sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SAUDOSO AMIGO PAULO MAUX


Passageiro da alegria. É desse modo que amigos e familiares
definem o carnavalesco Paulo da Silva Maux (1934 – 1984), o
eterno Rei Momo de Natal. Nascido no Recife, Sua Majestade
Paulo Maux, desde muito cedo, esquentou os pés nos álacres salões da
Veneza brasileira, antes de se mudar com a família para Natal em 1945,
então, com 11 anos de idade.
Uma vez na cidade dos Reis Magos, estudou no colégio Marista, mas
não fugiu ao destino, convidado que foi pelo ex-prefeito Djalma
Maranhão, em 1960, para assumir a vaga de Rei Momo. Foi recordista
de mandatos, tendo recebido a chave da cidade por 18 anos consecutivos,
de 1960 a 1978, para felicidade geral de Natal e do sempre concorrente
Severino Galvão, que via no reinado oficial de Paulo Maux
oportunidade de instalar o seu necessário gabinete paralelo. A rivalidade
entre os monarcas durou décadas a fio.
A viúva Elba Maux conta que o ex-Rei Momo prestigiava todos os
bailes e clubes da cidade, do mais sofisticado ao mais humilde, inclusive
os famosos cabarés de Maria Boa e da Francesinha. À chegada de Paulo
Maux, o corneteiro Marimbondo, da Polícia Militar, anunciava a presença
do soberano tocando o seu instrumento de sopro. Paulo Maux
também marcava presença no ensaio geral das escolas de samba e tribos
de índios, além de receber todos os blocos de elite em casa em assaltos
memoráveis. “Eu o acompanhava para todo canto”, declara Elba Maux,
com uma pontinha de orgulho.
Dona Elba revela ainda que, no carnaval de certo clube da cidade,
uma foliã mais assanhada sentou no colo do Rei Momo, no que foi
rechaçada prontamente com a ameaça de uma garrafada. Fatos
pitorescos envolvendo Paulo Maux foram muitos. Muitíssimos. Outro
ocorreu no América FC, onde o Rei Momo, ao apartar peleja envolvendo
dois filhos de influente político do Estado, foi jogado pela janela
do clube alvirubro, quebrando o braço. Na época, a sede do América
FC funcionava na rua Maxaranguape, Tirol.
Em um dos carnavais no clube Cobana, Paulo Maux foi atirado na
piscina sem saber nadar. De outra feita, o palanque oficial armado na
esquina da avenida Deodoro com a rua João Pessoa cedeu. A preocupação
com a integridade física do Rei Momo – que chegou a pesar 184
quilos - foi geral, mas, graças aos deuses romanos da folia, o monarca
já houvera descido com o prefeito Djalma Maranhão. Isto sem falar
nos trotes que o rival Severino Galvão promovia, telefonando para o pai
de Paulo Maux e (mal) informando que o Rei Momo caíra do trio elétrico,
deixando toda a família aflita.
Na vida real, foi comerciário da Suerdieck, funcionário do Banco do
Povo, agente da rodoviária Dom Vital e servidor da Cida. Carismático
e popular, soberano das multidões, Paulo Maux marcou o seu longo
reinado aspergindo alegria por todos os quadrantes e contagiando a
população com sua simpatia.
A paixão pelo carnaval ficou patente no poético texto que deixou às
gerações passadas, presentes e futuras: “Eu sou o carnaval da província.
Carnaval feito numa esquina de mar, na terra dos Reis Magos. Aqui,
como em outros lugares, também nasci da tristeza do povo, do seu
cansaço pelas coisas reguladas do dia-a-dia, dos seus sofrimentos, dos
seus sonhos; mas quando me entregam a cidade, menino, ofereço a cada
um semovente uma máscara colorida de alegria. A coisa muda de
imagem e há uma explosão de sentimentos presos, doidos por feliciPaulo
Maux com a Rainha do Carnaval dos anos 60 dade”. Paulo Maux 
nasceu para brilhar e ser feliz. (PJD).
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A República - Suplemento - Fev. 2005

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