Um final pouco feliz
CARLOS ROBERTO
DE MIRANDA GOMES, advogado e escritor
No último dia 2
deste mês de outubro do ano de 2012, a sociedade potiguar teve uma surpresa
desagradável – a comunicação do encerramento da circulação impressa do
tradicional DIÁRIO DE NATAL.
Fundado no
momento histórico da eclosão da Segunda Guerra Mundial, esse jornal, mercê da
importância estratégica da cidade de Natal, tornou-se um veículo consultado em
todo o Brasil e em algumas partes do mundo, haja vista a sua conexão com o palco
do conflito bélico.
Sua criação
aconteceu no dia 18 do mês de setembro de 1939, contando,por conseguinte,com a
vetusta idade de 73 anos, quase exatamente com o meu nascimento, oito dias
antes.
Inicialmente
foi denominado simplesmente “Diário”, por Valdemar Araújo, Aderbal de França,
Djalma Maranhão e Rivaldo Pinheiro, mas em abril de 1942 foi vendido ao
empresário Rui Moreira Paiva e, em 25 de janeiro de 1945 foi comprado pelo
grupo Associado, de Assis Chateaubriand, que mudou o seu nome para O DIÁRIO DE
NATAL em 4 de março de 1947, assim permanecendo até os dias presentes.
Sua sede,
inicialmente, foi na Rua Dr.Barata, depois na Frei Miguelinho, em seguida na descida
da ladeira da av. Rio Branco, já no começo da Ribeira, passando para as novas
instalações da ladeira da av.Deodoro, onde também funcionava a Rádio Poti, sob
o comando do destemido e controvertido jornalista Luiz Maria Alves e somente em
2010 transferiu-se para a nova sede do Centro da Zona Norte de Natal.
Foi considerada
a maior escola de jornalismo do Estado, por ela passando articulistas da maior
envergadura e que fizeram novas escolas e fundaram outros jornais, como no caso
de Vicente Serejo e Cassiano Arruda. Escritores consagrados foram seus
colaboradores e o jornal passou a compor o patrimônio cultural do Rio Grande do
Norte.
Em 29 de julho
de 1954 foi criado o jornal “O POTI”, que substituía a circulação de O Diário
de Natal nos dias de domingo.
Pioneiro em
modernização técnica de impressão, atravessou alguns momentos de dificuldades o
que lhe obrigou a retirar de circulação “O Poti”, depois retornando, atendendo
aos insistentes pedidos da população.
Fez publicações
memoráveis sobre a história da cidade e de pessoas ilustres, em capítulos,
depois condensados em livros.
Tive alguma
vivência com o jornal, pois trabalhei na Rádio Poti e conduzia matérias de
divulgação da parte artística, a pedido do jornalista Sebastião Carvalho e
cheguei até a gravar músicas com a orquestra de Julio Granados, ao tempo do
Dr.Edilson Varela, mantendo programa semanal com Agnaldo e Selma Rayol, além de
participar dos programas de Luiz Cordeiro e Genar Wanderley.
Na qualidade de
tradicional assinante e ainda com contrato válido, estranhei a falta de informação
sobre o assunto, senão pela lacônica comunicação, que considero desrespeitosa e
que põe em risco o conceito de um veículo que fez história e cujos arquivos
devem ser recolhidos a um banco de dados acessível aos pesquisadores.
O Ministério
Público deve atentar para alguma providência, pois se trata de material
histórico que ganha foros de documentos de utilidade pública.
Ontem, na
sessão plenária da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do
Norte, que tinha um espaço aos sábados, propus um voto de protesto pelo
acontecimento.
Louvo a
reportagem de O Novo Jornal sobre o assunto e a manifestação de inúmeros
intelectuais e jornalistas. Seria de grande valia uma entrevista com o Dr.Eider
Furtado, um dos pioneiros da imprensa potiguar.
ONDE ESTÁ O
RESPEITO AO CIDADÃO?
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