HOMENAGEM DE AMIGO
Valério Mesquita
Natal perdeu em 09 de julho de 2004, o brilho da inteligência do poeta e
escritor Franco Maria Jasiello. Italiano, naturalizado brasileiro em 1977, mas
natalense e norte-rio-grandense por lei e reconhecimento coletivo pelos
serviços prestados à cultura. Nascido em Roma, residia em Natal desde 1974.
Ocupou inúmeros cargos e funções, desde a presidência da Fundação José Augusto
– FJA, diretor da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, membro do
Conselho Estadual de Cultura do Estado, passando pela Assessoria Cultural da
Capitania das Artes, da FIERN, da UFRN, além de crítico de arte nacional e
internacional até a Secretário Substituto da Agricultura, a todos eles
emprestou o seu talento inconfundível de humanista e artesão do verso e da
palavra.
Publicou nove livros, sendo seis de poesia e por quatro vezes ganhou o
Prêmio Otoniel Menezes em 1981, com “Itinerário do Imprevisto” e em 1984, com
“Anatomia da Ausência”. Ainda no mesmo ano escreveu “Correspondência Atrasada”
que lhe valeu o Prêmio Nacional Guararapes da União Brasileira de Escritores.
Pesquisador permanente, demonstrou mais uma vez a sua versatilidade intelectual
ao editar o ensaio “Mamulengo – O Teatro Mais Antigo do Mundo”, fazendo jus ao
Prêmio Câmara Cascudo. Trabalhou em jornais e publicou centenas de trabalhos
sobre diferentes assuntos literários e artísticos, estimulando os novos
pintores do Estado e abrindo horizontes à classe acadêmica da UFRN.
Franco foi objeto de minhas indagações, quando passei pela FJA, que não
encontravam respostas no fato de não ter ocupado uma cadeira na Academia
Norte-Riograndense de Letras. Tinha mérito, livros e notável saber. A força de
sua cultura era tão forte que a mídia natalense, após sua morte aos setenta e
um anos, divulgou que era membro da nossa ANL. O fato é que a sua presença,
conduta e o labor haviam se agregado aos templos maiores da sabedoria. Franco
só fez cultura por onde passou e a levava a todos os lugares. A sua voz forte
com sotaque italiano jamais se perderá nos vãos e desvãos do prédio da rua
Mipibu. De raciocínio rápido, memória privilegiada e humor fino, quase
cortante, Franco também não será esquecido como adorável conversador.
Convivi com ele tanto na FJA como no Conselho Estadual de Cultura por
vários anos. Deixou-me inúmeras lições de vida nos exemplos e nas conversas
amenas. Quando exerci a política sempre recebi dele e da esposa Conceição, voto
de qualidade, do qual muito me ufanava. Ele concluiu em Macaíba, como
presidente da FJA, a luta que eu iniciara como prefeito pela restauração do
Solar do Ferreiro Torto. Jamais esquecerei aquela tarde solene em que destacou
o meu trabalho ao lado dos governadores Tarcísio Maia (RN), com quem eu estava
estremecido, e Aloísio Chaves (Pará).
Franco Maria Jasiello foi mais uma humana coluna do Capitólio que Roma
enviou para lembrar a região do Lácio onde nasceu entre as sete colinas.
(*) Artigo publicado no livro "Inquietudes"
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