sábado, 21 de maio de 2011
A velha moradora da Rua Meira e Sá
Precisamente no dia 19 passado, dia em que Lenilson Carvalho publicou em O Jornal de Hoje o seu segundo artigo sobre “Reminiscências do bairro Barro Vermelho”, a geografia sentimental da Rua Meira e Sá perdeu uma das suas mais antigas moradoras – Dona Sebastiana de Lira Freire, conhecida como “Dona Paroquinha”, mercê de sua descendência de Dona Paroca Rios Bacurau.
Ao contrário do que se pensava, seu nascimento não ocorreu nas cercanias de Igapó-Extremoz, mas ela é oriunda de Quixadá, no Estado do Ceará, mas ainda menina veio para nossa terra, onde integrou-se, em definitivo na sua paisagem.
Fui criança brincando em seus quintais, juntamente com seu filho Lito (Emmanoel de Lira Freire) e seu Lindo (Lindemberg) e outros, numa convivência rica e rodeada de carinho e amor.
Dona Paroquinha e Seu José Freire, duas pessoas sensíveis, nos abrigava como filho fossemos do casal.
Lembro bem que sua atividade principal era a fabricação de bolos de todos os tamanhos, para a venda nas padarias da região. Dois operários marcaram aquela pequena fábrica – Raimundo e Zé de Bob, que nos ofertavam protótipos daquelas guloseimas para aprovarmos o seu sabor.
Do casal vieram os filhos Emmanoel, Ana Maria, Margarida e Cristina, que lhes deram netos e bisnetos, com os quais convivemos muitos e muitos anos em permanente confraternização.
Dona Paroquinha era também uma enfermeira sem diploma, pois era quem aplicava injeções nas pessoas da vizinhança, sem custos.
Após o almoço era costumeira a reunião nos fundos da casa com Dona Suzana e Dona Bete, numa longa conversa dos acontecimentos mais recentes da cidade ou do bairro.
Nos últimos tempos, já viúva de Seu José, ela sempre se postava na varanda da sua casa, no andar superior, a contemplar os transeuntes e lhes retribuir cumprimentos com acenos de mão. Olhos azuis marcantes, gravou no coração dos moradores do Barro Vermelho uma impressão imorredoura que, até a possível derrubada da sua antiga casa, quem por ali passar não deixará de dirigir um olhar buscando a silhueta da sua velha moradora para um cumprimento respeitoso.
Pouco a pouco, a placidez de uma pequena rua vai se modificando, perdendo a horizontalidade que cumpliciam os elos da vizinha, por uma verticalidade inevitável da cidade que cresce mais rápido do que a sua infra-estrutura permite, quebrando irreversivelmente o calor humano de antes.
São coisas da vida e do tempo. Resta-me reafirmar com Tristão de Athayde aquela expressão que muito me tem marcado: “O passado não é aquilo que passa, mas o que fica do que passou”.
Estimado Lenilson, não esqueça de inserir em suas próximas crônicas, essas figuras notáveis do nosso Barro Vermelho.
Um abraço do seu velho companheiro de farda, Carlos Gomes.
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Amigo Carlinhos, sem dúvidas uma linda e comovente mensagem. Acabo de reenviá-la para Lito.
ResponderExcluirDe: "Ciro José" Exibir informações de contatoPara: "'CARLOS GOMES'"
ResponderExcluirCarlos amigo: Excelente o texto sobre dona Paroquinha, que arquivei na pasta Textos alheios.não a conheci ,mas pelo seu escrito imagino a figura que foi. Você lembra o Tristão de Athayde, ao final e aqui eu complemento com o Eugene O’
Neill, na peça Uma Lua para os Mal Nascidos : “ não há presente nem futuro. Só passado acontece, agora”.
Abraços do Ciro José.