terça-feira, 3 de dezembro de 2013



“UMA ESMOLA, POR AMOR DE DEUS”

PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)

É comum em nossas ruas, alguém estender a mão e nos dizer: “Uma esmola, por amor de Deus”. (Alguns não falam mais, apenas gesticulam. Cansaram!). Talvez jamais imaginemos qual será a história daquele pedinte, esquálido e envelhecido precocemente. Como terá sido sua infância? Que sonhos teriam povoado sua juventude? Após tantas vicissitudes, o que pensa ainda da vida e espera da sociedade? Poucos se questionam a respeito do ser humano, imagem e semelhança de Deus, à sua frente. E diante de cada pedido, há olhares, palavras e sentimentos de piedade, indiferença ou desdém.

Ante a pobreza do mendigo, cada transeunte tem em mente perguntas ou respostas: umas políticas e ideológicas, poucas evangélicas. Alguns dizem: “Eu não dou esmola”. Outros afirmam: “Eis o resultado de uma sociedade estruturada sobre a injustiça”. Muitos se perguntam; “Onde está o dinheiro de nossos impostos?” ou “Por que o governo nada faz por tais pessoas?” Os mais solidários e sensíveis reconhecem: “Meu Deus, que rosto sofrido!” ou “O que posso ou devo fazer"?

Hoje lançamos naves espaciais; graças a Deus, obtemos progressos consideráveis nas pesquisas do câncer e desenvolvemos tipos de sementes adaptadas às condições climáticas de cada solo e região. No entanto, quantos Lázaros continuam, há anos, percorrendo nossas ruas, estendendo suas mãos para matar a fome com as migalhas de nossas mesas (cf. Lc 16,19-31).

O que fazemos por eles? Qual a postura da Igreja? No passado, havia grandes obras assistenciais, como as Casas de Caridade do Padre Ibiapina. Depois, nasceram iniciativas sociais visando à promoção humana.  Porém, constatamos já não ser isso o bastante. Mister se faz uma renovação das estruturas de nossa sociedade para que o processo de empobrecimento deixe de fazer novos miseráveis.

São incontáveis os necessitados ao nosso lado, não apenas o esmoler das calçadas. Há pobres no campo econômico: famintos, sem teto e sem saúde (em macas, nos corredores dos hospitais), desempregados, vivendo indignamente. Existem pobres no campo social: marginalizados por inúmeras razões, migrantes, analfabetos etc. Deparamo-nos com os pobres na consistência física ou moral: deficientes, alcoólatras, drogados, prostitutas, debilitados psiquicamente. Vemos ainda os pobres de amor: idosos desprezados, crianças sem lar, famílias desfeitas ou desagregadas. Enfim, os pobres de valores autênticos: escravos do prazer, do dinheiro, do poder, os sem Deus.

A mão estendida em nossa direção é um grito de alerta: alguém necessita não só de nossa ajuda material, mas também de nosso tempo, nossa dedicação e amor. Poderemos nos omitir, refugiando-nos em desculpas; ou, então, nos unir a todos os que se inquietam com os olhares e as palavras: “Uma esmola, por amor de Deus!” A Igreja latino-americana declarou sua opção preferencial pelos pobres. Mas, parece que eles não estão em nossos templos nem Ela perto deles!

Ao nosso redor, há crianças carentes; mães grávidas abandonadas; adolescentes que bem cedo são motivo de preocupação; idosos sem família e sem amor. Pensar nesses problemas e interessar-se por eles, poderá ser o primeiro passo para a descoberta de novas respostas para a miséria material e espiritual que nos desafia. Deste modo, talvez descubramos que somos ricos porque Alguém (Cristo), um dia, estendeu sua mão em nossa direção, levantou-nos e nos acolheu como irmãos, dando-nos dignidade e razões para viver. Não será um convite para fazermos o mesmo? Nós que transitamos em carros com ar condicionado, bem vestidos e alimentados, inclusive com direito a lazer, já pensamos que, sem a graça divina, talvez estivéssemos nas ruas, de mão estendida, pedindo “uma esmola, por amor de Deus”?

 

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