Por Franklin Jorge l Novo Jornal
Tivemos em Natal, por alguns dias, Rossini Quintas Perez. Um nome desconhecido para grande número de norte-rio-grandenses que ignoram, sob essas dezenove letras, um mestre em seu ofício. Por isso, seus pares, reconhecedores de seu talento, o tem como um maître graveur. Um artífice nessa antiga e exigentíssima arte da gravura em sua pluralidade técnica. Veio a convite da Secretaria Extraordinária de Cultura para discutir uma possível mostra de sua produção gráfica.
Conheci-o há uns bons 40 anos. Em Natal, por essa época, apenas Anna Maria Cascudo Barreto – titular de coluna em A Republica – escrevera e dera noticias aos seus leitores de uma plêiade de artistas dignos de reconhecimento, todos eles tendo em comum o fato de terem nascido aqui, uns em Natal e outros em Macaíba, como Abraham Palatnik e Rossini Quintas Perez aos quais eu acrescentaria outros talentos, Ruth Aklander e Aminadav Palatnik, sobre os quais creio que fui a segunda pessoa a escrever sobre a contribuição de cada um deles as artes contemporâneas. E como engrandeciam o Rio Grande do Norte pelo talento.
Rossini Perez volta a Natal depois de 30 anos. Aqui, nos anos 80 do século passado – em tempos recuados -, por esforço e iniciativa deste que vos escreve, teve um belo reconhecimento – consegui emplacar milagrosamente o seu nome como patrono da Oficina de Gravura que, naquela época, chefiando o Núcleo de Criatividade da Fundação José Augusto, era responsabilidade dessa função que exercia e dizia respeito as artes plásticas.
A Oficina, para cuja criação recorri ao assessoramento técnico do próprio Rossini, um expert no assunto, devia integrar um empreendimento mais ambicioso, a Pinacoteca do Estado que ele, Rossini, nessa curta estadia em Natal, visitou minuciosamente, sob o generoso pretexto de contribuir para o resgate do conceito de Pinacoteca que, em decorrência da falta de investimentos e gestão, se perdeu no tempo. É um depósito de quadros, em grande parte mal conservados ou guardados de forma inadequada e num ínfimo espaço.
Nascido em Macaíba ha 81 anos, Rossini parece movido por uma inesgotável vontade de fazer e realizar que falta a maioria dos que tem ocupado cargos públicos sem nenhum proveito para a cultura. Rossini, não. Enquanto aqui esteve não descansou um dia, dando gratuitamente sua contribuição a cultura local. Empenhou-se, não apenas em rever, mas em conhecer e pesquisar e desse afã resultou, no ultimo domingo, uma sessão de fotografias desse velho bairro da Ribeira, que lhe deu a medida exata de quanto nossos governos tem sido relaxados e indiferentes na defesa do nosso já escasso e depauperado patrimônio cultural.
Juntos, percorremos a Pinacoteca, instalada no antigo Palácio do Governo, uma bela construção em estilo neoclássico, de 1873. Porem, como pinacoteca, surpreendeu-o a falta rotineira de investimentos e de cuidados básicos em relação ao acervo, pobríssimo e mau cuidado. A sala da Reserva Técnica não atende aos requisitos necessários. Não ha laboratório de restauro e as obras que, por ventura, tem alguma qualidade, ficam perdidas em meio a tentativas mal sucedidas e, portanto, indignas de figurar numa coleção do gênero. É mais um amontoado de refugos a espera de um trabalho de garimpagem que separe o trigo do joio do que uma pinacoteca.
Rossini pretende -, alem de promover uma mostra de sua obra, para que tenhamos alguma noção de suas realizações estéticas -, fazer uma doação, mas para isto deseja estar seguro de que seja bem cuidada e possa integrar-se, sem risco, ao patrimônio cultural do Rio Grande do Norte. É que Rossini se confessa decepcionado com as instituições, em geral. Não faz muito tempo, sofreu ele na pele uma grande decepção envolvendo um professor que se apresentou como representante da UFRN e, com o seu arrivismo e oportunismo de carreirista acadêmico, o colocou em situação de grande constrangimento; aparentemente, esse professor agia sem o conhecimento do Departamento de Artes, numa demonstração de que a esperteza é a alma do negócio…
Isaura Rosado, secretaria de Cultura, deu-lhe carta branca. Nele enxergou um colaborador ativo e desprendido, alguém que quer dar em vez de barganhar. Que, sem pensar em lucro quer enriquecer o nosso patrimônio cultural, ao contrário de muitos atravessadores que dão c0m mão de gato, amealhando lucro sob a suposta generosidade ou “contribuição”… É Rossini um nobre doador – como diria a atriz Sonia Santos, que tem lhe dado suporte nessa aventura exploratória digna de um artista cônscio do que cria.
Rossini, ser ecológico, integrado a vida, respira outra vez Natal e deplora-lhe a ausência do passado, alem de estarrecer-se com o estado em que se encontra a cidade. Embora portentosa, Natal pareceu-lhe caduca, sem referencias, desmemoriada e mergulhada na sujeira, com um destroço de guerra – a guerra que por quatro anos o Partido Verde moveu contra a cidade. São constatações que o consternam e dão a medida do atraso cultural em que nos encontramos ainda em relação a outras capitais do Pais. Natal, seja dito, não lhe cheirou bem… Mas, encontrou receptividade em Isaura Rosado e em colaboradores como Sayonara.
Rossini, como ser humano, é muito gentil. É alguém que ama o trabalho e se fortalece, como Proteu, ao pisar a terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário