emoldurando a vida. Não se trata apenas de uma sucessão de dias, revelando a impotência humana para detê-lo. Apesar do progresso da ciência e de suas conquistas, não conseguimos pará-lo. A sua realidade fugaz é uma complexidade, que não se explica por um conceito meramente cronológico. Porém, a humildade, que desnuda o coração humano de toda pretensão, é capaz de criar a possibilidade de não o tornar um aguilhão que aponta diariamente a verdade de cada um. A simplicidade faz-nos aceitar os enganos das escolhas. O tempo passa inexoravelmente. Ninguém é capaz de segurá-lo. E hoje se tem a impressão de que ele é mais veloz. Há avalanches de solicitações, propostas, informações, possibilidades, necessidades criadas etc. que nos assaltam, muitas desprovidas de interioridade. Os mestres da espiritualidade, filósofos e místicos ensinam que o tempo é, antes de tudo, uma questão interior. Se concentrarmos tudo na exterioridade e nas aparências, ele não só passa mais rápido, como também se esvai à nossa revelia. Sem interioridade, adota-se um modo egoísta de existência, sem compromisso com o próximo.
O desejo de um verdadeiro “Feliz Ano Novo” necessita de algo a mais. Urge cultivar a sensibilidade humana e social, desenvolvendo outro estilo de relacionamento humano. O profeta Isaías, para despertar a consciência do povo sobre a novidade do tempo, fala do sentimento e do propósito de Deus a ser assumido por todos. Afirma que o Onipotente, por amor e solidariedade a seu povo, não descansa enquanto “não surgir na sociedade, como um luzeiro, a justiça, e não se acender nela, como uma tocha, a paz” (cfr. Is 62, 1). E isso é o novo para o profeta. Deste modo se desenha o caminho para que se possa trazê-lo, na contramão de interesses egoístas, grupais, partidários e até religiosos, por vezes mesquinhos e alienantes.
Para que haja realmente um Ano Novo, vamos reduzir a insensibilidade, a violência, o pessimismo, o ódio, e regar de ternura nossos sentimentos mais profundos. Não podemos nos mirar totalmente nos outros. A inveja mina a autoestima e fomenta o ressentimento. Em 2018, empenhemo-nos a todo custo por crer em nós mesmos e em nossa criatividade para superar crises e dificuldades, bem como abraçar os desafios. Acreditemos que carregamos dentro de nós a força maior da esperança, do amor e da fé. Esforcemo-nos para estender aos outros as mãos, como pessoas livres e não reféns do egoísmo. Para que o ano seja realmente novo, é necessário cuidar daquilo que falamos. Não pronunciemos difamações e injúrias. O ódio destrói a quem o carrega na alma, não o odiado. Troquemos a maledicência pela benevolência. Comprometamo-nos a expressar alguns elogios por dia, em troca das críticas e condenações.
Para haver novidade e ano novo é preciso não desperdiçar nosso tempo e nossa vida hipnotizados pela televisão. É necessário não navegar irresponsável ou aleatoriamente pela internet, naufragados no turbilhão de imagens e incontáveis informações que não conseguimos absorver e silenciar. Não deixemos que a sedução da mídia anule nossa capacidade de discernir e nos transforme em consumidores compulsivos. A publicidade sugere felicidade e, no entanto, nada oferece, senão prazeres fugazes. Procuremos centrar nossas vidas em valores permanentes, nunca nos efêmeros. Procuremos o silêncio neste mundo ruidoso. Lá encontraremos a nós mesmos e, com certeza, Deus, que quase nunca é escutado. Isso, sim, será sem dúvida Ano Novo.
Tentemos cuidar de nossa saúde, mas sem a obsessão das dietas e a escravidão das balanças e academias. Aceitemos os cabelos brancos e nossas rugas, e não temamos as marcas do tempo em nossos corpos. Elas são sinal de sabedoria e experiência. Usemos revitalizadores de compreensão, generosidade e compaixão. Procuremos não confundir o urgente com o prioritário. Não nos deixemos guiar pelo modismo. Afastemos de nossas mentes preconceitos, sentimentos que discriminam, pensamentos que excluem. A vida é breve e, de definitivo e certo, só conhecemos a morte. Guardemos um espaço em nosso cotidiano para o contato com o Transcendente. Deixemos que Ele habite em nossa subjetividade e aprendamos a fechar os olhos para ver melhor. Assim teremos real e verdadeiramente um Ano Novo!


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ANO VELHO - ANO NOVO. Qual a diferença? A frustração de sonhos não realizados no ano que termina versus a esperança dos projetos de dias melhores no ano que começa. Para mim o que realmente faz a diferença é continuar com a sua amizade. O resto é a continuação da luta cotidiana até o chamamento do Altíssimo.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Agradecemos aos nossos leitores pelos 250.527 acessos até agora. Isto nos dá força para continuar em 2018.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O VALE DOS CANAVIAIS PERDE OUTRO FILHO ILUSTRE

MINHA PROFUNDA SAUDADE

CIRO JOSÉ TAVARES

Flavia Sobral e Ciro Tavares - primos de 3º grau


Ciro José Tavares da Silva, nascido em Natal, a 25 de agosto de 1940, formou-se em Direito na Faculdade de Direito de Recife em 1964. De 1964 a 1980 militou na imprensa, exerceu a advocacia e integrou os quadros funcionais da Esso Brasileira de Petróleo e da Siderúrgica Açonorte, ocupando funções Administrativas. Em 1981, estimulado por seus pais, abandona definitivamente tarefas vinculadas a empresas, viaja à Europa e na volta retoma sua profissão de advogado.
Iniciou-se efetivamente na literatura em 1987, publicando, a convite do jornalista Marcus Prado, dois poemas na coluna do jornal Diário de Pernambuco. Um ano depois, recebe o Prêmio Ladjane Bandeira de Poesia com o livro “Além da Rosa-dos-Ventos”, posteriormente selecionado pela UBE, RJ para o Prêmio Jorge Lima de Poesia. Contudo, sua publicação pela FUNDARPE, uma semana antes da premiação, levou o autor a retirar sua inscrição, porquanto a obra não mais correspondia ao espírito do certame, destinado a estreantes. Paralelamente, na mesma ocasião, seu “As Elpses de Phoenix” credenciara-se para o Prêmio Jorge Fernandes de Poesia, também da UBE-RJ.
A nível regional, recebeu, duas vezes, o Prêmio de Poesia Raymundo de Moraes, do Gremio Cultural Rubem Van Der Linden e da Academia de Letras de Garanhuns (PE). Integrou diversas antologias de poesias no Brasil e no Exterior. Publicou ainda Baladas e Moinhos, seu terceiro livro de poesias, e as biografias À sombra do Tempo, sobre seu pai, o cirurgião José Tavares da Silva, e A Sinfonia do outono, sobre a figura centenária de João Paulo de Souza, um ícone do mundo empresarial do Rio Grande do Norte. Resgatou e organizou o livro Álbum de Versos Antigos, de Adele de Oliveira, sua tia-avó.
Eu conheci Ciro quando fazia contatos em Ceará-Mirim para a publicação do livro de sua tia-avó a poetisa Adelle de Oliveira. Fizemos uma reunião na Biblioteca Municipal e gravamos seu depoimento a respeito dos poemas e jornais deixado pela poetisa.
O escritor é descendente da família Sobral de Ceará-Mirim, e, quando criança, passou muitas férias na residência de Adelle ao lado da linha do trem onde conheceu a história dos engenhos do vale, principalmente, o Engenho Cumbe já em ruínas.
Para homenagear Ceará-Mirim o poeta escreve, em seu livro ANÊMONAS o poema Ode a Ceará-Mirim.
I


Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Regresso saudoso e no encontro lamento teu destino, renascida Tróia, na Via Láctea suspensa pelo novelo de Ariadne.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim eterna, submersa no vale, rasgado pelo rio. Vento, sol, neblina, entrelaçados, tecem, no abandono, verdes que alucinam, pelas mãos dos fantasmas nos escombros dos engenhos.
Cidade abençoada, submetida aos sonhos construídos à sombra dos antigos átrios, circulados de colunas jônicas.
O pólen, expirado pelos poros da cana-de-açúcar, viajou no colo da brisa do estio.
Pelas ruínas das venezianas, entregou sua estranha alma aos nossos corpos e, no silêncio das noites, extinguiu as velas de oratórios ancestrais como se nossas vidas apagassem.

II

Ceará-Mirim, Ceará-Mirim, o espírito dos antepassados, a rapidez do tempo substituiu por envelhecidas sombras fixadas na arquitetura.
Apenas a igreja, consagrada à Virgem da Imaculada Conceição, resiste e desafia à decadência.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim das manhãs fugidias nos invernos, claros matizes recolhidos por duendes à caixa de Pandora.
Presos entre salas e alpendres, os meninos brincavam, mas doía-lhes a umidade, emanante do assoalho e das paredes.
Na queda intermitente da água, as biqueiras davam a impressão de pêndulos metálicos que, nos relógios, arrastavam horas preguiçosas.

III

Ceará-Mirim, Ceará-Mirim.
O milagre, no final da invernada, devolução do azul ao céu escampo, lusco-fusco vespertino a conduzir nas chalupas da noite as sombras do ocaso, coaxar de rãs nos charcos, monocórdicos ruídos de grilos e besouros, a efêmera luz dos frágeis vaga-lumes.
Claros das luas espraiados nos telhados, novenas de maio, rosário de dezembro, casais de namorados nas calçadas, terraços elevados, violões harmoniosos, um estudo de Tárrega, uma sonata de Beethoven, débil luz de candeeiros, refulgindo a aguardente nas taças cristalinas.
A fumaça dos cigarros evolando-se, a solidão noturna das ladeiras, o quadro de lembranças concluído.

IV

Nas esquinas vazias, a alma dos avôs, o aroma fresco da alfazema, a lentidão dos passos.
De repente, o sino melancólico, distante, Senhor da vida, escurecendo lâmpada, estrela cadente, vida arrebatada, o caminho da estação do trem das Parcas, o último minuto, lágrimas, adeus.
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim adormecida.
Nada regressará do mistério da viagem.
Somente eu pareço desperto no teu seio, até que a vida me liberte da saudade.
FONTE: Blog Ceará-Mirim Cultura e Arte




CIRO TAVARES FALECEU ONTEM, EM BRASÍLIA.


MINHA ÚLTIMA COMUNICAÇÃO COM CIRO


"NÃO CHORE O QUE SE FOI CELEBRE O NOVO AMANHÃ
Estamos aqui entre as lágrimas de um crepúsculo e as alegrias de uma nova luz que resplandece no horizonte.
Afasto dos meus pensamentos as imagens das calças – curtas de outrora, quando esperávamos que o sono viesse mais depressa e quando o sol empurrasse a noite para frente, a claridade arrastasse-nos dos cálidos colchões para a fantasia das lembranças pousadas nos chinelos.
A realidade, de um ano para outro fez desaparecer o mito e crescidos fomos apresentados à saudade. 

A todos os amigos abraço comovido desejando um belo e Feliz Natal, Ano Novo de muita luz e paz. E faço em nome da família." 


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

H O J E



PODERÁ SER ADQUIRIDO DIRETAMENTE NO HOSPITAL.

Lívio Oliveira – membro da ANRL e do IHGRN - PRESTA HOMENAGEM


Sanderson e o querer bem

Sanderson Negreiros partiu. Foi em busca de outras paisagens e paragens. Despediu-se de nós um dos maiores escritores do Rio Grande do Norte, um dos nossos mais sensíveis e profundos poetas, um amante dos livros, um sábio. Sanderson nos deixou após uma longa temporada de solidão e recolhimento. Imensamente sofria pela perda, há alguns anos, de sua amada Ângela: aquela que ele avistou, pela primeira vez, no céu.

Agora, novamente, o fez. No céu. No céu pleno e azul.

Lembro-me dos dias em que tive a especial oportunidade de visitá-lo e entrevistá-lo. O grande poeta e cronista ainda morava no Alto da Candelária, onde convivia apaixonadamente com Ângela e com os livros.

Cheguei a acreditar, antes de ingressar naquele verdadeiro templo do intelecto e da sensibilidade, diante de uma bela Acácia que ele plantara, que Sanderson não me receberia bem, que exibiria algum humor dificultoso ou vaidade demasiada (o que chega a ser comum no meio intelectual potiguar). Talvez eu tivesse tais impressões em face do seu semblante muitas vezes hermético, com ares de reflexão ou devaneio. 

Nada disso. Nada de mau humor. Sanderson era uma figura terna e harmoniosa. A partir da minha entrada em sua casa, passei a alimentar por ele um querer bem que me pareceu mesmo ser correspondido. Ele me dizia, sim, que eu era uma figura agradável e do bem. E isso me envaidecia, trazia-me e me traz responsabilidades, como me trouxe o voto entusiástico (considero sagrado) que dele recebi para o ingresso na Academia.

Foi ali, em meio aos livros, quando eu escrevia uma série de textos para O Galo –posteriormente enfeixados num volume publicado pelo Sebo Vermelho, intitulado “Bibliotecas Vivas do Rio Grande do Norte” – que Sanderson me falou acerca do seu maior amor, amor de toda a vida. Nada mais belo do que aquela história. Foi ele mesmo quem me disse, apontando para a presença forte de Ângela, a nos acompanhar na conversa:

“Conheci a minha mulher na praia de Genipabu, quando eu visitava, junto com Luís Carlos Guimarães, a casa dos pais de Ângela. Um avião pequeno dava rasantes sobre o mar. Eu, que estava pensando em voltar para o Rio de Janeiro, onde estava trabalhando, avisado sobre a moça aviadora, disse logo, sob o olhar desconfiado do seu pai: – Vou casar com ela! Hoje, a minha esposa é a minha conselheira espiritual, minha colaboradora, minha censora, a única pessoa que eu permito que me censure.”

Essa a grande paixão de Sanderson. E todos sabem o que a perda da inesquecível companheira ocasionou no interior do imortal. Todos nós, os seus amigos (apesar das diferenças relativas às gerações, acredito que ele me considerava assim), percebemos que o semblante de Sanderson mudara. Mesmo assim, não deixou de distribuir o bem querer entre as pessoas que o procuravam. A mim, por exemplo, sempre dirigiu palavras de incentivo honesto, verdadeiro e edificante. Sempre as colhi como quem colhe as mais belas flores da primavera. E as guardo na profundidade do coração. E da mente, porque Sanderson também sabia ensinar, orientar. Era uma das suas inegáveis vocações.

Sigo aqui, caro mestre Sanderson, com algumas de suas lições anotadas, como aquela advertência serena com que me presenteou uma vez: – Lívio, não trate o seu livro por “livrinho”. Nunca! Ele pode ficar triste! 

Estamos tristes, sim, querido Sanderson, mas ainda ouvimos firme a sua voz, que deixou impressa no tempo, para nos alegrar sempre. Vá em paz, em busca do seu maior amor no céu, onde o viu pela primeira vez.

Por aqui, vamos repetindo palavras com que nos brindou a todos, tatuadas na pele do mar: “Tenho a solidão/conhecida por altos príncipes/do azul.”

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

NATAL - 418 ANOS



25/12/2017  Parabéns Natal, pelos seus 418 anos! Fundada em 25 de dezembro de 1599 - NATAL, a Cidade do Sol e do sal; Terra dos Santos Reis; Esquina do Continente; Capital Espacial do Brasil; Trampolim da Vitória ou simplesmente Natal: das dunas, do rio, do mar. A capital do Rio Grande do Norte também tem como símbolo a sugestiva estrela de Belém, formato da Fortaleza dos Reis Magos, que “protege” a cidade, banhada pelas águas do Potengi e do Atlântico, e emoldurada de dunas por todos os lados.



FRATERNIDADE
 
Que me ajude o meu sangue árabe
Que me ajude o meu sangue judaico
Que me ajude o meu sangue europeu
Que me ajude o meu sangue africano
Que me ajude o meu sangue asiático
e aborígine
 
Que me ajudem todos os meus sangues
a construir a fraternidade universal
 
                                   (Horácio Paiva)

domingo, 24 de dezembro de 2017

ELE ESTÁ CHEGANDO


MENSAGEM NATALINA 2017

     Foi difícil preparar esta mensagem, pois justificar dificuldades não é o meu forte! Sempre vivi o clima natalino com perspectivas positivas, desde os tempos em que ainda recebia de Papai Noel os meus soldadinhos de chumbo.
    A magia dos presentes encobria o real sentido do Natal, a vinda do Cristo Salvador, que somente um pouco depois chegou à consciência. Hoje, infelizmente, sou forçado a pedir desculpas aos meus filhos, netos, afilhados e amigos por não lhes ofertar nenhum presente face os percalços da vida de um homem que sempre viveu do seu trabalho, não permitindo reservas para essas benesses.
    Este ano, mercê de uma administração incompetente em nosso Estado, vivemos o drama dos atrasos em nossos salários/vencimentos/proventos, o que implica na escassez de recursos para os tão esperados presentes. Contudo, não é motivo para o desespero, pois já preconiza o Livro Sagrado, no Eclesiastes, 3.1. – para tudo há um tempo certo. Este agora é de dificuldades e devemos aceitar os desígnios de Deus não desejando nenhum mal aos que nos causaram transtornos pelas ações distorcidas ou omissões irresponsáveis.
    Agora, mais do que nunca, devemos abraçar o Menino Deus, comemorando a alegoria festiva do seu nascimento, mas no íntimo da alma, apenas reconhecendo que é tempo de renovação da esperança de dias melhores, porque Ele é O Caminho, a Verdade e a Vida.
    Renovo nesta mensagem os votos para que JESUS seja o centro das nossas intenções, e o encontro da família se faça com saúde, paz e amor, augurando que em 2018 possamos recomeçar a luta por dias melhores para a humanidade.

FELIZ NATAL – PRÓSPERO ANO NOVO.

Carlos Roberto de Miranda Gomes


PAN Y LUZ

con lápiz invisible
describo en la oscuridad
lo que no veo

y puesto sobre la mesa
creo haber un pan
a la espera de la luz


PÃO E LUZ
com lápis invisível
descrevo na escuridão
o que não vejo

e posto sobre a mesa
creio haver um pão
à espera da luz


(Horácio Paiva)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

SÁBIOS CONSELHOS

Fernando Sabino, o conselheiro e suas listas





texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Não foi da corte de nenhuma realeza para receber título de conselheiro, na verdade os conselhos nem são assim seus propriamente dito, pegou emprestado, de tanto escutar, aprendeu e repassa. Mineiro que se carioquizou, fez-se romancista e está no panteão dos maiores cronistas brasileiros, divisando com Rubem Braga o ponto sublime, o cume da montanha.

Muitas dos conselhos que saíram em suas crônicas, é bom que logo se diga, e que deram nome a um dos seus livros, donde lhe entrevistamos, são fruto dos conselhos do velho pai, o seu Sabino. Desfrutem Fernando Sabino pelo viés dos seus conselhos, para depois cair nas listas.

Adora fazer listas. Listas de tudo que é coisa, pois toda coisa, parece, é passível de ser listada. Sétima entrevista da série entrevistas imaginadas, quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já disseram. O entrevistado da vez, como se disse, é cronista. Entrevistamos no volume de crônicas No fim da certo.

Entrevistador: falemos dos conselhos...  Sabino, o que são as coisas?
Fernando Sabino: São como são e não deveriam ser ou gostaríamos que elas fossem.

Entrevistador: E o que não tem solução?
FS: O que não tem solução, solucionado está, não adianta gastar boa vela com mau defunto.

Entrevistador: E as coisas mudam, conselheiro?
FS: Se mudou, é porque não deu certo!

Entrevistador: Para antes de entrar...
FS: Veja por onde sair!

Entrevistador: Um bom conselho?
FS: Faça somente o que gosta. Para isso, passe a gostar do que faz.

Entrevistador: a melhor forma de resolver um problema é...
FS: a única forma de resolver um problema é primeiro resolver o do outro.

Entrevistador: E no fim, dá certo?
FS: Se não deu, é porque você não chegou ao fim.

Entrevistador: E as listas?
FS: Tenho um fraco por listas. Listas de tudo: das pessoas simpáticas que conheço, ou das mais chatas; dos livros que gostaria de já ter lido; dos melhores filmes que já vi...

Entrevistador: E a aquela das pequenas coisas que o desagradam, tem o que?
FS:Tampa de pasta de dentes, roupa sob medida, comprar a prestação, retirar gelo da forma da geladeira, esperar o que quer que seja, até mesmo pagamento! Salas de espera, vento, buzina, luz florescente, motocicleta, copo de plástico, poema lido pelo artista, a frase “você está lembrando de mim?”

Entrevistador: e por que a implicância com a tampa da pasta de dente?
FS: porque ela escapole da mão, cai no ralo da pia e é uma desgraça tentar tirá-la...

Entrevistador: E das coisas que agradam?

FS: Dia de chuva sem precisar sair de casa, carta que não exige resposta, conseguir desfazer um compromisso sem precisar mentir, pagar a última prestação, a frase “está tudo pago”, chegar atrasado no teatro e o espetáculo não ter começado, a frase “tenho uma boa notícia para você”, cinema sem fila, descobrir que ainda é cedo, dá tempo de tomar mais um, sabonete novo, fazer lista das pequenas coisas que realmente agradam...

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

I H G R N - COMUNICADO DE ADIAMENTO DE FESTIVIDADE




ORMUZ BARBALHO SIMONETTI, Presidente do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, divulgou o seguinte comunicado aos seus associados, amigos e convidados, pedido de todos a devida compreensão:

Caros confrades, amigos e convidados. Em virtude da preocupante situação de falta de segurança que passa os cidadãos de nossa cidade, a Diretoria do IHGRN resolve adiar, por tempo indeterminado, a solenidade prevista para amanhã (quinta feira) 21 de dezembro de 2017. Oportunamente comunicarmos o dia que a solenidade será realizada.

LEMBRANDO SANDERSON NEGREIROS





    Conheci Sanderson quando 
ingressei na graduação em Direito 
na UFRN, na mesma turma de 
Ângela, sua esposa, que já 
era formada e estava fazendo 
o segundo curso. Ele era 
Chefe da Casa Civil do 
governo Tarcísio Maia.

 Acompanhava a mulher 
nas nossas confraternizações, 
que eram bem frequentes
 - e não só natalinas, como 
atualmente. Aí os nossos papos 
amiudavam, sobre cultura geral 
e “causos” que ele amealhou 
na vida acadêmica e nos 
cargos públicos que exerceu.

Tirava onda consigo, ao 
recordar que chamou o 
“vade mecum” de 
“quo vadis” nos primeiros 
tempos de faculdade. 
Misturou o bolor dos fóruns 
com a Sétima Arte, pela 
qual tinha maior predileção.

 Dizia-me da admiração 
profunda pelo irmão padre, 
Emerson, que foi vigário 
de Santa Cruz por muitos 
anos e para onde rumava 
em férias o seminarista 
Sanderson, balançado entre 
as virtudes sacerdotais e o 
apego à literatura laica. 
Findou vencendo o extra-muros 
do vetusto prédio curial 
da Av. Campos Sales. 
Consolidou-se a opção com 
a entrega de todo amor 
armazenado no 
coração-sentimento à 
doce Ângela, anjo da sua 
vida dali em diante. 
Em nova esquina da vida 
o destino nos marcou um 
encontro: pouco tempo 
depois de formados - 
um ano e meio, com precisão
 - eu e Ângela fomos 
aprovados em concurso 
e ingressamos na magistratura 
do Estado do Rio Grande do Norte.
Eu fui presidir a Comarca de 
Augusto Severo, miolo do 
Médio Oeste; ela foi judicar 
em Touros, linda praia onde 
os alísios curvam o continente. 
A cada jantar, a cada almoço, 
a cada solenidade, a cada 
celebração que a vida funcional 
nos proporcionava, eu sempre 
arranjava um jeito de sentar-me 
à mesa do poeta, para 
entre taças de vinho e 
garfadas generosas 
(ele era bom nessas 
duas ferramentas...), 
abastecer-me de saber e 
de bondade.
Certa feita dedicou uma 
noitada a explicar-me 
as virtudes da doutrina 
espírita e o sentido da 
eternidade;  do real valor 
da expressão “plano” no 
contexto kardecista. 
O aluno aqui, indo com mais 
frequência à taça do que 
ao garfo, perdeu as 
conclusões da aula, à 
medida que a sobriedade 
esfumou-se como o 
perfume da bebida.
 Mas juntei pedacinhos 
daqueles ensinamentos e 
montei, à minha maneira, 
a compreensão das 
vidas repetidas. Noutras 
jornadas expunha o seu 
desejo de estruturar em 
páginas uma novela que 
tinha prontinha na mente, 
ambientada no sertão 
cearense, cercanias de 
Pereiro, onde as pessoas 
deixavam um casarão 
histórico fechado e 
partiam para outras plagas 
e quando retornavam, 
anos adiante, encontravam 
tudo intacto - paredes, 
portas, teto, mobiliário, 
utensílios -, mas que se 
desmanchavam ao simples 
toque dos dedos, reduzindo-se a pó. 
As quadras se passavam 
e a cada encontro eu lhe 
cobrava a obra, obtendo 
a resposta gargalhada 
“ainda não”. Há poucos 
anos um abril chegou com 
a triste notícia da morte 
de Ângela. De logo vaticinei 
que em breve 
partiria Sanderson, 
independentemente do 
seu estado de saúde. 
E assim aconteceu. 
Não li, mas acredito que 
no registro do seu óbito, 
no espaço destinado à 
“causa mortis”, o oficial lançou a palavra “saudade”."


 



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

NOTÍCIA MUITO TRISTE PARA A CULTURA E PARA A SOCIEDADE POTIGUAR



Sem maiores detalhes, acabo de saber do falecimento do querido amigo SANDERSON NEGREIROS.



TEMPO DE NATAL
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO

O sonho da humanidade, através da história, era chegar aos umbrais da eternidade. O Natal abriu as portas do Infinito e convidou o homem a entrar. O nascimento de Cristo é resposta a essa aspiração à insaciável sede e saudade de Deus, de onde um dia viera. No Natal, o viandante sem rumo encontra casa. “Deus armou sua tenda entre nós” (Jo 1, 14). O Inacessível virou tangível. O Abstrato tornou-se concreto; o Espírito perfeito, matéria. Natal é assim. Encontro do Tudo com o nada. O Criador e a criatura se sentam num mesmo banco, falando idêntica língua: a perene linguagem do Amor. O Grande chamou o pequeno para dialogar. O Amor convocou o ódio para perdoar. A Bondade e a Misericórdia convidaram a mesquinhez para renunciar à existência. A Luz brilhou e ordenou às trevas que desaparecessem. O Poema Celeste vestiu-se de versos temporais e terrenos. Tudo isto, enfim, para que a criatura visse de perto seu Criador.       
“Inefável mistério de bondade”, exclamara Santo Agostinho. O Natal veio nos deixar um recado para sempre: Deus é agora companheiro do homem e este é metáfora do Divino. Em Cristo convergem o caminho descendente de Deus e a estrada ascendente do homem. É o Amor, que vem ao encontro da humanidade, “esvaziando-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se igual a nós, exceto no pecado” (Fl 2,7).
Quem haveria de acreditar que uma criança nascida num lugar ermo, de pastagem de animais e colocada num cocho, poderia ser Deus? O Menino do Presépio veio para entrar na manjedoura de cada ser humano, dando-lhe vida e sentido. O Eterno existe e caminha ao nosso lado. Conhecemos um Deus criança, inocente, solidário, vivo, em permanente comunicação conosco, iluminando nossa existência, transfigurando nossas dores e transformando a morte em passagem para a plenitude da vida.
A beleza do Natal convida-nos também a esquecer nossas divergências, desentendimentos e contendas, deixando de lado o que possa causar divisão. É um convite a encontrar Aquele que, com certeza, será capaz de unir, aumentar a paz e o espírito de concórdia, que brotam da Encarnação de Cristo. A reconciliação e o perdão são consequências da vinda do Filho de Deus entre nós. O Livro da Sabedoria já profetizava o nascimento de Jesus, Palavra divina e Luz infinita. “Quando a noite ia ao meio do seu curso e um silêncio profundo envolvia o universo, a tua palavra doce, serena, mansa e todo-poderosa desceu do seu trono real para a terra” (Sb 18, 14- 15). Na claridade das luzes que brilham na escuridão, sentimo-nos envolvidos pela presença de Deus que nos ilumina, seja para as coisas importantes ou as mais simples da vida. A cada ano, na “Missa do Galo”, vivenciamos a profecia de Isaías: “O povo viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9, 1).

Natal é a celebração do encontro entre o céu e o homem. Assim, o que é do Alto une-se ao que é da terra, e esta é iluminada por Deus. O Messias veio para “reconciliar em si todas as coisas, as da terra e as do céu”  (Ef 1,3-10). As festas natalinas emocionam os que têm fé ou a sensibilidade de um coração verdadeiramente humano. Quem não se comove, ao ouvir as narrativas bíblicas do nascimento de um Deus que se humanizou? Em textos diferentes, podemos nos encantar com a belíssima narração de Lucas, aquela plena de símbolos de Mateus e com o enunciado magistral de João. Quem não se vê naturalmente impulsionado à oração, diante de um presépio, ao contemplar o Menino-Jesus reclinado numa manjedoura, sob o olhar extasiado de Maria e José? Quem não se deixa enternecer ao sentir o silêncio da noite mais iluminada, quebrado pelos acordes angelicais, indescritíveis, suaves, como as canções de ninar? Mas, o Natal também é apelo por mudança interior. Cristo despojou-se humildemente de sua realeza e divindade. Vamos nos despir dos preconceitos, do egoísmo, da arrogância e agressividade. Natal é tempo de Paz e de Amor. Acolhamos o “Príncipe da Paz” (Is 9, 6). Que Ele nos abençoe e conceda um bom inverno!

domingo, 17 de dezembro de 2017

PARABÉNS AO IHGRN



ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO CIVIL

Senhor Presidente do IHGRN,

Encaminho a Vossa Senhoria, em anexo, a Promoção de Arquivamento do Inquérito Civil nº 06.2017.00005857-7(Notícia sobre dano ao patrimônio cultural, decorrente de obra no edifício do Instituto Histórico e Geográfico, Natal/RN), Informo, ainda, que até a data da análise do arquivamento pelo Egrégio Conselho Superior do Ministério Público(localizado na Rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, 97, Candelária, Natal/RN, Telefone: (84) 3232-5106; E-mail: csmp@mprn.mp.br), com prévia publicação da pauta no Diário Oficial do Estado, os interessados poderão apresentarem razões escritas e documentos para anexar aos autos.

Atenciosamente,

Paulo Bastos
Auxiliar do MPE, mat.: 199.451-4
Secretaria das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Natal/RN
Telefone: (84) 3232-7176; E-mail: 71pmj.natal@mprn.mp.br