ARTIGO ESPECIAL 81 ANOS DA OAB/RN:
ECOS DA OAB NO EXILIO
MARCOS GUERRA – Vice Presidente
22/10/2013
Durante os “anos de chumbo” poucas instituições se
destacaram no Brasil graças à destemida atuação de alguns de seus membros, e em
particular de alguns de seus dirigentes. Dentre estas, pelo que pudemos
acompanhar no exterior, destacam-se nitidamente a OAB, a CNBB e a ABI.
Apesar da natural diversidade de opiniões de seus
integrantes, e convivendo até mesmo com algumas divisões internas, passado um
período inicial hesitante ou adesista, as entidades assinaladas souberam
preservar durante a maior parte do período sua fidelidade aos princípios que
nortearam sua criação, principalmente a partir do endurecimento do AI-5 e da
convicção que os governantes da hora pretendiam se eternizar no poder. Saíram
reforçadas, porque lutaram diretamente contra os desvios de um poder
arbitrário, e na maioria dos casos apoiaram as lutas em favor das liberdades,
da dignidade, dos direitos humanos, e da democracia.
Desejamos destacar alguns dos ecos do exílio
político, durante o período em que de longe podíamos atuar numa frente
secundária para combater a ditadura civil e militar, e contribuir para
denunciar as práticas que os governantes de então, e seus aliados, tentavam
encobrir.
Através de mecanismos que se tornam pouco a pouco
conhecidos, grupos organizados de exilados, podíamos lá fora não somente
acolher algumas das vitimas dos porões da ditadura como também repercutir nas
mais diversas instancias o que sabíamos. Atos e fatos que aqui se tentava
esconder da maioria da população brasileira. Por isto alguns de nós chegamos a
ser perseguidos pela famosa Operação Condor, tivemos passaportes confiscados,
nomes vetados para ocupar funções em órgãos especializados da ONU, perseguições
por agentes da repressão ocupando funções diplomáticas, e outras peripécias.
Por ocasião de mais um aniversário da OAB desejamos
ressaltar os ecos que recebíamos sobre sua ação, ecos que procurávamos
multiplicar e repercutir. Contribuímos para repercutir denuncias de violências
que atingiram diretamente as três instituições, ou seus integrantes mais
destacados, mobilizando apoio e solidariedade de setores representativos nos
países onde atuávamos, de forma a isolar cada vez mais os que tentavam mascarar
a ditadura.
Destaque-se a franca oposição da OAB à Lei de
Segurança Nacional, e à violação das prerrogativas dos Advogados na defesa de presos
políticos, posição clara desde junho de 1964 quando o Conselho Federal decidiu
que os advogados cujos direitos políticos foram suspensos não estavam impedidos
de exercer sua profissão. Em resposta, métodos espúrios e covardes, bombas como
a que destruiu um andar da sede da ABI (Agosto de 1976), a que vitimou na sede
da OAB (Agosto de 1980) a funcionaria Lyda Monteiro da Silva, destinada ao seu
Presidente SEABRA Fagundes. Para a Igreja Católica, destacam-se perseguição
direta ou a auxiliares de Bispos como Dom Helder Camara, Dom Paulo Evaristo
Arns, Dom Pedro Casaldaliga e Dom Valdir Calheiros, entre tantos outros.
Dentre tantos outros, um resultado exemplar. Não
conseguiram impedir articulação vitoriosa, altamente confidencial, entre
Advogados e Igrejas, incluindo em Genebra o Conselho Ecumênico das Igrejas, que
ajudou a catalogar e conservar extensa documentação recolhida por Advogados
brasileiros. Documentos que percorreram caminhos na época indizíveis e com
parceiros rigorosamente selecionados. Investigação perigosa e laboriosa, hoje
no livro BRASIL – NUNCA MAIS, que recolheu testemunhos em 700 processos nos
Tribunais, relatando torturas e maus tratos, denunciando torturadores mais
conhecidos, ainda hoje impunes.
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