Água, Crise e Caos Antecipado
Francisco de Sales Matos
Prof UFRN e Procurador do Estado
Como reiteradamente dito, enquanto tento dar
prosseguimento aos trabalhos indenizatórios das terras a serem alcançadas pela
bacia hidráulica da Barragem Oiticica aflora, timidamente, um debate sobre
restrição do uso de águas para irrigação no Sistema Piranhas-Açu. O fato é que
nunca a história hídrica brasileira viveu tão criticamente. Somos o maior
potencial hídrico do Planeta e corremos o risco de chegar 2015 com problemas de
abastecimento de água em mais da metade dos municípios, ou seja, quase três mil
municípios. A título de ilustração, já que estou vivendo no epicentro dessa
realidade, a região do Seridó, vejo os maiores mananciais da região secando. E
quem diria São Paulo, hein, campeão de desperdício de água, vivendo
perigosamente?
Assim, igualmente, vivem os nossos mananciais.
O Itans, em Caicó, com menos de 10% do seu volume hídrico e o Gargalheiras, que
abastece Currais Novos, por volta de 6%. E o pior, nesse estágio último a água
já não presta para consumo humano porque fétida e doentia; nem mesmo para
dessedentação animal prestam. Entrando em colapso o Itans, entra em colapso o
abastecimento d´água de Caicó, um município pólo que hoje agrega mais de 100
mil habitantes. A propósito, Currais Novos já entrou em colapso de
abastecimento de água e Jucurutu, que só não entrou ainda em homenagem a uma
ensecadeira construída para viabilizar a concretagem do maciço da Barragem
Oiticica e, também, uma adutora de engate rápido, quebra galho, que montaram às
pressas. Esta é uma carreira e uma queda, como diz o nosso sábio sertanejo.
Não poderia deixar de observar que institucionalmente as providências para enfrentamento do problema são as mais tímidas e desproporcionais possíveis. A Agência Nacional de Água – ANA, editou a Resolução nº 641, de abril de 2014, estabelecendo regras de restrição de uso para as captações de águas com finalidades de irrigação e aqüicultura, localizadas nos corpos hídricos denominados Açude Coremas, Mãe d´Água, Piancó (a jusante do barramento do Açude Coremas) e Rio Piranhas-Açu, no trecho compreendido entre a confluência com o Rio Piancó e o Açude Armando Ribeiro Gonçalves; e, por fim, o Itans, em Caicó. A determinação deveu-se à “drástica redução” do nível do Rio Piranhas nas proximidades do município de Jardim de Piranhas, aqui no Rio Grande do Norte, que prejudicou o abastecimento de 80 mil habitantes das cidades de Potiguares de Jardim de Piranhas, São Fernando e Tibaúba dos Batistas.
Não poderia deixar de observar que institucionalmente as providências para enfrentamento do problema são as mais tímidas e desproporcionais possíveis. A Agência Nacional de Água – ANA, editou a Resolução nº 641, de abril de 2014, estabelecendo regras de restrição de uso para as captações de águas com finalidades de irrigação e aqüicultura, localizadas nos corpos hídricos denominados Açude Coremas, Mãe d´Água, Piancó (a jusante do barramento do Açude Coremas) e Rio Piranhas-Açu, no trecho compreendido entre a confluência com o Rio Piancó e o Açude Armando Ribeiro Gonçalves; e, por fim, o Itans, em Caicó. A determinação deveu-se à “drástica redução” do nível do Rio Piranhas nas proximidades do município de Jardim de Piranhas, aqui no Rio Grande do Norte, que prejudicou o abastecimento de 80 mil habitantes das cidades de Potiguares de Jardim de Piranhas, São Fernando e Tibaúba dos Batistas.
O que ocorre é que a Resolução da ANA, como
verberou um agricultor da Região, é igual a peito em homem: não serve pra nada.
Ninguém obedece. Com sede em Brasília, sem estrutura nos estados, não há como
dá efetividade à norma. Com isto os ricos, poderosos, que influenciam e
determinam a política, se dão ao luxo de utilizar quase toda água para suas atividades
produtivas (ou não), tais como irrigação, piscicultura, abastecimento de seus
açudes, etc, inclusive detonando seus canhões de irrigação em plena luz do dia,
quando a evaporação diminui em muito o aproveitamento hídrico (leia-se,
desperdício), sem serem de qualquer modo importunados. E o pior, ou melhor, é
que os pequenos produtores, aqueles que vivem na terra e dela tiram o sustento,
tem procurado cumprir e seguir as orientações normativas da ANA, mesmo sem
qualquer fiscalização que lhes imponha tal dever.
Na verdade, o dono do maior potencial hídrico
do planeta, se encontra diante de um caos hídrico, pode? Consoante diagnóstico
que nos fornece o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, lançado pela
ANA. “A maior parte dos problemas de abastecimento urbano do país está
relacionada com a capacidade dos sistemas de produção, impondo alternativas
técnicas para a ampliação das unidades de captação, adução e tratamento”,
aponta o relatório. Mas, o fato é que produzimos as mazelas necessárias para tal:
depredamos as matas ciliares, provocamos o assoreamento dos rios, tornamos os
álveos dos rios condutos de esgotos in natura, praticamos a cultura do
desperdício das águas.
E, por último, não poderia deixar de registrar, já que estamos em período de campanha política, que não vi os candidatos, em todos os níveis, destacar em suas falas preocupações compatíveis com questão tão séria, a não ser demagógica e pontualmente. Enfim, antecipamos o caos hídrico e rogamos a Deus para que ele não se instaure definitivamente.
E, por último, não poderia deixar de registrar, já que estamos em período de campanha política, que não vi os candidatos, em todos os níveis, destacar em suas falas preocupações compatíveis com questão tão séria, a não ser demagógica e pontualmente. Enfim, antecipamos o caos hídrico e rogamos a Deus para que ele não se instaure definitivamente.
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