sexta-feira, 5 de outubro de 2012



NO SUPREMO, O ÚLTIMO FIO DE ESPERANÇA
Por Henrique Miranda Sá
Tenho convivido, eu e minha mulher, com uma situação de convalescência dela, com um problema que os médicos classificam como a “memória da dor”. É que a memória, como um gravador, retém situações da biologia molecular e requer um tratamento (demorado) para esquecer a desagradável sensação da dor física.
Em psiquiatria, a memória é a capacidade de fixar, recordar ou reconhecer qualquer tipo de fatos psicobiológicos, psicológicos ou de natureza sociológica. Estuda-se a Lei de Ribot, que assegura a retentiva de fatos mais antigos sobre os mais recentes.
Acho que é o que encontramos no que considero uma ‘lavagem cerebral’ sofrida por alguns setores ‘de esquerda’ após a redemocratização do País. E a primeira persuasão ideológica foi o que os marxistas chamam ‘doença infantil do comunismo’: o obreirismo.
Na sua genialidade, o general Golbery – planejando a abertura lenta e gradual da ditadura militar – frustrou o PCB e o PTB criando um novo partido ‘à esquerda’. Encontrou o agente ideal para isso; o sindicalista pelego da Volkswagen, Lula da Silva, com perspicácia e carisma capazes de encantar os intelectuais da USP…
O obreirismo dos acadêmicos perfilou virtualmente um operário metalúrgico, virgem do manobrismo político, para liderar o País no caminho de uma utopia socialista. E assim diluiu na memória de muitos idealistas a nostálgica ideologia do ‘socialismo real’, sepultado nos escombros do muro de Berlim.
Não dá tempo (e falta espaço) para historiar como esse grupo conquistou o poder político; apenas ressaltar que foi através de um estelionato eleitoral.
Ajudou-os na empreitada a massa de seguidores sebastianistas, trazendo na memória uma mescla de ilusão e realidade, uma obsessão esquizofrênica. Esses robôs obedecem às palavras-de-ordem dos chefes do partido sem pensar, e por isso os vemos defender os corruptos do Mensalão, e, o que é pior, atacar o Supremo Tribunal Federal, uma das últimas instâncias da moralidade nacional.
A última sessão do julgamento do Mensalão no STF revelou com clareza meridiana que houve corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e compra de votos parlamentares para apoiar o governo Lula.
Até com o voto de um ministro ligado e comprometido com o esquema lulo-petista, Dias Toffoli, que surpreendeu votando pela condenação dos parlamentares denunciados por corrupção passiva e refugando a tese do ‘Caixa 2′.
Essa farsa do ‘Caixa 2’ e uma ilusória ‘falta de provas’ moveram nos últimos sete anos o núcleo do partido interno, hoje sem militância voluntária, na defesa dos companheiros envolvidos no esquema corrupto.
Mesmo assim, os robôs se mantiveram defendendo os mensaleiros, apesar da contundente denúncia da Procuradoria-Geral da República, com provas bastantes para convencer os juízes da mais alta corte de Justiça do País. A PGR desfez a astuciosa invenção das sobras de campanha distribuídas sem contrapartida…
O tiro de misericórdia partiu do decano do Supremo, Celso de Melo, com um voto de qualidade afirmando: “Esses atos de corrupção significam tentativa imoral e penalmente ilícita de manipular criminosamente o processo democrático”. E classificou os mensaleiros como ‘marginais do poder que formaram uma quadrilha de assaltantes de cofres públicos’.
Lembrou-me um personagem de Brecht que recebendo justiça num pleito sob o regime nazista, exclamou: “Ainda há juízes em Berlim!”
Apesar disso, uma manada de fanáticos (na sua maioria pendurada no aparelho de Estado ou obtendo benesses governamentais) lança um manifesto sem qualquer ressonância social ou intelectual, defendendo os criminosos e atacando o STF. Justapõe-se entre as assinaturas Oscar Niemeyer, cuja secular respeitabilidade lhe dá o direito de assinar o que bem quiser e entender…
.E-mail do autor: mirandasa@uol.com.br

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