domingo, 19 de agosto de 2012


DE POETAS E DE POESIAS


Quem sou para ti?
João Salvador

Tenho tanto de louco,
como de insano.
Sou um eterno apaixonado,
ou serei apenas estouvado?

Serei para ti desejado
ou um homem rejeitado?
Queres-me ou não me queres?
Afinal quem sou para ti?

Diz-me mulher,
Senão ensandeço.
Não me deixes enlouquecer.
Que lugar ocupo no teu coração?

Por favor amor!
Não me deixes morrer
Sem saber …
Se um dia te posso ter!


SUGAR E SER SUGADO PELO AMOR


"Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua."



(Carlos Drummond de Andrade)





DEUS NÃO ESTÁ FORA
Horácio Paiva
  
Deus não está fora
não saiu a passeio

A linguagem de Deus se espalha

Há quem fale com os pássaros
e com os peixes
como Francisco e Antônio

Há quem fale com as pedras
e mesmo com o deserto
mas isto só os iluminados
como os velhos eremitas

E no pão consagrado
Deus está dentro
À porta de sua casa
Relembrando das minhas brincadeiras
Meu primeiro cavalo foi de pau,
E eu tentava acerta um bacurau
Ensaiando um galope nas ladeiras.
Minhas armas eram as baladeiras,
Mas na mira não era abalizado.
Passarim? Acertei só um: coitado!
Ao lembrar, desse dia, eu envelheço,
Pois eu enquanto for vivo não esqueço
Do lugar que nasci e fui criado


Menino, Moleque Menino.
Ivam Pinheiro

Cai à tarde
Menino, moleque descola.
Corre, joga essa bola.
Deixa, senta, fala e chora.
Conta às tristezas – incertezas,
que vem de toda a clareza
dessa transitória rotina cotidiana de uma vida nômade cigana. 

Chega à noite.
Menino, moleque esquece.
Corre, deita, agasalha e adormece.
Esquadrinha a fantasia de linda era,
E tolera, a magia é luz na rua lá fora.
O seu cândido rosto inocente se cora. 
Do sonhar logo esboça um sorriso
e viaja livre para além-paraíso.

Vem o dia.
Acorda moleque menino.
O sol te reclama e cedo vem à labuta.
Prematuro te mostra à força bruta,
ou te caçam pras drogas a insidiosa garra.
Aprende o gol fazer – meta de difícil barra.
Recomeça tudo que o tempo é divino.
Refazer é ser sempre o seu destino. 


                        Epílogo
                        Manuel Bandeira
            Eu quis um dia, como Schumann, compor
            Um carnaval todo subjetivo:
            Um carnaval em que o só motivo
            Fosse o meu próprio ser interior.....
            Quando acabe,i  -- a diferença que havia!
            O de Schumann é um poema cheio de amor,
            E de frescura, e de mocidade...
            E o meu tinha a morta mortacor
            Da senilidade e da amargura...
            O meu carnaval sem nenhuma alegria !...

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