Os remédios das antigas “boticas”
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário, escritor e membro da AEILIJ
Naquela tarde, Tibério dirigiu-se a um velho boticário que ficava situado na Rua Chile, bastante frequentado desde finais do século XIX. Era um prédio antigo de fachada alta, em cujo centro estava uma placa branca desenhada à mão: boticário.
Logo após a pesada porta de madeira, os balcões e prateleiras altas atochados de frascos de todos os formatos e cores, bem dispostos, chamam sua atenção. Um sortimento variado. Aspirinas, sais de frutas, camisas de vênus, pomadas de Metchnikoff, arsenobenzóis, permanganato, coleval, oxicianureto, xerofórmio, iodofórmio, óleo de fígado de bacalhau.
Medicamentos em suas várias formas: tisanas, pós, pomadas, xaropes, pastas, cápsulas, pílulas, electuários, solutos, elixires, poções, papéis, óvulos, misturas, supositórios, tinturas, licores, vinhos, águas, grânulos, tabletes, alcoolatos, melitos, emulsões, infusões, vinagres, colutórios, gargarejos, pastilhas, fumigações, inalações, dentifrícios, lavagens, cremes, ceratos, vernizes, colas, loções, óleos medicinais, linimentos, emplastros, apózemas...
Remédios em diversas formas contra inflamações. A pele de peixe-boi eficaz contra as erisipelas, as pílulas americanas que regeneram o sangue e dão novo ânimo aos doentes.
O bioeletro mesmerismo que combate radicalmente todas as doenças. Preservativos contra tísica pulmonar, moléstias do peito em geral, pleurais, bronquites, tosse crônica, asma.
Muitos desses preparados eram fabricados em Paris nos laboratórios da Robiquet, Boyveau& Pelletier. Esses foram os primeiros laboratórios do mundo a utilizarem o sulfato de quinina em algumas de suas fórmulas.
Não podemos esquecer o Chocolate Purgativo de Desbriére, a base de magnésia, indicado para expulsar a bílis, os humores viscosos, purificar o sangue, contra as doenças da cútis, os reumatismos, as dores de cabeça e várias outras doenças clínicas.
Tinha também o Xarope de Rabão Iodado, preparado a frio e concentrado no vácuo. Era também fabricado na França e prometia uma cura rápida das moléstias do peito, do linfatismo, do raquitismo, da palidez e moleza das carnes, além de diversas moléstias da pele e afecções ocasionais por vício ou acúmulo de sangue, e que já tivera sido tratado sem êxito pelo óleo de fígado de bacalhau.
O Unguento Morel era um remédio milagroso contra talhos, dentadas, mordidas de pulga, queimaduras e feridas de toda a natureza.
A injeção Brum infalível e preservativa contra gonorreias recentes ou crônicas e flores brancas (leucorreia).
Existia também o Xarope do Bosque, produto miraculoso que curava praticamente todas as moléstias. O Unguento Durand que assegurava curar todo tipo de feridas e contusões.
Além desses afamados remédios, o boticário vendia produtos contra cólera-morbus, antibubáticos, antiescrofulosos, antivenéreos, contra vermes intestinais, diversos tipos de desinfetantes e produtos para formosura das senhoras.
Muitos desses remédios eram preparados artesanalmente ali mesmo no boticário, pois a indústria farmacêutica era muito incipiente no Brasil.
Portanto, nas boticas era indispensável o uso de balanças de precisão, frascos, conta-gotas e colheres de medir.
Vemos então que, com todos esses recursos, adoecia quem queria e não se curava se essa fosse a sua vontade.
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