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Vi muitos cristãos
dignos portadores de muita fé em Jesus se esbaldando numa bela festa pagã ao ir
verificar a abertura do Carnaval de Natal, Rio Grande do Norte, na noite desta
quinta-feira, 12, ontem, em frente ao legendário Colégio Estadual do Atheneu.
Sintonizados com a proposta a partir do nome do evento, “Baile de Máscaras”,
encontrei muitos católicos e espíritas e alguns amigos evangélicos paramentados
como recomendava o figurino, circulando, conversando e brincando, muitos
dançando euforicamente ao som de uma ótima orquestra recifense de frevo.
Ao vê-los, achei
maravilhoso o fato de ninguém se constranger como quem é apanhado em erro, crime
ou pecado. Pelo contrário! Os cumprimentos foram efusivos, os sorrisos
mostravam mais do que lhaneza, revelavam largueza de espírito e a paz de quem,
sem abdicar de sua fé, sentia-se bem numa festa pagã que tem tudo a ver com
alma do povo brasileiro.
Talvez algum purista
ou fariseu de ocasião eleve sua voz em detrimento desses foliões especiais,
decerto condenando-os pela efusiva participação em festa pagã que procura
devolver ao destino turístico de minha terra o Carnaval que já lhe foi marcante
e se perdeu há uns 25, trinta anos, por motivos que fogem à preocupação que
motiva estas linhas. Eu, porém, longe de criticá-los, incentivo-os a se
divertir nestes três, quatro ou cinco dias dedicados ao Rei Momo, convicto de
que tal participação jamais lhes arrancará um grama de fé ou os afastará da
prática da Caridade ensinada pelo Cordeiro do Senhor.
Leigo, provavelmente
me faltaria, porém, a capacidade de argumentar em defesa da integração de
católicos praticantes, Testemunhas de Jeová e trabalhadores Espíritas - entre
os quais alguns ótimos médiuns que encontrei ontem pulando carnaval nas
proximidades da Confeitaria Atheneu – na festa pagã cujo nome original denuncia
o peso da carne em sua concepção.
Recorro, para isto, a
um depoimento maravilhoso de um dos mais credenciados agentes de Cristo que o
Brasil já conheceu, o grande Dom Helder Câmara, para quem o Carnaval é a
alegria popular numa terra de poucas motivações para se festejar.
Disse o legendário
sacerdote que de cearense virou destacado cidadão do mundo:
“Carnaval é a alegria
popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para minha gente
querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante do
farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por
não brincar o carnaval. Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima, é
verdade que na quarta-feira a luta recomeça, mas, ao menos, se pôs um pouco de
sonho na realidade dura da vida”.
Algumas vezes
indicado para ser um pioneiro latino-americano a receber o Prêmio Nobel da Paz,
Dom Helder tinha autoridade espiritual, intelectual e moral para analisar tão
conciliatoriamente a postura Cristã e a festa pagã que tem sido um grande bem
intangível, imaterial patrimônio democrático do povo brasileiro. Seu admirador
desde a mais tenra idade, assinaria, se necessário, embaixo desta apreciação do
sacerdote. Mas não é o caso. Basta-me pedir que todos os que possuem fé e não
brinca a conciliem com a visão de outros portadores de fé que neste período se
irmanam de forma muito própria a terceiros numa comemoração que mexe com a vida
de todo o país.
Peço a todos e a cada
um amigo e irmão internauta de fé que pensem na necessidade desta ação
conciliatória não apenas nesta sexta-feira, 13, a Gorda de 2015, mas durante
todo o Carnaval e mesmo depois dele, em vez de procurar ser juiz e carrasco
deste ou daquele folião.
E que Deus
proporcione a todos, aos que brincarão e aos que não brincarão no carnaval
deste ano, o melhor de que se possa desfrutar no período, inclusive a
conscientização lembrada por Dom Helder quanto a depois da terça-feira 17: na
quarta-feira de cinzas, com a luta pela sobrevivência, teremos novas
oportunidades para exercitarmos na prática do amor, do perdão, da fé, da
benevolência e principalmente da fé, o imenso potencial de nossa
espiritualidade.
Que Nosso Pai nos dê
uma ótima sexta-feira, um ótimo fim de semana e um extraordinariamente bom
carnaval.
Assim seja.
Roberto Guedes da Fonseca,
em Parnamirim, RN, madrugada de 13 de fevereiro de 2015. |
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