O
menino, o barquinho e a música
AUGUSTO COELHO LEAL, sócio efetivo do IHGRN
AUGUSTO COELHO LEAL, sócio efetivo do IHGRN
Acordei
pela madrugada, o televisor estava ligado em um dos canais telecine, e no filme
um garotinho brincando em um lago com um barquinho. Lembrei-me da minha
infância, do meu barquinho que tanto eu gostava de brincar e imaginava ele sendo
comandado por Janjão, Gonzaga ou Ferrinho, barqueiros da velha Redinha.
Veio
a lembrança do barquinho a vela, brincando nos tanques da Praça Pedro Velho.
Para quem não conheceu, a praça fica ainda hoje no bairro de Petrópolis, entre
as Avenidas Prudente de Morais e Floriano Peixoto e as Ruas Trairi e Potengi. Bem arborizada, os pés de fícus cortados em
forma de objetos ou animais, calçadas e bancos para passeios dos transeuntes e
vários fotógrafos que “batiam fotos” principalmente dos casais de namorados, ou
famílias.
Lembrei-me
dos amigos, Ivanildo Lins, Flávio Azevedo, Franklin Nunes, Paulo Hunka e Boris
Siqueira, esse último o mais brigão (todos eram) e quando seu barco perdia a
corrida, ele queria brigar. A disputa era nos tanques da praça, interrompidas
pela brutalidade do administrador que todos conheciam por Pacheco. O Tempo
passou, alguns amigos distantes, outros morreram, ficou a lembrança daquela
época. Lembrei-me da música de Oswaldo Montenegro – A lista – que tem trechos
muito significativos para mim.
“Faça uma lista de grandes amigos/ Quem você
mais via há dez anos atrás/ Quantos você ainda vê todo dia/ Quantos você já não
encontra mais/ Faça uma lista dos sonhos que tinha/ Quantos você desistiu de
sonhar!”
Comecei a
pensar nos grandes amigos da infância e da juventude e quantos já não vejo
mais, uns estão distantes outros morreram e entre eles, lembrei-me de João
Rodrigues Barbosa (Joca), Eduardo Barbosa, Aldemir Guerreiro Vilar de Mello,
Aldacir Guerreiro Vilar de Mello, Ivan leite, Maurício Coelho Maia, Eduardo
Pinheiro de Moura, Carlos Alexandre Dumaresq, Ivan Lins, Alcio Suassuna, Klaus Nóbrega,
Emanoel Dantas Ribeiro, João Batista Ribeiro.
“Quem você
mais via há dez anos atrás/ Quantos você ainda vê todo dia/ Quantos você já não
encontra mais/ Quantos segredos que você guardava/ Hoje são bobos ninguém quer
saber/ Quantas pessoas que você amava/ Hoje acredita que amam você.”
O tempo
passou, vejo poucos amigos hoje daquela época. Alguns que tinha como bons
amigos (não sei se eram) por estupidez, ou presença do “vírus” da Alzheimer
cortaram o contato e depois de velhos esqueceram-se da amizade surgida dentro
da casa dos nossos pais, amizade construídas nos colégios, nas peladas de rua,
nos jogos de botões, das brincadeiras de ruas, das noites boemias, da época da
faculdade. Infelizmente algumas pessoas envelhecem e perdem a noção de
humildade, acham que por conta de uma posição alçada na vida vale muito mais do
que a velha amizade. Mas são coisas da vida.
Segredos
já não os tenho, minha vida é um livro aberto, mesmo porque os que tinha, são
na verdade bobos e não interessa a ninguém. As pessoas que eu amava, aumentaram
na minha lista da velhice.
Mas o
barquinho me levou ao passado, aos velhos colégios, Sete de Setembro e Atheneu,
ao velho time de basquete do Santa Cruz, treinado pelos irmãos, Cristalino e
Oscar Fernandes, e também por Décio Holanda. As reuniões à noite embaixo dos
postes principalmente em frente ao Cine Rio Grande e na esquina da Rua Mossoró
e Avenida Prudente de Morais. Aos desfiles escolares no dia 7 de setembro, aos
jogos escolares, as disputas dos jogos de vôlei, basquete e futebol de salão no
Ginásio Sylvio Pedrosa ou Djalma Maranhão, dos banhos de mar nas praias do
Forte, Artista e Areia Preta. Dos veraneios na Redinha, nesse tempo Ridinha,
praia de Ponta Negra e as praias de Pirangi. As matinês nos clubes America,
ABC, Aero Clube, Atlântico. Levar a namorada ao Cine Rio Grande, ou aos cinemas
Rex ou Nordeste, depois um “lanche” nas sorveterias Kixou ou Oásis, no Bar Dia
e Noite que também era palco de encontros dos boêmios pelas madrugadas, A
Confeitaria Mirim, de João da Mirim na Rua João Pessoa também muito visitada
pela minha geração de jovens ou ainda criança.
Já depois
dos dezoito anos, éramos liberados para freqüentar os bares. A Palhoça,
Confeitaria Cisne, Granada Bar, Nemésio, Confeitaria Atheneu, Postinho, Iara
Bar, É Nosso, Caindão, eram os mais visitados. Desses apenas a Confeitaria
Atheneu resiste ao tempo.
“E o barquinho ao coração deslizando na canção/ Tudo isso é paz, tudo isso
traz/ Uma calma de verão e então.”
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