segunda-feira, 20 de agosto de 2012



Transcrito do NOVO JORNAL l Natal, 19 de Agosto de 2012
Por Franklin Jorge
E-mail: franklin_jorge@rocketmail.com
Diz-se que não está só quem lê. Nada mais verdadeiro, para mim, que desde a infância tenho contado sempre com essa excepcional companhia – a leitura. Alias Proust já o disse de maneira irretocável: “a leitura é uma companhia”, ao que acrescentaria eu, a melhor provisão para a velhice.
Abaixo, alinhavo algumas notas sobre minhas últimas leituras:
.”Melhores contos de Walmir Ayala”, Editora Global [2011], selecionados pela professora Maria da Glória Bordini, que os apresenta. Walmir, autor prolífico, escreveu pouco nesse gênero, apenas dois livro: “Ponte sobre o rio escuro” (1974) e “O anoitecer de Vênus” (1998), além de alguns inéditos. Poeta – até mesmo quando escrevia em prosa -, ficcionista, crítico, dramaturgo, estudioso das artes plásticas, deixou ao morrer, em 1991, mais de 100 obras para publicação. É dos mais representativos autores de livros destinados às crianças, alguns, como “O coelhinho Miraflores” e “Assombrações da Formiga Meia-noite”, constituem verdadeiros clássicos infanto-juvenis. Diz a antologista: “A arte do conto tem uma tradição poderosa nas letras brasileiras, bastando lembrar a contínua repercussão nacional e internacional da contística de Machado de Assis, Clarice Lispector ou Guimarães Rosa. Os três não podem ser mais diferentes entre si, mas a capacidade de criar, em curtos espaços de textos, enredos inesperados, personagens memoráveis e significações psicológica e historicamente esclarecedoras os une. Ingressar num cânone em que convive figuras como essas é uma árdua tarefa, que Walmir Ayala enfrentou lutando com as armas de seu talento, como aprendera com os amigos Cecília Meireles e Lúcio Cardoso, de que ele diz: ‘Tive exemplos extraordinários nessas duas pessoas, como não fazer da literatura uma espécie de mercado de favores, de sucessos, de glórias pequenas’”. Recomendo.
.Desde o seu livro de estreia, Aldo Lopes de Araújo já se afirmava como um verdadeiro autor literário. Nascido em Princesa Isabel (PB), radicou-se em Natal e aqui obteve, em 2005, o “Prêmio de Literatura Luís da Câmara Cascudo” (láurea que me coube também no ano do centenário) com “O dia dos cachorros”, romance que acaba de sair em 2ª edição revista pela editora pernambucana Bagaço, enriquecida com ilustrações de Alberto Lacet que interpreta e traduz o texto ágil e fluente em traços carismáticos. Bem embalado graficamente, o livro faz jus ao conteúdo que nos revela um autor maduro e senhor do seu engenho literário. Nele, o autor amplia, de maneira inesquecível, um dos episódios mais significativos da Revolução de 30, a Guerra de Princesa, na qual o coronel José Pereira, comandante em chefe de uma tropa de guerreiros, proclamou a emancipação do município paraibano do sistema federativo corrompido por uma cultura de favores prodigados por velhos coronéis usufrutuários das benesses que a política proporciona. Um grande momento da prosa de ficção contemporânea.
.Águeda Mousinho brinda-nos com “Ressaca”, um longo poema alucinante e cheio de verve que foge dos exercícios convencionais do gênero que entre nós dão o nome de poesia. Li-o tomado de viva admiração por essa lírica que nada tem de “feminina”, pois o que nele prevalece é essa dicção não engessada pelo sentimentalismo que frequentemente, em mãos inábeis, se disfarça em lirismo. Um lirismo viril, portanto, esse forjado por Águeda, que se revela ainda numa forte cumplicidade com outros poetas da mesma linhagem estética de construtores de versos, como T.S. Eliot, Pound, Ginsberg. Li-o, pois, como se costumava dizer antigamente, “de uma assentada”, isto é, de maneira ininterrupta e quase sem fôlego diante desse engenho que só podia nascer da cachola de quem leu todos os livros e sabe controlar a efusão pela técnica. A lamentar, somente, a modesta edição promovida em boa hora pela seção local da UBE: “Ressaca” merecia uma embalagem gráfica à altura do seu mérito.
.A crítica de Manoel Onofre Júnior não aumenta nem diminui nenhum autor. Depois de “A primeira feira de José” – contos singelos que delatam o seu entranhado amor à terra martinense -, tem perseverado, há anos, na divulgação do autor potiguar e nesse afã tem se destacado entre nós, fazendo às suas custas um papel que caberia às instituições criadas para esse fim. Agora, desejava fazer um registro de seu penúltimo livro, “Conversa na calçada” – que me parece, de todos os que escreveu no gênero, o melhor, o mais leve e solto -, inspirado em suas leituras, mas não o encontrei em meio a Babel de livros e papéis que ameaça sufocar-me.
Já encerrava essas linhas quando lembrei-me que mais recentemente o autor publicou mais um título sob a chancela da seção local da União Brasileira de Escritores, que passou a ter um Plano Editorial e há pouco criou uma nova coleção que homenageia a memória de Nati Cortez, dramaturga, autora de várias peças destinadas ao público infanto-juvenil. Refiro-me a “Alguma prata da casa”, no qual continua enfocando, pacientemente, os autores locais.

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