quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


Toque - Livros e Cultura

por Carlos de Souza


Poetas com estilos variados para curtir

Agora que todos já viveram suas catarses de alegria intensa, pularam e dançaram durante os dias de carnaval, as mentes ficam mais calmas e se preparam para a Páscoa que se aproxima. Essa é a tradição do carnaval, tá lá em Bakhtin, pode conferir. Pois então sugiro a leitura de alguns poetas que se seguem:

Vou começar com uma mulher, pois elas têm primazia aqui. Constantina, de Cínthya Verri, Editora Edith, São Paulo, 77 páginas. São versos intimistas, voltados para a primeira pessoa, uma tendência em poetas de nosso tempo e lugar. São sempre poemas curtos na tradição deixada pelos poetas mimeógrafos dos anos 70, mas a temática é outra. Aqui o tom é nitidamente biográfico. A poeta fala de sua infância, ou de uma infância fictícia, não importa. Parece um diário. É bonito? Claro que é. Quem gosta de ler poesia, sempre vai encontrar motivos para encantamento. Encontrei alguns “cacos” como nos versos “gostar de quem crer em deus”. Acho que é “crê” no caso aqui. Mas tudo bem, quando se é jovem é sempre possível aprender mais e mais. E Cínthya Verri é uma gaúcha bem jovem. O livro evolui em quatro fases. Na segunda, estamos em uma espécie de rito de passagem. Na terceira, estamos chegando à maturidade. Os poemas ficam mais densos, piscam os olhos para a finitude. Na quarta, chegamos ao “Acaso”, como ela mesma indica. Aí entram o amor e o sexo. As dores de amores. Chegamos ao ápice.

Misto Códice – Códice Mestizo, de Paulo de Tarso Correia de Melo, Sarau das Letras, Mossoró, 98 páginas. Para entender esse livro é melhor ouvir as palavras do próprio poeta: “Traduzi, adaptei, fantasiei até perder o controle da criação”. Paulo de Tarso é um poeta canônico, grande nome da poesia potiguar. Prescinde de apresentações. Neste livro ele homenagear os escritores presentes ao Encontro de Poetas Iberoamericanos de Salamanca e também o escritor espanhol Miguel de Unamumo. Livro de grande erudição e beleza poética. Impossível de analisar aqui neste curto espaço.

Incerto Caminhar, de David Medeiros Leite, Sarau das Letras, Mossoró, 109 páginas. Este livro foi premiado no II Concurso de Poesia em Língua Portuguesa da Universidade de Salamanca e Escola Oficial de idiomas de Salamanca, Espanha. É um livro bilíngue, em espanhol e português. Muito bem escrito e ilustrado. Chamou minha atenção a simplicidade dos versos, uma tradição modernista no Brasil que parece ter agradado muito aos espanhóis.

Gramática, de Carlos Gurgel, Editora do Departamento Estadual de Imprensa, Natal, 138 páginas. Este livro saiu diretamente de uma mente que viveu o apogeu do poema mimeógrafo, passou por todas as transformações da contracultura e ainda continua instigante e combativa. A linguagem é aquela exuberante, transbordante de ideias como um Allen Ginsberg potiguar. O autor mescla poemas curtos com poemas torrenciais, de deixar o leitor sem fôlego. Muito bom esse livro de Gurgel. Recomendo.

Atestado de Órbita, de Carito Cavalcanti, Editora Jovens Escribas, Natal, 135 páginas. Este também é um livro impregnado de juventude e criatividade. Carito é conhecido por seus trocadilhos inventivos e músico revolucionário numa província que pouco o entende. O livro tem aquele sabor agridoce dos Beatnicks, pé na estrada. É inquietante e inconformado. Carito faz aqui uma espécie de auto de fé particular, colocando seu corpo e mente em sacrifício de uma arte que o consome. Prazeroso de se ler e comentar com quem ainda não leu.

Poesia Alguma, de Ruy Rocha, Jovens Escribas, Natal, 61 páginas. Aqui encontramos novamente aqueles poemas telegráficos, tão ao gosto da geração 70 em diante. O poeta destila aqui todas as suas influências e leituras e presenteia o leitor com sua vivência. A meu ver, Ruy é um poeta em gestação, alguém em busca de uma voz particular que o tire da mesmice. Deu o primeiro passo, exposto livremente nas livrarias, como diria Drummond. Talvez o poema que resuma este livro seja Troturado em que ele diz: “Ali vai um torturado pelo desejo/ a realidade  é dele e de mais ninguém/ Ele deseja gritar uma coisa/ que não tem nome.”

O Teorema da Feira, de Lívio Oliveira, Edição do Autor, Natal, 115 páginas. Lívio é um poeta prolífico e premiado e até já fez um CD em parceria com o músico Babal. É um poeta inquieto, afeito a acirrados debates culturais, principalmente no blog Substantivo Plural, de Tácito Costa. Qual seu estilo? Totalmente imerso nas premissas do Modernismo, essa verdadeira camisa de força que deixou os poetas brasileiros sem muitas saídas. Lívio é inventivo e referencial como a maioria dos poetas daqui e de alhures. Senão vejamos: “caminharei com quatro mágicos em abbey Road/ me perderei em piccadilly circus e morrerei na grama fria”.

Mostrei aqui a vocês um breve panorama da poesia que se pratica no Rio Grande do Norte e em alguns lugares do Brasil. Creio que a poesia está passando por um momento de espanto. O mundo moderno, com seu 11 de setembro e seus Drones, parece ter deixado a todos meio nus.

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