Verdades
cruzadas - III
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de
Direito da UFRN e Presidente da Comissão da Verdade. Sócio do IHGRN.
O longo período do Estado Novo foi paulatinamente se
deteriorando. Abusos e autoritarismo já engrossavam os desgostosos e o povo
ansiava por liberdade.
Getúlio não tem mais apoio para negar a vontade popular e
cede.
A Constituição de 1946 nos traz a certeza de
que toda a ditadura, por mais longa e sombria, está determinada a ter um fim.
E, no caso da ditadura de Vargas, pode-se dizer que a luz que se seguem às
trevas foi de especial intensidade: o liberalismo do texto de 46 deve ser
motivo de orgulho para todos os brasileiros.
Paulo Bonavides-Paes de Andrade. História
Constitucional do Brasil, 3d. Paz e Terra (Política). R.J. 1991.
Um
nome vinha sendo preparado para iniciar um novo momento político, na pessoa do
brigadeiro Eduardo Gomes. Eram inevitáveis as eleições. Há muito custo, em 22
de fevereiro de 1945 Getúlio referenda a Lei Constitucional nº 9 e anuncia para
dentro de três meses a divulgação de um calendário eleitoral.
Finda a ditadura getulista em 1945,
em nome da Democracia e ainda por força dos militares, iniciamos uma época de
restauração da liberdade, porém ainda sob o comando de um militar – o Marechal
Eurico Gaspar Dutra, “Presidente do Livrinho”, vencedor do pleito pela legenda
do PSD com maioria absoluta sobre o candidato brigadeiros Eduardo Gomes, da
UDN; Yeddo Fiuza do PCB e Mário Rolim Teles, do Partido Agrário Nacional. O
eleito, que fora Ministro da Guerra do governo decaído e avesso ao Estado
Liberal, no entanto dotou o País de uma nova Constituição, promulgada no dia 19
de setembro de 1946, restaurando os direitos civis e políticos, embora haja
praticado atos típicos de um governo autoritário, pondo na ilegalidade os
partidos de esquerda e perseguindo suas lideranças.
O velho caudilho gaúcho, contudo, foi
eleito para o Senado da República e trabalhou para retornar ao poder com
discurso populista, logrando êxito triunfal pelo voto popular em 1951, através
da legenda do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, apesar do inconformismo dos
militares, suplantando os seus adversários brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), mais
uma vez e Christiano Machado (PSD). Mas o seu governo não conseguiu evitar a
crescente onda de denúncias, corrupção e violência e de uma oposição ferrenha
do jornalista Carlos Lacerda, que terminou sendo ferido em um atentado em 5 de
agosto de 1954 na Rua Toneleros, em que foi trucidado o major Rubens Tolentino Vaz,
situação que se tornou insustentável e provocou o suicídio do Presidente
Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, gerando uma comoção geral no País,
sobretudo pela divulgação de uma “Carta Testamento” de incomensurável valor
para a nossa História, tendo assumido o Vice-Presidente João Café Filho, entre
um interminável movimento de rebeldia política e conspiração da qual também participou,
que não permitiu terminar o governo em 31 de janeiro de 1955.[1]
_____________________
[1] O Brasil naquela
ocasião era um país realmente único em todo o mundo, pois tinha quatro
presidentes da República: um impedido, Café Filho; outro no exercício, Nereu
Ramos; um terceiro, de fato, General Lott; e o último, de direito, JK.
(apontamentos obtidos em Murilo Melo Filho, ob. Cit., p. 233).
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