quinta-feira, 27 de março de 2014

GC-2

1964 - A DEMOCRACIA  ESPEROU 21 ANOS - 2  
Geniberto Paiva Campos - Brasília  - Fevereiro / 2014  



II) Origem e Formação do Pensamento “Revolucionário” no Brasil

1.Passados  50 anos do  “golpe militar” ou  da “revolução redentora” -  a definição depende dos critérios de quem avalia o Movimento de 1964 – talvez  esteja chegando  o momento  adequado de estudar, com a isenção possível, as suas causas e consequências : políticas, sociais, econômicas, institucionais. Enfim, o que de fato representou  a tomada do poder pelas Forças Armadas do Brasil e a consequente adoção de um modelo autoritário de gestão pública, durante 21 anos. Tal avaliação é por demais importante para a história política contemporânea do país. Dizem que se deve buscar o passado para orientar o presente e o futuro.  Não se trata, no caso, de punir os que cometeram crimes ou, como dissemos, perseguir os perseguidores. Mas colocar o Movimento de 64 em seu exato contexto histórico.  E dar sequência, enfim, ao processo de reconciliação nacional.
 Meio século de distância dos acontecimentos , infelizmente, ainda não possibilita que estes venham a se tornar História ou,  pelo menos, matéria de Memória  para que possam, finalmente, ser analisados com a isenção que o tempo histórico permitiria. Parece que 1964 vai se tornando “ o passado que  não passa”. Ou como dizem alguns,” uma história sem ponto final”.       
É correto supor haver um acordo tácito entre os eventuais protagonistas remanescentes que vivenciaram o episódio, tanto do lado que apoiou o Movimento, como dos que lhe opuseram resistência ,no sentido que permaneça, para sempre, obscuro, polêmico, incompreendido. Inserido, definitivamente, no rol dos temas insolúveis. Uma espécie de assunto proibido, semelhante aos que existem no âmbito de tantas famílias e nações espalhadas pelo mundo.
Há que se reconhecer os esforços de acadêmicos, historiadores, jornalistas e instituições como OAB, CNBB, ABI, Comissões de Anistia, entre outras, que lutaram pelo volta ao  estado democrático de direito. Cujos documentos e testemunhos constituem importante acervo para a compreensão e interpretação deste período. O livre acesso aos Arquivos Oficiais, inclusive das Forças Armadas, constituiriam outra fontes de preciosas informações sobre o período em estudo.
Os eventos históricos relacionados a 1964 começam cerca de quatro décadas antes, quando o mundo enfrentava períodos de grave turbulência, com a ocorrência de conflitos armados generalizados, iniciados no continente europeu, envolvendo povos e nações. Esses fatos bélicos  que mudariam o mundo iriam, naturalmente, repercutir na América  Latina e no Brasil.
2. “Graças a Deus, é a Grande Guerra!” Escreveu o general Vikctor  Dankl, do exército austro húngaro, em final de julho de 1914. Marcando o início do I Guerra Mundial. (1) A partir deste período o mundo jamais seria o mesmo.
Para alguns historiadores atentos, o primeiro conflito de escala mundial marca o início do “breve século vinte”(2). Que veria a eclosão de outra “Grande Guerra”, a Segunda, em 1939, duas décadas após a Primeira, ainda de maiores proporções que a anterior. E que redesenhou o mapa geopolítico do globo terrestre. Quando a humanidade descobriu dispor de armas letais, utilizando energia atômica, jamais imaginadas,  capazes de destruição em grande escala.
Conflitos dessas proporções, envolvendo povos e nações, não se repetiram até o presente. Os confrontos assumiriam outras características. Tornaram-se mais sutis, localizados, circunscritos a cidades, no limite, a países. Guerras não formalmente declaradas. A maioria com motivação ideológica. Outros de cunho religioso. Nunca na amplitude e na escala de um guerra mundial. A humanidade entrou, talvez de maneira definitiva, no que se convencionou chamar de “Guerra Fria”.  Caracterizada por confrontos bélicos não declarados, cheios de nuances. Geralmente encobrindo golpes de estado, assassinatos, exílios e inúmeras violências camufladas. Outras, nem tanto.
O breve século vinte foi marcado por conflitos de forte conteúdo ideológico. Foi chamado de “século da violência“.  Na perspectiva da Europa e de seus impérios foi uma espécie de matadouro. “ E por toda parte os vemos perecer, devorando-se uns aos outros e destruindo a si próprios” (3)
 

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