sexta-feira, 27 de março de 2015

GUGA



                    O menino, o barquinho e a música

AUGUSTO COELHO LEAL, sócio efetivo do IHGRN
                Acordei pela madrugada, o televisor estava ligado em um dos canais telecine, e no filme um garotinho brincando em um lago com um barquinho. Lembrei-me da minha infância, do meu barquinho que tanto eu gostava de brincar e imaginava ele sendo comandado por Janjão, Gonzaga ou Ferrinho, barqueiros da velha Redinha.

                Veio a lembrança do barquinho a vela, brincando nos tanques da Praça Pedro Velho. Para quem não conheceu, a praça fica ainda hoje no bairro de Petrópolis, entre as Avenidas Prudente de Morais e Floriano Peixoto e as Ruas Trairi e Potengi.  Bem arborizada, os pés de fícus cortados em forma de objetos ou animais, calçadas e bancos para passeios dos transeuntes e vários fotógrafos que “batiam fotos” principalmente dos casais de namorados, ou famílias.

                Lembrei-me dos amigos, Ivanildo Lins, Flávio Azevedo, Franklin Nunes, Paulo Hunka e Boris Siqueira, esse último o mais brigão (todos eram) e quando seu barco perdia a corrida, ele queria brigar. A disputa era nos tanques da praça, interrompidas pela brutalidade do administrador que todos conheciam por Pacheco. O Tempo passou, alguns amigos distantes, outros morreram, ficou a lembrança daquela época. Lembrei-me da música de Oswaldo Montenegro – A lista – que tem trechos muito significativos para mim.

                “Faça uma lista de grandes amigos/ Quem você mais via há dez anos atrás/ Quantos você ainda vê todo dia/ Quantos você já não encontra mais/ Faça uma lista dos sonhos que tinha/ Quantos você desistiu de sonhar!”

                Comecei a pensar nos grandes amigos da infância e da juventude e quantos já não vejo mais, uns estão distantes outros morreram e entre eles, lembrei-me de João Rodrigues Barbosa (Joca), Eduardo Barbosa, Aldemir Guerreiro Vilar de Mello, Aldacir Guerreiro Vilar de Mello, Ivan leite, Maurício Coelho Maia, Eduardo Pinheiro de Moura, Carlos Alexandre Dumaresq, Ivan Lins, Alcio Suassuna, Klaus Nóbrega, Emanoel Dantas Ribeiro, João Batista Ribeiro.

                Quem você mais via há dez anos atrás/ Quantos você ainda vê todo dia/ Quantos você já não encontra mais/ Quantos segredos que você guardava/ Hoje são bobos ninguém quer saber/ Quantas pessoas que você amava/ Hoje acredita que amam você.”

O tempo passou, vejo poucos amigos hoje daquela época. Alguns que tinha como bons amigos (não sei se eram) por estupidez, ou presença do “vírus” da Alzheimer cortaram o contato e depois de velhos esqueceram-se da amizade surgida dentro da casa dos nossos pais, amizade construídas nos colégios, nas peladas de rua, nos jogos de botões, das brincadeiras de ruas, das noites boemias, da época da faculdade. Infelizmente algumas pessoas envelhecem e perdem a noção de humildade, acham que por conta de uma posição alçada na vida vale muito mais do que a velha amizade. Mas são coisas da vida.

Segredos já não os tenho, minha vida é um livro aberto, mesmo porque os que tinha, são na verdade bobos e não interessa a ninguém. As pessoas que eu amava, aumentaram na minha lista da velhice.

Mas o barquinho me levou ao passado, aos velhos colégios, Sete de Setembro e Atheneu, ao velho time de basquete do Santa Cruz, treinado pelos irmãos, Cristalino e Oscar Fernandes, e também por Décio Holanda. As reuniões à noite embaixo dos postes principalmente em frente ao Cine Rio Grande e na esquina da Rua Mossoró e Avenida Prudente de Morais. Aos desfiles escolares no dia 7 de setembro, aos jogos escolares, as disputas dos jogos de vôlei, basquete e futebol de salão no Ginásio Sylvio Pedrosa ou Djalma Maranhão, dos banhos de mar nas praias do Forte, Artista e Areia Preta. Dos veraneios na Redinha, nesse tempo Ridinha, praia de Ponta Negra e as praias de Pirangi. As matinês nos clubes America, ABC, Aero Clube, Atlântico. Levar a namorada ao Cine Rio Grande, ou aos cinemas Rex ou Nordeste, depois um “lanche” nas sorveterias Kixou ou Oásis, no Bar Dia e Noite que também era palco de encontros dos boêmios pelas madrugadas, A Confeitaria Mirim, de João da Mirim na Rua João Pessoa também muito visitada pela minha geração de jovens ou ainda criança.

Já depois dos dezoito anos, éramos liberados para freqüentar os bares. A Palhoça, Confeitaria Cisne, Granada Bar, Nemésio, Confeitaria Atheneu, Postinho, Iara Bar, É Nosso, Caindão, eram os mais visitados. Desses apenas a Confeitaria Atheneu resiste ao tempo.

“E o barquinho ao coração deslizando na canção/ Tudo isso é paz, tudo isso traz/ Uma calma de verão e então.”



           












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