O preço da Liberdade
(*) Rinaldo Barros
Hoje, acordei mais triste do que o normal. Estou
assuntando sobre o significado do mal no mundo.
Este
é, na verdade, um alerta para o disfarce sob o qual o fascismo, diabolicamente,
tenta ressurgir.
Não
me refiro, apenas, a uma generalização dos conflitos, com a eclosão de novos
atentados terroristas e sim à falência da política em relação à violência do
dia-a-dia.
Aumenta
a desesperança de realização de sonhos de futuros alternativos a partir dos
processos democráticos.
Em seu livro “Eichmann em Jerusalém”, a filósofa e jornalista Hannah Arendt retoma a questão do mal, politizando-o. Analisa o mal
quando este atinge grupos sociais ou o próprio Estado. Segundo a filósofa, o
mal não é uma categoria ontológica. O mal é político e histórico: é produzido
por homens e se manifesta apenas onde encontra espaço institucional para isso - em razão de uma escolha
política. A trivialização da violência corresponde,
para Arendt, ao vazio de pensamento, onde a banalidade do mal se instala.
O
verdadeiro mal é o uso sistemático da violência como modo de resolver
conflitos.
O
verdadeiro mal é a banalização do mal, ensina Hannah Arendt.
O mal não está
deste ou daquele lado, o mal não está no lado, não é uma ‘questão de
lado’; o mal está no “modo”, é uma ‘questão (essencialmente política) de “modo” de
resolver conflitos. O mal não se identifica com este ou aquele inimigo.
Por certo, o
terrorismo e a tortura (como método de ação de grupos, políticos ou não) devem
mesmo ser abolidos do mundo, mormente das ações de governo. Mas isso só será
possível se abolirmos também o terrorismo de Estado, o qual se impõe por meio
de instituições destinadas à punição e extermínio.
É possível
vencer um grupo terrorista, até mesmo aniquilá-lo. Mas, não se pode vencer o
terrorismo com as mesmas armas e métodos. Estamos assistindo a um
recrudescimento disfarçado do estatismo, no patropi.
O estatismo é
uma ideologia que confere ao Estado - e não à política exercitada pelos
cidadãos - um papel de centralidade social determinante na condução das
sociedades, confundindo estatal com público e, destarte, monopolizando e
autocratizando a esfera pública, conferindo ao Estado a função de supremo
regulador (supostamente imparcial) dos dilemas da ação coletiva e, portanto,
dos conflitos sociais e, por último, atribuindo ao Estado a capacidade de ser o
único e exclusivo protagonista das mudanças.
Sem dúvida, um
grande erro de interpretação conceitual.
Nas suas versões
extremadas, a ideologia estatista, de direita ou de esquerda, reduz os
problemas de governabilidade a problemas de capacidade de exercer o poder, de
fato e não apenas de direito, instituindo o monopólio da violência do
estatismo: o Estado controlando a sociedade.
Os democratas de
todos os naipes devem se preocupar realmente com esse estatismo, que recrudesce
como reação à violência crescente e ao terrorismo. É preciso cuidado ao
identificar o inimigo principal.
Ao
eleger o neoliberalismo da nova direita como inimigo principal, a esquerda,
mais uma vez, parece ter se enganado, repetindo, mutatis mutandis, o
sério erro de avaliação que cometeu no passado, quando imaginou que a socialdemocracia
e não o fascismo (uma clássica forma de estatismo), era o inimigo principal.
O
preço da Liberdade é identificar e denunciar, sem ódio e sem medo, os sinais de
surgimento do fascismo em nossa sociedade. Falo do Decreto 8.243, como
instrumento concreto dessa ameaça à Democracia.
Nada
nem ninguém poderá fazer tanto mal para a nossa sociedade quanto um grupo de
dirigentes reunidos em um partido que - sob o pretexto de estar combatendo a
criminalidade, a miséria e a violência - assuma o controle do aparato estatal,
ao arrepio do Estado Democrático (que pressupõe oposição e alternância do
poder), transformando o ordenamento jurídico em um mega-Estado-policial, capaz
de controlar a população, tal qual tentaram os fascistas do século passado.
Em resumo: “sociedade
civil”, para o Decreto 8.243, significa “movimentos sociais”. Aqueles
mesmos que, como todos sabemos, são controlados por partidos da base aliada do
governo - em especial, pelo próprio PT (ex-partido de esquerda). Não se
enganem: a intenção do Decreto 8.243 é justamente abrir espaço para o
controle da sociedade, sob o pretexto de participação política de tais
“movimentos sociais”.
Sobre
o tema, vale a pena ler o texto do Erick Vizolli
“Afinal, o que é esse tal Decreto 8.243?”, publicado no site Liberzone - http://liberzone.com.br/afinal-o-que-e-esse-tal-decreto-8243/
A missão mais importante da atual geração é defender a
Liberdade, como o legado mais precioso para nossos filhos e netos. É um preço
que vale a pena.
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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