Como Nobel em DNA descobriu
segredo impactante sobre sua genética
Cientista se sentia 'peixe fora
d'água em casa';
história de sua família
guardava dois segredos há mais de cinco décadas.
Da BBC
Publicdo na Globo.com/G1 - 02.07.2015
Paul Nurse recebeu Nobel em 2001 (Foto:
BBC)
Em 2001, o cientista britânico
Paul Nurse ganhou um prêmio Nobel por suas pesquisas sobre o papel do DNA na
divisão e na multiplicação celular. Anos depois, por acaso, faria descobertas
chocantes sobre sua própria genética. As revelações, no entanto, deixaram
lacunas que, até hoje, o cientista não preencheu.
Paul Nurse foi criado em Londres
em uma família sem muitos recursos ou inclinação para estudos. Seus irmãos, por
exemplo, todos deixaram a escola aos 15 anos. Ele conta que teve uma infância
feliz. Sentia-se, porém, um tanto solitário.
"Me sentia um pouco como um peixe
fora d'água. Sempre fui uma pessoa com facilidade para os estudos, acabei me
tornando um professor em Oxford, e o resto da família não era assim. E eu me
perguntava: o que explica isso? E, sendo um geneticista, prestava atenção a
essas diferenças", disse em entrevista ao programa Outlook, do Serviço Mundial
da BBC.
Trabalho de escola
revelou verdade
A primeira de duas descobertas do
cientista sobre suas origens ocorreu quando sua filha, Sarah, precisava fazer um
trabalho escolar sobre genealogia da família. Eles aproveitaram uma visita aos
pais de Nurse em uma cidade no nordeste da Inglaterra para que a menina
entrevistasse a avó.
"Ela chamou minha mãe para um
canto e começou a entrevistá-la. De repente, minha mãe volta branca como uma
folha de papel", lembra.
"A Sarah está me perguntando sobre
meus pais. Nunca lhe contei isso, mas sou, na verdade, uma filha ilegítima.
Minha mãe me teve com outra pessoa e se casou, posteriormente, com o homem que
me criou", disse a mãe de Paul.
E as revelações não pararam por
aí. O pai de Nurse tinha um histórico semelhante. Era filho de uma 'mãe
solteira' e não conhecia o próprio pai.
"Dois avós desconhecidos! Isso me
ajudava a explicar por que eu era tão diferente do resto da família. Talvez
tivesse herdado genes 'exóticos' desses avós! Como geneticista, me detive às
implicações disso pelos 20 anos seguintes", contou.
Mas a complicada história familiar
do cientista estava longe de ser desvendada por completo.
Nova
revelação
Há cerca de oito anos, quando
tentava tirar um green card (visto de residência permanente) para os Estados
Unidos, foi informado por autoridades imigração que seu pedido havia sido
rejeitado. "Levei um susto. Já tinha recebido um prêmio Nobel, era presidente de
uma universidade americana... Fiquei um tanto irritado, para falar a verdade",
disse.
O problema é que a versão resumida
de sua certidão de nascimento (algo comum na Grã-Bretanha) não continha o nome
de seus pais. "Já havia perguntado a meus pais por que tinha apenas essa versão
resumida. Me disseram que a completa era mais cara e eu aceitei a explicação",
disse.
Nurse precisou, então, pedir uma
certidão completa de nascimento em um cartório britânico. Quando o documento
chegou, teve sua segunda revelação.
"Tinha voltado de férias,
minha esposa estava ao meu lado. Minha secretária havia recebido o documento e
me perguntou: 'Paul, é possível que você tenha o nome de sua mãe errado?'.
'Claro que não', respondi.
"Ela olhou para mim e me
entregou o certificado. Silêncio absoluto. O nome escrito no campo da mãe era o
nome de minha irmã. Fique chocado, atônito", disse.
A pessoa que Paul acreditava ser
sua irmã era sua mãe biológica. "Achei que fosse um erro burocrático. Minha
irmã teria me levado para ser registrado e confundiram o nome. Então, olhei para
o campo do pai. Não havia nenhum nome, apenas um risco",
disse.
"Descobri que minha mãe ficou
grávida aos 17 anos e foi enviada para a casa de uma tia em Norwich, coisa de
livro vitoriano. Posteriormente, minha avó foi para lá e fingiu que o filho era
dela. Três meses depois, voltou comigo para Londres como seu filho. Nunca fui
oficialmente adotado", contou.
Apesar dessas duas reviravoltas em
sua história genética familiar, o cientista não conseguiu ir além na busca por
suas origens. Quando soube de sua verdadeira história, sua mãe biológica e seus
avós já haviam morrido. E seu irmãos tinha poucas recordações do
período.
"Sabemos apenas que mamãe sumiu
por alguns meses e voltou com um bebê", disseram.
"Eu me senti confuso. Quem era
meu pai? Me perguntava se minha mãe havia me revelado a identidade dele, ou pelo
menos alguma dica, em código. Fui atrás de alguns nomes que ela havia
mencionado, mas nada deu resultado. Tentei fazer conexões com o fato de ela
gostar de jazz, mas não consegui descobrir nada".
"Nasci em 1949 e imaginei que
pudesse ser fruto de uma relação com algum militar estrangeiro, mas não tenho
essas respostas", disse. "É uma grande ironia que eu, como geneticista,
não consiga essas respostas e tenha sido um segredo tão grande, por mais de 50
anos, sobre minhas próprias origens", disse.
"Penso sobre genes, sobre
genética e gostaria de saber quem é meu pai. Não carrego cicatrizes emocionais,
mas, sim, uma grande curiosidade", conclui.
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Colaboração de João Felipe da Trindade
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