Minhas livrarias em Madrid (II)
Como eu disse aqui na semana passada, na primeira parte desta nossa conversa sobre as livrarias de Madrid, não só de livrarias tradicionais vive a região da Gran Vía/Callao/Puerta del Sol, a mais turística da capital espanhola. Ali estão também alguns estabelecimentos, como a enorme FENAC, a livraria do (ainda maior) “El Corte Inglés” e a “Vips”, que misturam a venda de livros com outros produtos de interesse do consumidor/turista típico.
Comecemos falando da FENAC que, também estabelecida no Brasil (em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outras importantes cidades do Sul/Sudeste do país), muita gente já conhece. De origem francesa, a proposta da FENAC, em termos gerais, é misturar, em uma só “megastore”, eletrônicos (produtos de som, imagem e informática), “games”, filmes, livros e outras coisitas mais. A FENAC que conheço em Madrid está localizada na famosa Calle Preciados, no número 28 (bem pertinho da estação de metrô Callao). Por sinal, em termos de livros, essa loja da FENAC em Madrid é bem melhor que sua congênere da Rue de Renne, em Paris, que, embora gigantesca, eu já critiquei aqui pela pobreza do acervo de livros em comparação com a seção de coisas de som, imagem e informática em geral. A FENAC da Calle Preciados é um ótimo programa, tanto para os antenados em “gadgets” como para os amantes de livros em especial. Ela fica aberta, de segunda a sábado, até às 22 horas.
Bem pertinho da FENAC, na mesma rua (Calle Preciados), só que já para as bandas da Puerta del Sol, fica a livraria do “El Corte Inglés”. Para quem não sabe, “El Corte Inglés” é uma enorme cadeia de lojas de departamento de origem espanhola. Vende de tudo, como se fosse uma mistura de Galerias Lafayette, C&A, Lojas Americanas e Carrefour. Tem bem mais de uma centena de lojas espalhadas pelas maiores cidades da Espanha (possuindo também, pelo que sei, lojas em Lisboa e no Porto, em Portugal). Para se ter uma ideia, seu faturamento é contado em bilhões de euros e ela conta com algo em torno de 100 mil empregados. A livraria a que me refiro faz parte do complexo do “El Corte Inglés” chamado “Centro Comercial Preciados-Callao”, que vai até a Puerta del Sol. É formado por cinco edifícios enormes. Embora se venda livros também no edifício localizado na Plaza de Callao, a livraria mais interessante, com acervo bem variado, fica no térreo do edifício do número 2 da Calle Preciados, já em frente à Puerta del Sol (portanto, se usar o metrô, descer na estação de mesmo nome). Facílima de achar, ela fica aberta até 22 horas, com a vantagem de que sua companheira, se não gostar livros, passará o dia todo entretida, sem reclamar, nas inúmeras outras “atrações”, culturais ou nem tanto, do “El Corte Inglés”.
Já no número 43 da conhecidíssima Gran Vía, não muito longe da Plaza de Callao em direção à Plaza de España, fica uma loja do restaurante/lanchonete/papelaria/livraria “Vips”. De fato, a “livraria” Vips é isso tudo que falei aí, talvez um pouco mais, junto e misturado. A proposta é ter um “point” aberto madrugada adentro, como local de convergência de notívagos em busca de alimentação ou entretenimento saudável (“Ler faz bem à saúde”, o Ministério do Bom Senso adverte). Suas lojas - e são dezenas em Madrid, por toda parte da cidade - ficam abertas o dia todo até coisa de três horas da manhã. Além da loja da Gran Vía, eu mesmo frequentei (ou melhor, frequentamos), nessa última estada em Madrid (em fins de março passado), duas outras ótimas lojas. De dia, uma loja no chique bairro de Salamanca, que fomos conhecer sem tirar a carteira do bolso, localizada, mais precisamente, no número 29 da Calle J. Ortega y Gasset (Metrô Velázquez ou Núñes de Balboa). De madrugada, fomos mais de uma vez à Vips da Calle Fuencarral, número 101 (Metrô Bilbao), bem pertinho do Hotel Ibis em que nos hospedamos quando chegamos à capital espanhola. Era sempre o nosso último suspiro nos “comes” e compras, depois de um dia todo de exaustivas caminhadas. A Vips, basicamente, vende um sortimento (bastante) limitado livros novos a preços promocionais (não é um sebo). Mas para quem gosta de perambular até tarde da noite e de economizar como eu, é um achado.
Por fim, antes de sairmos da região da Gran Vía/Callao/Puerta del Sol em busca de outras paragens de Madrid, vou dar uma informação. Mas só para os “profissionais”. Indo em direção sul, para além da Plaza Mayor, fica o chamado “Bairro das Letras” ou “Bairro dos Literatos”, um dos lugares mais agradáveis de Madrid para uma caminhada, onde viveram alguns dos grandes nomes no “Século de Ouro” da literatura espanhola, como Miguel de Cervantes (1547-1616), Lope de Vega (1562-1635), Luis de Góngora (1561-1627), Francisco de Quevedo (1580-1645) e por aí vai. O “Bairro das Letras” está cheio de livrarias e, sobretudo, de sebos, que ali são chamados, carinhosamente, de “librerías de viejo”. Uma das livrarias (de livros novos), por exemplo, é a interessantíssima “Librería Desnivel”, que fica no número 6 da Plaza Matute (metrô Antón Martín) e é especializada em viagens e aventura, onde podemos encontrar livros, guias, mapas, acessórios e tudo mais que um viajante/aventureiro quer ter na algibeira. Entretanto, o forte no “Bairro dos Literatos” são as “librerías de viejo” que, verdade seja dita, estão mais para “antiquários” de livros, voltados para os “bibliófilos”, do que para sebos do tipo que nós estamos acostumados aqui no Brasil. E é aí que o bicho pega. Comprar/colecionar livros antigos é um hobby ou uma “ciência” complicada e, sobretudo, cara, como descobri tanto lendo “La Cripta de Los Libros: Libreros de Viejo de Madrid” (de Peter Besas, publicado por Ediciones La Librería, 2012) como investigando in loco.
E como somos “amadores” nessa arte, deixemos o “Bairro das Letras” para trás e vamos, antes que alguém me acuse de haver esquecido o Direito, em busca das livrarias jurídicas. Na nossa próxima conversa, sem falta.
Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL Mestre em Direito pela PUC/SP |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário