1964 - A DEMOCRACIA ESPEROU 21 ANOS - 3
Geniberto Paiva Campos -
Brasília - Fevereiro / 2014
3. Do ponto de vista da América
Latina , e particularmente, do Brasil,
podem ser claramente percebidas e examinadas as formas como as mudanças
de um mundo conturbado, ocorridas na primeira metade do século XX, repercutiram
, direta ou indiretamente, na filosofia e na prática de suas políticas de poder.
A Guerra Fria instalou, em escala
mundial, o confronto entre dois modelos de organização política e econômica dos
povos e nações: Capitalismo x Socialismo. Este último de origem marxista, ou
baseado em lideranças caudilhescas, “pais da pátria” salvadores, bem
característicos da América Latina.
A Revolução Russa de 1917,
ocorrida em plena I Guerra, inauguraria novas formas de organização social e
econômica. Abolindo a propriedade
privada dos meios de produção. Criando o Capitalismo de Estado. Exercendo forte
controle sobre a sociedade. Propondo, implicitamente, a troca da liberdade pelo
direito ao acesso à moradia, à educação, ao alimento e outros bens.
Talvez exercendo maior influência
no comportamento humano do que as revoluções americana e francesa.
A criação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas/URSS, priorizando a industrialização, adotando planos
econômicos quinquenais ou decenais, rigorosamente executados, restringindo
direitos políticos consagrados no continente europeu, como o voto livre e
direto, e a liberdade de expressão,
provocou enorme espanto e inquietação em todo o mundo. Estavam postas as
condições para um conflito permanente entre duas propostas ou visões do mundo,
desencadeando um conflito que utilizaria de todos os meios ao alcance dos
contendores. Conhecida como Guerra Fria. Em que a propaganda exerceria forte
influência. Expressões como “Mundo Livre”, “Cortina de Ferro” passariam a fazer
parte do vocabulário diário de povos e
nações.
O “Reich de Mil Anos”, proposto
pelo Nacional Socialismo alemão liderado por Adolf Hitler, teve curta duração
no tempo. Mas deixou um legado de intolerância política, preconceito étnico e
violência. E legitimou, na prática, a pena de morte para adversários políticos;
a eliminação física de “inimigos do Regime”; a destruição impiedosa da povos e
nações baseada em determinantes ideológicas esdrúxulas e irracionais. Enfim, a
Guerra Suja. A “banalização do mal”, segundo Hanna Arendt.
O confronto decisivo da II Guerra
teria sido travado, segundo alguns historiadores, entre dois regimes totalitários, o alemão e o soviético.
4.Os acontecimentos verificados originalmente na Europa, na
primeira metade do século XX, exerceram influência decisiva no pensamento e na ação dos atores políticos brasileiros. Por outro lado, praticamente todos os
eventos que mereceram registro histórico no Brasil, ao longo do século passado,
contaram com a presença ativa de representantes militares. O período entre as
duas grandes guerras desenha uma clara linha de tempo, na qual militares e
civis propuseram intervenções no processo político, com a utilização da força e
com quebra da ordem jurídica e constitucional.
A partir dos primeiros anos da década de 1920, teve início o que ficou
conhecido como “tenentismo”. (Para muitos estudiosos desse período, nele se
originaria o “Movimento de 64”). De forma resumida, o que caracterizava,
ideologicamente o “tenentismo”? 1) - uma forte rejeição ao status quo,
representado por governos “carcomidos” – termo empregado amplamente à época –
incompetentes em suas ações, corruptos em seus procedimentos com a coisa
pública; 2) - como decorrência, tornava-se necessário tomar o poder pela força,
com o nobre objetivo de execução de um programa estratégico de modernização,
onde estavam incluídos “atalhos” para o desenvolvimento econômico e social, o
progresso, a ordem – lemas positivistas da nossa bandeira – 3)tudo isso executado dentro dos mais
rigorosos padrões de honestidade.
Com algumas variações, esta foi a
base política e ideológica que orientou os movimentos “revolucionários”, que
ocorreram sequencialmente, nas décadas de 1920/30: 1. em 1922, com os “18 do Forte”;2. 1924,
pela “Coluna Miguel Costa”, conhecida posteriormente como a “Coluna Prestes”;
3. a “Revolução de 30”, com a chegada de Getúlio Vargas, à frente dos gaúchos
ao poder central, no qual teve êxito, ao se manter por 15 anos no exercício da
presidência, a maior parte como ditador; 4. em 1932, a “Revolução
Constitucionalista de São Paulo”, cujo objetivo recôndito era desalojar Getúlio
Vargas do poder; 5. em 1935, a “Intentona Comunista” com o intuito de implantar
o socialismo marxista no país; 6. em 1937, o governo Getúlio dá “o golpe dentro
do golpe”, com a decretação do Estado
Novo, anulando a Constituição promulgada em 1934, iniciando um tenebroso
período ditatorial; 7. em 1938, o
malogrado “Golpe Integralista “dos
adeptos de Plínio Salgado.(fig. 1)
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