Ri é o melhor remédio?
Augusto Leal (Guga)
As coisas mudaram. Sou tão antigo, que sou do tempo em que fumar era
bonito e ser gay era feio. Hoje é exatamente o contrário, ser gay virou até
orgulho nacional. Por isso mesmo, dentro desde meu conceito de antiguidade,
lembrei-me do tempo de jovem e das brincadeiras de colégio, e para o meu grupo
de amigos nem sempre ri era o melhor remédio, às vezes dava uma tremenda
confusão.
Estudei no
início do curso ginasial no Ginásio sete de Setembro. Eram meus diretores: Professor
Fagundes e sua esposa Dona Maroquinha e o professor Nogueira. Um belo dia
estava eu subindo nas mangueiras para tirar as mangas e jogar nos colegas,
quando ouço o grito do professor Fagundes com a voz rouca e estridente - Êpa,
êpa, Seu Leal, Seu Leal, já lhe vi, não adianta se esconder vai de castigo lá
para o Auditório. Tive que descer e ir direto para ficar trancado. Chegando lá
encontrei Chop Chop, um colega doido, que parecia um chinês alto e gordo com
grandes bochechas. Ficamos trancados, em silêncio. De repente, nada mais que de
repente Chop olha para mim e diz – Tive uma grande idéia, vou tocar piano (não
sabia onde era o dó) e fazer uma música. Abriu a tampa do piano, tirou um
feltro verde que protegia as teclas, enrolou no pescoço, sentou-se nas teclas e
com as mãos dando murro nas outras teclas gritando – Corocococó, corocococó vi
Fagundes de pijama Maroca de paletó. Eu era o maestro e o som invadiu os
corredores do Ginásio. Ouvindo aquilo professor Fagundes e Dona Maroquinha
correram até o local do “show”. Fomos convidados a ir para casa, sentenciados com
três dias de suspensão e meu pai chamado para comparecer a Diretoria.
Fui
transferido para o Atheneu e logo nos primeiros dias, ouço um reboliço dentro
do colégio, os alunos correndo e olhando para o primeiro andar. Vou me
aproximando, quando vejo meu bom amigo professor Sebastião Cunha, nosso querido
Tião, correndo atrás de um aluno que estava andando de bicicleta dentro do
Colégio. Vou ver quem é. Nisto o aluno desce as escadas de bicicleta, Tião com
a sua varinha de dar aula atrás, batendo nas costas dele e a mundiça gritando.
Parei e o aluno passa por mim e fala – Guga corre que o pau está catando de
novo. Era Chop que tinha chegado ao
Atheneu primeiro do que eu, eu não sabia.
Em uma bonita
manhã de sol, estávamos na aula de português, quando começa uma discussão entre
Carlos Limarujo e a professora. Os ânimos foram se exaltando, de repente eu
peço a palavra e digo – Professora eu acho que Limarujo tem razão. Então ela
para um pouco e já nervosa, diz. – Agora o senhor vai explicar por que é que
Limarujo tem razão. Aí eu respondi. –É simples professora, é porque eu sou
amigo dele e não sou da senhora. Ouvindo isto, Antonio Ferreira de Melo nosso
colega Toinho Miniatura que estava sentado la na frente (eu e Carlos lá atrás)
levanta-se abre os braços e grita – Bravo, bravo amigos e caminha em nossa
direção. A professora não aguenta, cai no choro, nos coloca para fora da sala
de aula, e vai fazer a nossa cama com Dona Olindina que era a Diretora Geral. Fomos
chamados a Diretoria e no final do sermão, depois de alegar que a nossa
permanência no colégio era só e somente pela amizade que ela tinha aos nossos
pais vira-se para Limarujo e diz- Vocês já estão na idade de se comportarem
melhor, principalmente o senhor Seu Limarujo que veio de fora. Limarujo pede à
palavra, que lhe é concedida- Dona Olindina me desculpe, mas todo mundo vem de
fora que aqui não tem primário.
Ela coçou a
cabeça, levantou-se, mordeu os lábios e disse pausadamente: - Seus moleques
desapareçam da minha frente, antes que eu me arrependa e coloque vocês no olho
da rua, FORA. Acho que ainda hoje estamos correndo.
Henrique
Mario Lira Carreras era nosso colega de classe no velho Atheneu, e também fazia
parte no nosso grupo. Um belo dia, ele leva uma camisinha (preservativo) para o
colégio. Vai para o primeiro andar enche de água, ela ia quase ao térreo, quase
batia na cabeça das pessoas que iam entrar na porta principal. Foi à vez do
Cônego Luiz Wanderlei passar, Henrique sem querer soltou a camisinha que molhou
o padre que puto da vida olhou para cima, viu Henrique e gritou – Fela da puta
vou lhe pegar. E foi atrás, Henrique que é branco e galego ficou vermelho olhou
pra mim e disse - Corre que lá vem merda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário