AINDA SOBRE EXUPÉRY
Carlos
Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
Ansiei por muito tempo,
a publicação desse livro "ASAS SOBRE NATAL", do escritor João Alves
de Mello, narrando a passagem de pilotos por esta cidade e Parnamirim, em
particular sobre Antoine de Saint Exupéry. Infelizmente, nele não enxerguei a afirmativa sobre a estada em Natal do extraordinário escritor..
As fotografias
apresentadas à página 168 do livro possuem nominata dos personagens, uma delas
reproduzida na última página (450) apontando Exupéry como o de nº 2,
parecendo-me, não necessariamente ter sido feita pelo autor da obra. Aliás,
nessas anotações consta a mesma pessoa com nomes diferentes: "Emont"
(rádio) e "Ezan" (rádio), que na última página corresponde ao de
numeração 3.
Tal fato, no entanto,
não diminui a qualidade da obra, rica em detalhes e trazendo, em relação a
Exupéry um texto do jornalista francês e historiador da história da Latecoere
Jean-Gerard Fleury, contemporâneo do piloto-escritor do Pequeno
Príncipe, onde é enfático: ..."Todos os seus companheiros fizeram
muitos voos sobre o Brasil. Mas ele só transitou por aqui
rapidamente. Conhecia bem o Rio e Natal, porém, mas (sic) como
passageiro de navios. Como os monoplanos Laté dificilmente poderiam
vencer uma longa travessia, como a do Atlântico, navios tipo destróieres,
faziam a viagem, em tempo record entre Dakar/Natal, onde os sacos de
correspondências eram colocados nos aviões que partiam rumo ao sul."...
Aliás, ele faz um comentário
que coincide com os mesmos argumentos que usei durante um debate em evento
realizado no Museu Câmara Cascudo, com o Cel. Hippólyto da Costa, numa mesa em
que estavam também presentes o jornalista Vicente Serejo e o escritor Pery Lamartine, onde contraditei o
pensamento daquele ilustre militar da reserva, quando afirmou da
impossibilidade de Exupéry ter vindo a Natal porque o seu avião não possuía
estabilidade para o tráfego entre Buenos Aires e Natal e eu ponderei – “a
vinda daquele famoso piloto a Natal, em viagem certamente de fiscalização da
linha, não necessariamente teria de acontecer pelo ar, pois ele costumava viajar
de navio, como foi desde a primeira vez em que veio para a América do Sul”! Mas
o assunto permaneceu sem uma conclusão dos participantes daquele evento.
Pesquisei na internet no
site do Instituto Saint Exupéry (www.saintexupery.com.ar) onde há uma coluna
chamada “Les lieux”, com o desenho de um globo terrestre assinalando no mapa do
mundo, em vermelho, os pontos da linha francesa e, no Brasil, está assinalada
Natal, com o seguinte texto:
"Natal –
Brésil
Natal est Le
point d´Ámérique Du Sul Le plus rapproché de La côteafricane d´où l´Aéropostale
envisageait de farire partir lês avions devant assurer une laison transatlantique
exclusivement aéronautique. C´est donc à Natal qu´amerrit en 1939 l´hydravion
de Jean Mermoz, premier pilote à accomplir cet exploit. En as qualité de chef
de l´Aeroposta Argentina, Antoine de Saint Exupéry se rend à plusieurs reprises
a Natal sans que l´on puísse établir avec précision lês dates. On raconte qu´on
peut encore y voir La Maison ou il aurait logé lors de sesdifférentes visites.
On raconte que l´idée dês baobabs qui menacent la planète du Petit Prince lui
aurait été suggérée par um arbre géant vu à Natal."
Tradução feita gentilmente pela Professora Madalena Rosado:
"Natal é o ponto da América do Sul mais próximo da costa africana, onde a Aeropostale visava fazer partir os aviões devendo assegurar uma ligação transatlântica exclusivamente aeronáutica.
É pois em Natal que amerrisa em 1939 o hidroavião de Jean Mermoz, o primeiro piloto a completar essa exploração. Na sua qualidade de chefe da Aeroposta Argentina, Antoine de St. Exupery esteve várias vezes em Natal sem que se possa estabelecer com precisão as datas. Conta-se que ainda se pode ver lá a casa onde ele teria se alojado nas diferentes visitas. Conta-se que a ideia dos baobás que ameaçam o planetas do Pequeno Príncipe. lhe teria sido sugerida por uma árvore gigante vista em Natal."
Nesse site não existe uma só fotografia
com Saint-Ex usando óculos, nem com o seu
corpo com aparência de sobrepeso, como aparece nas fotografias do livro de João
Alves, com uma estatura não condizente com o que se comentava - ser um homem
alto.
Quando escrevi e
publiquei o livro em homenagem ao meu sogro Rocco Rosso, que foi funcionário da
Latecoere (Air France), morando em Parnamirim, apresentei o seu registro, como
fotógrafo amador, de vários acontecimentos que envolviam os pilotos, inclusive
apresentando fotografias de Exupéry, que havia tirado no campo de aviação e de
outros pilotos, que fizeram parte de um álbum enviado para o Concurso
Internacional promovido pela Air France, onde logrou um honroso 2º lugar, com
premiação e o agradecimento da Companhia por ter oferecido subsídios para o
acervo da empresa, consequentemente, não tendo sido desclassificada nenhuma das
fotografias que compunham o seu álbum de concorrência, o que lhes dá
autenticidade.
Além de depoimentos
importantes que transcrevi e opiniões de pessoas respeitáveis, apresentei até
um extraordinário achado de Vicente Serejo - um texto do próprio Exupéry sobre
o desaparecimento de Mermoz, com o título "Depois de 48 horas de
silêncio", que mereceu tradução do jornalista Mário Ivo Cavalcanti, e o comentário
de Serejo ... "Mas, sua descrição do espelho de água e do terreno cheio de
formigueiros também não parece ser apenas por ouvir dizer."
E agora José! Vamos
considerar o assunto encerrado? Exupéry esteve efetivamente em Natal, como
defende Luiz Gonzaga Cortez e Diógenes da Cunha Lima, ou com as frustrantes provas fotográficas, como
afirmam Pery Lamartine e Fred Nicolau, indiciam que ele não passou por aqui? E
o texto traduzido do Instituto Saint Exupéry não tem valor?
No meu entender, as provas pela sua passagem por Natal são mais consistentes e até lógicas, pois um Diretor da Air France para a América do Sul não visitar o ponto mais importante do continente, seria uma irresponsabilidade!
No meu entender, as provas pela sua passagem por Natal são mais consistentes e até lógicas, pois um Diretor da Air France para a América do Sul não visitar o ponto mais importante do continente, seria uma irresponsabilidade!
Para mim Saint-Ex esteve em Natal, mas o assunto não “c´est
fini”.
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