IHGRN: 113 ANOS
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
O tempo é a dimensão da
mudança. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é o único
bem que ficará após tudo o mais passar. No dia 26 próximo vai completar 113
anos de fundação. Destaco o esforço de todos os colegas diretores. Não posso
olvidar deles o exemplo e a dedicação que tiveram em manter a guarda e a
segurança de tão valioso patrimônio. Agradecemos a colaboração dos confrades,
além da Fundação José Augusto, do Departamento Estadual de Imprensa, da
Fercomércio, da Fiern, do Sebrae, Prefeitura do Natal e da Assembleia
Legislativa. O prédio foi construído pelo governador Augusto Tavares de Lyra,
entre 1905 e 1906, na área nobre e histórica da cidade, vizinho à antiga catedral
metropolitana e ao Palácio Potengi erguido por outro conterrâneo, Alberto
Maranhão. Tem frentes tanto para a Rua da Conceição como para a Praça André de
Albuquerque. É um chão sagrado de antepassados. Bem próximo, está a Praça Padre
João Maria, hoje transformada num lastimável camelódromo. Ainda ali perto, o
Museu Café Filho, a primeira construção assobradada, ainda do período colonial.
E um pouco mais adiante, o sobradão clássico onde funcionou o Tesouro
Provincial, hoje Memorial Câmara Cascudo e o Convento Santo Antônio, todos
monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico. E com importância
político-administrativa estão cravados também nesse quadrilátero de ocorrências
históricas as sedes atuais dos Poderes Legislativo e Judiciário.
Venho encarecer a atenção
dos atuais governantes para os cuidados que essa contextura patrimonial,
histórica, turística, representa para Natal nos dias de hoje, quando a capital
será palco de assinalados eventos. Os prédios, as praças, a iluminação pública
ao derredor, necessitam de paisagismo compatível como berço da cidade dos Reis
Magos. Nesse território emocional e dominó de reminiscências inapagáveis
imperam o lixo, a predação, a escuridão, o abandono e a insegurança. Urge, para
essa área, um tratamento diferencial e seletivo de ressurreição de ambiente. E
o Instituto Histórico, pobre mas altivo, é o capataz dos mistérios
circundantes, há cento e treze anos – a completar no dia 29 de março. Ele
permanece como guardião do mais importante acervo histórico do estado. Agora, eu
indago, deve continuar abandonado? Ele detém a guarda de todas as leis e
decretos de governo de 1835 a 1952, documentos de demarcação de terras de 1615
a 1807, sesmarias de 1702 a 1716 e de 1748 a 1754. O livro de Barleus, no qual
Gaspar Van Barle descreve os oito anos do governo holandês de Maurício de
Nassau, de 1647, bíblias antigas, bibliotecas, mapas geográficos, objetos de
museus, versos, manuscritos e registros eclesiásticos, fotografias de
personagens da história política, social, cultural, jurídica e religiosa do Rio
Grande do Norte de cem a trezentos anos passados desde os períodos: colonial,
imperial e republicano. É urgente fazermos a digitalização documental, a
climatização da sua sede, após ter sido já concluída a restauração da rede
elétrica interna e a recuperação física do imóvel.
Não existe outra
maneira de salvar tudo sem o apoio resoluto dos órgãos governamentais, das
instituições privadas e da sociedade de modo geral. Esse patrimônio que estamos
guardando, protegendo, é público, é da história, é do povo do Rio Grande do
Norte. Tornou-se, um imperativo inadiável, a digitalização do seu acervo. Vamos
bater a sua porta. Ajude-nos!
(*) Escritor.
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