VOZES DESQUALIFICADAS
Valério Mesquita*
Não
posso deixar de proclamar a minha aversão a frase medíocre de que “a voz do
povo é a voz de Deus”. Nem hoje, nem ontem e nem nunca será. O Antigo
Testamento está repleto de desobediências e chagas abertas. Todas punidas com
castigos pelo Deus decepcionado, apesar de misericordioso. Assim descrevem os
livros do Êxito, Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel, Reis, Esdras, Jeremias,
Daniel até o do último profeta, o Malaquias. O povo se deixava dominar por
demônios de baixa hierarquia. O Senhor sempre buscou um relacionamento mais
próximo com a humanidade, ao ponto de pessoalmente ter feito contato conosco ao
enviar a terra o seu filho Jesus Cristo. No Novo Testamento Ele disseminou o
amor, o perdão e a caridade, mas o povo que não detinha a voz do Pai o
crucificou. Essa assertiva banal jamais se coadunou com a espiritualidade. A
única voz de Deus está nas Escrituras.
Nos
dias de hoje ninguém é profeta. Todos se extinguiram e cumpriram a missão para
as quais foram escolhidos e ungidos por Deus. Não conheço nenhuma igreja hoje
que ostente em seus quadros figuras proféticas. E aí os arqueólogos, os
cientistas, os historiadores, os pesquisadores surgem com crendices para
assustar o mundo: “Ele vai acabar dia tal!”. Li a Bíblia toda e não vi nenhum
Maia. Conheço Lavô, Zé Agripino, João Maia, Galbê e muitos outros. Eles jamais
se propuseram a destruir coisa nenhuma.
O
mundo não vai acabar por morte natural (maremotos, terremotos, tsunamis, queda
de meteoros, choques planetários, como querem os ficcionistas). Vai ser por
suicídio, lento, gradual e inseguro. O seu povo, não ouvindo mais a voz de
Deus, destruiu o amor, a caridade, o romantismo, a ternura, o caráter, a
honestidade descendo, descendo direto a pior animalidade. Primeiro, não existem
mais interpretes e shows como antigamente. Bandas funk, de rock e rap
desmoralizam a música, o ritmo e a dança. Deseducam a juventude e picham a
arte, em nome de um falso modernismo. Em quem você pode confiar neste mundo?
Qual a classe laboral, política, social, confiável, porque o dinheiro muda
tudo. A humanidade não valoriza mais a árvore, a rua, o crepúsculo, os astros,
todo aquele cenário que a fez feliz e ela não sabia.
O
que se vê: gente demais, veículos em demasia, assaltos, assassinatos, perigo em
toda parte fazendo com que o ato de sair é o mesmo de não voltar. Esse
envilecimento do mundo velho, que somente fala em copa do mundo. A saúde, a
educação, a segurança, a mobilidade urbana, unicamente virão por causa dela,
por ela, para ela. O que Poder Público ganha, arrecada com o Carnatal, por
exemplo? Sei que é um evento privado, mas por que ele não destina ao Walfredo
Gurgel um percentual para atenuar a situação da pobreza que procura o hospital
ou o Varela Santiago? O mundo vai acabar pelo falecimento paulatino, predador e
putativo dos valores humanos omitidos e negados. O mundo vai se suicidar igual
a Judas Iscariotes.
Aos
que ainda acreditam no Cristo Jesus – Feliz Ano Novo!
(*) Escritor.
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