sábado, 6 de outubro de 2012


Um final pouco feliz
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, advogado e escritor

No último dia 2 deste mês de outubro do ano de 2012, a sociedade potiguar teve uma surpresa desagradável – a comunicação do encerramento da circulação impressa do tradicional DIÁRIO DE NATAL.
Fundado no momento histórico da eclosão da Segunda Guerra Mundial, esse jornal, mercê da importância estratégica da cidade de Natal, tornou-se um veículo consultado em todo o Brasil e em algumas partes do mundo, haja vista a sua conexão com o palco do conflito bélico.
Sua criação aconteceu no dia 18 do mês de setembro de 1939, contando,por conseguinte,com a vetusta idade de 73 anos, quase exatamente com o meu nascimento, oito dias antes.
Inicialmente foi denominado simplesmente “Diário”, por Valdemar Araújo, Aderbal de França, Djalma Maranhão e Rivaldo Pinheiro, mas em abril de 1942 foi vendido ao empresário Rui Moreira Paiva e, em 25 de janeiro de 1945 foi comprado pelo grupo Associado, de Assis Chateaubriand, que mudou o seu nome para O DIÁRIO DE NATAL em 4 de março de 1947, assim permanecendo até os dias presentes.
Sua sede, inicialmente, foi na Rua Dr.Barata, depois na Frei Miguelinho, em seguida na descida da ladeira da av. Rio Branco, já no começo da Ribeira, passando para as novas instalações da ladeira da av.Deodoro, onde também funcionava a Rádio Poti, sob o comando do destemido e controvertido jornalista Luiz Maria Alves e somente em 2010 transferiu-se para a nova sede do Centro da Zona Norte de Natal.
Foi considerada a maior escola de jornalismo do Estado, por ela passando articulistas da maior envergadura e que fizeram novas escolas e fundaram outros jornais, como no caso de Vicente Serejo e Cassiano Arruda. Escritores consagrados foram seus colaboradores e o jornal passou a compor o patrimônio cultural do Rio Grande do Norte.
Em 29 de julho de 1954 foi criado o jornal “O POTI”, que substituía a circulação de O Diário de Natal nos dias de domingo.
Pioneiro em modernização técnica de impressão, atravessou alguns momentos de dificuldades o que lhe obrigou a retirar de circulação “O Poti”, depois retornando, atendendo aos insistentes pedidos da população.
Fez publicações memoráveis sobre a história da cidade e de pessoas ilustres, em capítulos, depois condensados em livros.
Tive alguma vivência com o jornal, pois trabalhei na Rádio Poti e conduzia matérias de divulgação da parte artística, a pedido do jornalista Sebastião Carvalho e cheguei até a gravar músicas com a orquestra de Julio Granados, ao tempo do Dr.Edilson Varela, mantendo programa semanal com Agnaldo e Selma Rayol, além de participar dos programas de Luiz Cordeiro e Genar Wanderley.
Na qualidade de tradicional assinante e ainda com contrato válido, estranhei a falta de informação sobre o assunto, senão pela lacônica comunicação, que considero desrespeitosa e que põe em risco o conceito de um veículo que fez história e cujos arquivos devem ser recolhidos a um banco de dados acessível aos pesquisadores.
O Ministério Público deve atentar para alguma providência, pois se trata de material histórico que ganha foros de documentos de utilidade pública.
Ontem, na sessão plenária da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte, que tinha um espaço aos sábados, propus um voto de protesto pelo acontecimento.
Louvo a reportagem de O Novo Jornal sobre o assunto e a manifestação de inúmeros intelectuais e jornalistas. Seria de grande valia uma entrevista com o Dr.Eider Furtado, um dos pioneiros da imprensa potiguar.
ONDE ESTÁ O RESPEITO AO CIDADÃO?

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