terça-feira, 19 de dezembro de 2017


TEMPO DE NATAL
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO

O sonho da humanidade, através da história, era chegar aos umbrais da eternidade. O Natal abriu as portas do Infinito e convidou o homem a entrar. O nascimento de Cristo é resposta a essa aspiração à insaciável sede e saudade de Deus, de onde um dia viera. No Natal, o viandante sem rumo encontra casa. “Deus armou sua tenda entre nós” (Jo 1, 14). O Inacessível virou tangível. O Abstrato tornou-se concreto; o Espírito perfeito, matéria. Natal é assim. Encontro do Tudo com o nada. O Criador e a criatura se sentam num mesmo banco, falando idêntica língua: a perene linguagem do Amor. O Grande chamou o pequeno para dialogar. O Amor convocou o ódio para perdoar. A Bondade e a Misericórdia convidaram a mesquinhez para renunciar à existência. A Luz brilhou e ordenou às trevas que desaparecessem. O Poema Celeste vestiu-se de versos temporais e terrenos. Tudo isto, enfim, para que a criatura visse de perto seu Criador.       
“Inefável mistério de bondade”, exclamara Santo Agostinho. O Natal veio nos deixar um recado para sempre: Deus é agora companheiro do homem e este é metáfora do Divino. Em Cristo convergem o caminho descendente de Deus e a estrada ascendente do homem. É o Amor, que vem ao encontro da humanidade, “esvaziando-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se igual a nós, exceto no pecado” (Fl 2,7).
Quem haveria de acreditar que uma criança nascida num lugar ermo, de pastagem de animais e colocada num cocho, poderia ser Deus? O Menino do Presépio veio para entrar na manjedoura de cada ser humano, dando-lhe vida e sentido. O Eterno existe e caminha ao nosso lado. Conhecemos um Deus criança, inocente, solidário, vivo, em permanente comunicação conosco, iluminando nossa existência, transfigurando nossas dores e transformando a morte em passagem para a plenitude da vida.
A beleza do Natal convida-nos também a esquecer nossas divergências, desentendimentos e contendas, deixando de lado o que possa causar divisão. É um convite a encontrar Aquele que, com certeza, será capaz de unir, aumentar a paz e o espírito de concórdia, que brotam da Encarnação de Cristo. A reconciliação e o perdão são consequências da vinda do Filho de Deus entre nós. O Livro da Sabedoria já profetizava o nascimento de Jesus, Palavra divina e Luz infinita. “Quando a noite ia ao meio do seu curso e um silêncio profundo envolvia o universo, a tua palavra doce, serena, mansa e todo-poderosa desceu do seu trono real para a terra” (Sb 18, 14- 15). Na claridade das luzes que brilham na escuridão, sentimo-nos envolvidos pela presença de Deus que nos ilumina, seja para as coisas importantes ou as mais simples da vida. A cada ano, na “Missa do Galo”, vivenciamos a profecia de Isaías: “O povo viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9, 1).

Natal é a celebração do encontro entre o céu e o homem. Assim, o que é do Alto une-se ao que é da terra, e esta é iluminada por Deus. O Messias veio para “reconciliar em si todas as coisas, as da terra e as do céu”  (Ef 1,3-10). As festas natalinas emocionam os que têm fé ou a sensibilidade de um coração verdadeiramente humano. Quem não se comove, ao ouvir as narrativas bíblicas do nascimento de um Deus que se humanizou? Em textos diferentes, podemos nos encantar com a belíssima narração de Lucas, aquela plena de símbolos de Mateus e com o enunciado magistral de João. Quem não se vê naturalmente impulsionado à oração, diante de um presépio, ao contemplar o Menino-Jesus reclinado numa manjedoura, sob o olhar extasiado de Maria e José? Quem não se deixa enternecer ao sentir o silêncio da noite mais iluminada, quebrado pelos acordes angelicais, indescritíveis, suaves, como as canções de ninar? Mas, o Natal também é apelo por mudança interior. Cristo despojou-se humildemente de sua realeza e divindade. Vamos nos despir dos preconceitos, do egoísmo, da arrogância e agressividade. Natal é tempo de Paz e de Amor. Acolhamos o “Príncipe da Paz” (Is 9, 6). Que Ele nos abençoe e conceda um bom inverno!

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