domingo, 22 de junho de 2014

POETAS DAS TERRAS DOS CANAVIAIS



EU SOU UM RIO QUE PASSA
Sussurrando a melodia das águas
E carregando vestígios de lua e sol.
Eu sou um rio que passa
Lambendo as beiradas dos muros
Das vegetações luminosas
Reluzinho no seu espelho d´água
Num bordado de reflexos verdes
Riscando vales e planícies.
Sou um caminho de águas perfumadas
Beijando a sombra das nuvens
Correndo nas curvas dos caminhos
Sob o olhar das árvores
E onde os pássaros saciam sua sede!
Eu sou um rio que passa na corredeira da poesia
E descansa, à sombra dos arbustos espalhados
Onde o sol desmaia o seu ouro,
Onde a lua cospe seus lumes
E as estrelas abortam flores esmaecidas.
Sou o canto da cigarra ao pé do arvoredo
E consigo gemer sem deixar a dor me ferir
E calo o grito fundo que dói na alma
Desse meu rio que passa
E leva estradas de chegadas...
Sou um beija-flor perdido,
Tonto de luz no mistério da manhã
Onde a música amanhece ensurdecedora
No coro dos anjos das florestas...

Enquanto o rio segue orquestrando melodias!
Eu quero o meu rio de infância,
Meus olheiros perfumados,
Minhas raízes fincadas no húmus de cada rio
Que segue rolando na estrada
Onde a ilusão serpenteia alegrias
Na alegoria do carnaval de minhas poesias...
Eu sou um rio que passa!
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Lúcia Helena Pereira
(Poetisa das Flores)
De Ceará-Mirim
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ODE BRANDEMBURGO
Ciro José Tavares.
São os teus mágicos portais, senhora de Brandemburgo,
que me convidam  atravessá-los e a ficar  preso no coração.
A tibieza dos passos indica o temor de avançar ao teu encontro.
No interior do templo de Diana, comandas sentimentos.
Estás submersa nos mistérios e neles pressinto
os goles trágicos da dor e da saudade quando derramas
tuas madeixas de ouro sobre o frio  mármore dos altares.
Queres que seja eu cativo dos teus alvos braços alongados,
a ave apaixonada suspensa na fragilidade dos teus dedos.
Deixa-me refletir, senhora de Brandemburgo, se devo cruzá-los
antes que eu saiba se o tempo esgotou o resto de minh´alma
e que fiquem abertos até que como aurora eu amanheça em ti.
O que sabes de mim? Dos sonhos, do passado, das andanças?
Muito pouco ou quase nada. Venho das lendas de Camelot,
onde é sempre primavera, o sol brilha forte e não se põe.
Recebi asas de Mab para voar aos castelos do Moselle e do Loire.
Nas margens do Reno cavalguei Grani e desafiei os nibelungos.
Ouvi o tropel dos cavalos das Valquírias, sepultei Siegfried, beijei
as louras melenas de Brunilde e vi o crepúsculo dos deuses.
Chorei toda uma tarde pelas mortes de Isolda e de Tristão.
Atraído por paixão inesperada abandonei a bela Guenevere
e como Tanhäuser o Santo Pontífice jamais me perdoou.
Hoje, Senhora de Brandemburgo, diante de ti venho fatigado
revelar todos os  erros e derrotas na impaciência das noites.
Abre os mágicos portais, quero lavar-me na pureza do teu corpo,
Sem medos de ser definitivo na distância, na dor e na saudade.
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                                   RONDÓ
                        Ciro José Tavares.
            “É a tua tristeza o que antiquíssimas estrelas

            Dançando com sandálias de prata sobre o mar,

            Cantam em sua alta e solitária melodia.”

            W. Yeats, in À Rosa na Cruz do Tempo.

            Ah!  Musa divina que solitária  habitas
            estrela nascente de constelação inatingível.
            Apenas tu sabes da adônica paixão que me domina.
            Alongo-me total  para inexistir distância entre nós dois e peço
            Que doída atravesses meu doído corpo e venhas
            ao meu encontro inspirar minha canção.
            Não tardes musa dos sonhos quero sentir
 o aroma de dálias e rosas desprendido do louro acobertado
 pelo azul  celeste da tua túnica inconsútil.
 Desejo embriagar-me dos teus beijos e neles ser eterno,
 ao beber na taça dos teus lábios de romã o néctar dos deuses.
 Amanhã, musa estelar, ao voltares à amplidão do universo,
 antes que eu me afogue na tristeza da ausência,
 leva-me na ternura das mãos entrelaçadas
e frente ao tempo e ao espaço hás de ser  poema irresgatável.
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            DESPEDIDA
                        Ciro José Tavares.

            No fim da madrugada veio e despediu-se,
            a claridade de miríades de acesos candelabros.
            Por uma fração de segundos aquietei-me nos Seus raios
            que sumiram quando corri à janela para abraçá-la   e falar de amor.
            Ressentido gritei para que deuses escutassem:
            Foges de mim, Selene porque tens medo. Não queres a revelação
            da enlouquecida e tardia paixão do teu poeta solitário.
            Amanhã serás quarto minguante, no escuro do céu abandonada,
            como se fosses uma cimitarra suspensa na tristeza.
            Ainda assim seguirei esquecido amante dos mistérios,
            até voltares plenilúnio, explosão de luz de acessos candelabros
            a mostrar sombras silenciosas dos teus mares inalcançáveis.
           
 

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