quinta-feira, 23 de maio de 2013


EU MENINO E A RIBEIRA
Carlos Roberto de Miranda Gomes - advogado e escritor

Deslumbramento, não menos que isso, foi a minha primeira visão da Ribeira.

O Cais Tavares de Lira era o destino, no caminho da Redinha, na travessia em uma das velhas lanchas de Luiz Romão ou no barco à vela de Ferrinho com a chegada no trapiche da praia.

 

Esse percurso teve início nos idos finais dos anos 40 e no passar pela Avenida Tavares de Lira as paradas obrigatórias nas vitrines da loja 4.400 destruída nos anos 50 pelo maior incêndio visto aqui até então.
A vitrine dava a mesma emoção retratada por Vicente Celestino em uma de suas gravações: "Há quanto tempo ele anda namorando o cavalinho da vitrine lá da rua Ouvidor". No meu caso era mesmo na Tavares de Lira, onde também ficava a Agência Pernambucana do mesmo Luiz Romão, com a profusão de gibis e guris, os quadrinhos de personagens americanos do tempo da guerra - Superman, Capitão América, Família Marvel, Super X, Xuxá, Cavaleiro Negro, Tarzan, os campeões do faroeste, a família Donald, Michey, O fantasma..... ai, ai, que saudade!
Por incrível que pareça, eu ainda tenho vários exemplares em minha hemeroteca.
Tempos depois, já nos anos 60, a Ribeira foi minha fonte financeira na condição de representante comercial, tendo como maiores clientes ali localizados - Casa Lux, Santos & Cia, Cyro Cavalcanti, Galvão Mesquita, Limarujo.
O transporte mais utilizado era o bonde.
 


Na Ribeira, precisamente na Rua Dr. Barata, no prédio de A Ordem (vizinho à Junta Comercial de Seu Luiz Patriota), trabalhava o extraordinário encadernador "Seu Bandeira", falecido no ano passado.
A busca dos meus médicos - Dr. Sérgio Guedes (clinico geral) e Dr. Cleodon Tavares (otorrino).
As Livrarias Internacional e Ismael Pereira, as casas de ferragens, o homem que confeccionava as camisas esportivas modelo dos americanos, o fabricante de botas (Seu Edísio?), a Casa Lamas, vendedora de discos, a Casa Rubi, do Seu Mesquita, que vendia chapéus Ramezoni.

O caminho natural para remar no Potengi na condição de sócio do Centro Náutico, os mergulhos no cáis, os passeios de iole ou barcos alugados na Pedra do Rosário.


O ateliê do fotógrafo João Alves, a oficina do meu sogro Rocco Rosso – Travessa Argentina, 45, Arquiteto Souza Lelis (o baiano que desenhou o símbolo da minha Turma de 1968), na travessa Venezuela.
Lugar dos meus sonhos, devaneios, fugas noturnas para jogar sinuca de portas fechadas, escondido dos comissários de menores;  da primeira experiência amorosa que me fez perder a inocência.
A rua do Sul, onde era a sede do Saneamento, que ligava a Rio Branco baixa (atrás do Teatro Carlos Gomes onde atuei tantas vezes nos programas da SAE) à Avenida Deodoro, no caminho da Rádio Poti.
Enfim, a Ribeira da velha Faculdade de Direito, onde trilhei os primeiros caminhos da minha futura profissão. A Escola Doméstica onde estudavam minhas irmãs, depois transformada em INPS.
       Escola domestica,ribeira. - Em frente ao colegio salesiano. - Fotolog
É triste hoje passar pelas ruas principais da Ribeira - só restam ruinas. Vale relembrar através dos livros que ressaltam o seu cenário romântico, como recentemente o fez Caio Flávio Fernandes de Oliveira, com o seu "Madame Colette".
Há! Tenho muitas lembranças, daria para escrever um livro.


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