UMA FAMÍLIA CHAMADA RIBEIRA III
Ciro José Tavares
Amanheceu o domingo na Ribeira e dentro do silêncio, povoando ruas vazias, tudo parecia adormecido. O dobre do sino da Igreja do Bom Jesus das Dores, anunciando a missa das 10 horas, suspendia a quietude e nos poucos calçamentos existentes, o barulho dos sapatos marcava como um tambor o ritmo da fidelidade cristã de um rebanho reduzido que célere avançava na direção do templo. As senhoras com seus vestidos bem talhados, véus rendados sobre os ombros e nas mãos terços e missais. Os cavalheiros e suas cuidadas fatiotas, barbas aparadas, marchavam a passos largos admoestando a alegria das crianças.
Terminada a celebração, havia cumprimentos à porta e depois o regresso pelos caminhos que voltavam a ser silenciosos. Por inexistir o luxo das serviçais, que nos dias de hoje, se ocupam da cozinha e da limpeza das casas, as famílias estavam organizadas para a execução dos serviços, dividindo tarefas Depois a vida espartana ensinou-lhes que as mesas deveriam ser frugais, mas de boa qualidade. O almoço era cedo, porque, feita a sesta obrigatória, pelo meio da tarde iam às visitas ou as recebiam. Essas aconteciam nos generosos quintais, amplos, limpos, sombreados pelos caramanchões. Cadeiras num círculo e no centro a mesa, coberta por toalhas brancas, engomadas de fazer inveja, pratos, talheres e guardanapos arrumados. Logo vinham os fumegantes bules de café, as leiteiras de louça, os bolos e as jarras de sucos de frutas regionais. Esse era, para as crianças, o momento culminante, quando paravam a algazarra e vinham disciplinados provar dos acepipes.
Anoiteceu o domingo na Ribeira, quando o sol, além do Rio Potengi, corria a deitar nos lençóis da noite, deixando atrás de si um rasto vermelho que parecia fogo incendiando o céu.
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