“UMA ESMOLA, POR AMOR DE DEUS”
PADRE
JOÃO MEDEIROS FILHO
(pe.medeiros@hotmail.com)
É comum em nossas ruas, alguém
estender a mão e nos dizer: “Uma esmola,
por amor de Deus”. (Alguns não falam mais, apenas gesticulam. Cansaram!).
Talvez jamais imaginemos qual será a história daquele pedinte, esquálido e envelhecido
precocemente. Como terá sido sua infância? Que sonhos teriam povoado sua
juventude? Após tantas vicissitudes, o que pensa ainda da vida e espera da
sociedade? Poucos se questionam a respeito do ser humano, imagem e semelhança
de Deus, à sua frente. E diante de cada pedido, há olhares, palavras e
sentimentos de piedade, indiferença ou desdém.
Ante a pobreza do mendigo, cada
transeunte tem em mente perguntas ou respostas: umas políticas e ideológicas,
poucas evangélicas. Alguns dizem: “Eu não
dou esmola”. Outros afirmam: “Eis o
resultado de uma sociedade estruturada sobre a injustiça”. Muitos se
perguntam; “Onde está o dinheiro de nossos impostos?” ou “Por que o governo nada faz por tais pessoas?”
Os mais solidários e sensíveis reconhecem: “Meu
Deus, que rosto sofrido!” ou “O que
posso ou devo fazer"?
Hoje lançamos naves espaciais;
graças a Deus, obtemos progressos consideráveis nas pesquisas do câncer e
desenvolvemos tipos de sementes adaptadas às condições climáticas de cada solo
e região. No entanto, quantos Lázaros continuam, há anos, percorrendo nossas
ruas, estendendo suas mãos para matar a fome com as migalhas de nossas mesas
(cf. Lc 16,19-31).
O que fazemos por eles? Qual a
postura da Igreja? No passado, havia grandes obras assistenciais, como as Casas
de Caridade do Padre Ibiapina. Depois, nasceram iniciativas sociais visando à
promoção humana. Porém, constatamos já
não ser isso o bastante. Mister se faz uma renovação das estruturas de nossa
sociedade para que o processo de empobrecimento deixe de fazer novos
miseráveis.
São incontáveis os necessitados ao
nosso lado, não apenas o esmoler das calçadas. Há pobres no campo econômico:
famintos, sem teto e sem saúde (em macas, nos corredores dos hospitais),
desempregados, vivendo indignamente. Existem pobres no campo social:
marginalizados por inúmeras razões, migrantes, analfabetos etc. Deparamo-nos
com os pobres na consistência física ou moral: deficientes, alcoólatras,
drogados, prostitutas, debilitados psiquicamente. Vemos ainda os pobres de amor:
idosos desprezados, crianças sem lar, famílias desfeitas ou desagregadas.
Enfim, os pobres de valores autênticos: escravos do prazer, do dinheiro, do
poder, os sem Deus.
A mão estendida em nossa direção é
um grito de alerta: alguém necessita não só de nossa ajuda material, mas também
de nosso tempo, nossa dedicação e amor. Poderemos nos omitir, refugiando-nos em
desculpas; ou, então, nos unir a todos os que se inquietam com os olhares e as
palavras: “Uma esmola, por amor de Deus!” A Igreja latino-americana declarou
sua opção preferencial pelos pobres. Mas, parece que eles não estão em nossos
templos nem Ela perto deles!
Ao nosso redor, há crianças
carentes; mães grávidas abandonadas; adolescentes que bem cedo são motivo de
preocupação; idosos sem família e sem amor. Pensar nesses problemas e
interessar-se por eles, poderá ser o primeiro passo para a descoberta de novas
respostas para a miséria material e espiritual que nos desafia. Deste modo,
talvez descubramos que somos ricos porque Alguém (Cristo), um dia, estendeu sua
mão em nossa direção, levantou-nos e nos acolheu como irmãos, dando-nos
dignidade e razões para viver. Não será um convite para fazermos o mesmo? Nós
que transitamos em carros com ar condicionado, bem vestidos e alimentados,
inclusive com direito a lazer, já pensamos que, sem a graça divina, talvez
estivéssemos nas ruas, de mão estendida, pedindo “uma esmola, por amor de Deus”?
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