O
RIO GRANDE DO NORTE EM CANUDOS-BA
O
34 BI deixou em Natal um contingente de 35 praças, sob o comando do tenente
Cícero Monteiro
Por CARLOS ADEL –
Membro do IHGRN
Em 29 de março de
1897, quando, no Cais da Alfândega Velha, depois e ainda hoje conhecido como o
Cais Tavares de Lira, embarcava no vapor “UNA”, o efetivo do 34º Batalhão de
Infantaria, com destino às caatingas baianas, convocado que fora pelo
Ministério da Guerra. Iria participar dos combates ao levante comandado por
Antônio Vicente Mendes Maciel, “Antônio Conselheiro”, movimento esse que veio a
ser chamado de “Guerra de Canudos”. Era Governador do Estado Joaquim Ferreira
Chaves. Presidia o Brasil, eleito por voto direto, Prudente de Morais, o
Ministro da Guerra era o Marechal Carlos Machado Bittencourt, e o Ministro da
Justiça era o po-tiguar Amaro Cavalcanti.
O 34º BI embarcou
com 225 graduados e soldados, e sob o comando do Major An-tônio Ignácio de
Albuquerque Xavier; Fiscal, o capitão Francisco de Paula Moreira; ajudante,
tenente José da Costa Vilar Filho; Quartel Mestre interino, o alferes
Fran-cisco Normínio de Souza; Secretário, o alferes João Lins de Carvalho; 1ª
Companhi-a, comandante alferes Honorino de Almeida; subalternos os alferes
Joaquim Pedro-sa de Oliveira, Polychronio Santiago, João Cavalcanti de
Albuquerque, Ezequiel Estanislau de Medeiros; 2ª Companhia, comandante capitão
de Barros Falcão; subalternos os alferes João Augusto Cezar da Silva, Alexandre
Carlos de Vasconcelos, Faustino Freire da Costa, Braz Elysio de Medeiros,
Francisco Fernandes de Lima, Mnoel do Nascimento Monteiro e José de Magalhães
Fontoura Filho; 3ª Companhia, comandante alferes Joaquim Theotonio de
Medeiros,; subalternos os alferes Antônio Fernandes de Brito Filho, Miguel Hipólito
de Melo, Nestor da Silva Brito, João Baptista do Rego Monteiro, João Armando
Vieira Lemos e Hermenegildo Pessoa de Melo; 4ª Companhia, comandante capitão
João Gomes da Silva Leite, subalternos os alferes Joaquim Calistrato Leitão de
Almeida, Eurico Caldas, Flaviano Brito, Joaquim Carrilho e Miguel Dantas;
Sargento Ajudante Luiz Gonzaga de Figueiredo e Sargento Quartel Mestre Antônio
Augusto de Paiva.
O 34 BI deixou em
Natal um contingente de 35 praças, sob o comando do tenente Cícero Monteiro, ficando
também um agenciador de voluntários, o tenente Hermínio Coelho; e guardando o
material bélico o alferes Quartel-Mestre Francisco Monteiro. Deixaram de
seguir, por se encontrarem doentes, o tenente Francisco Barros e os alferes
Dácio de Albuquerque e Fausto Paiva.
O quartel ficava
aonde hoje está encravado o Colégio Winston Churchill, com a frente voltada
para onde fica o SENAC, e dali partiram em cortejo, indo à frente o Governador
do Estado, os representantes dos congresso federal e estadual, magistrados,
chefes de repartições e delegados das diversas associações; logo após,
seguiu-se a Companhia de Aprendizes de Marinheiros e, acompanhado do povo, o
efetivo do 34º BI. Fechando o cortejo seguia o Batalhão de Segurança. Todo o
trajeto foi coberto de folhas, numa valiosa e significativa homenagem, com a
Banda de Música, sob a regência do sargento Abdon Trigueiro, executando o
dobrado “Saudades da Minha Terra”, do mestre potiguar Estêvão Guerra. No
embarque, aplausos, discursos, a vibração com sorrisos e choros dos presentes.
Naquela mesma
ocasião o poeta Segundo Wanderley declamava um poema que terminava assim:
“Olhai ! Este povo inteiro
Que vos contempla de pé,
Traz su’alma banhada
Nos esplendores da fé.
Avante ! A luta se inflama
Já Tiradentes vos chama
Lá das trincheiras azuis
Voai, brasílios condores
- Ides cobertos de flores,
- Voltai
banhados de luz.”
Daí a poucos dias
estariam engajados nas lutas ferozes do campo de batalha, nos sertões da Bahia,
até que na tarde do dia 5 de outubro de 1897, declarado como o “Dia da
Vitória”, quando o Coronel Julião Augusto da Serra Martins, comandante da 5ª
Brigada registrou na “Ordem do Comando” que a missão estava cumprida,
acres-centando que “Perdeu esta Brigada muitas praças e o 34º BI foi o que
sofreu maior número de baixas.”
Foram 41 os
potiguares que deixaram suas vidas nas caatingas baianas, Nossos historiadores
deixaram de registrar esses fatos de maior grandeza histórica, pois uma só
palavra não se encontra em suas inúmeras páginas escritas sobre os mais
variados assuntos. Apenas nos jornais da época encontramos alguns esparsos
re-gistros, além da obra clássica de Euclides da Cunha “Os Sertões”, e mais
recente-mente o romance que retrata como os jagunços supostamente
neomonarquistas chamavam os defensores da República de “anticristos”, no dizer
de Mario Vargas Llosa, em sua obra “A Guerra do Fim do Mundo”.
Chegara ao
final os combates. A guerra terminara. Chegava ao fim um dos maiores conflitos
internos, senão o maior deles, com a participação do Exército Brasileiro.
Restava o regresso dos sobreviventes para o aconchego de suas famílias. Esse
re-torno, para o 34 BI, efetivou-se em meados de dezembro daquele ano de 1897,
no mesmo porto de onde partiram.
Dos poemas
recitados por ocasião do retorno dos heróis do 34º BI, destacam-se as estrofes
finais do “Apoteose”, de Lima Filho, que dizia:
“Um sentimento sublime
Cada semblante traduz!
A volta dos Spartanos!
Da Terra de Santa Cruz!
O sol no manto infinito
Burila o nome bendito
D’esta luzida cohorte
Soldados a vossa glória
Doura uma folha da história
Do Rio Grande do Norte!
“Vibre-se a nota suave
Da escala das sensações!
Rasgue-se o véu da tristeza
Que envolvia os corações!
No vosso lar amoroso
Uma torrente de goso
Cada palavra produz!
Da intrepidez aos ardores
“Fostes cobertos de flores,”
“Voltais cobertos de luz”.
Bem como do poema de saudação de Caldas Sobrinho:
“E não valeu a estratégia
Do monarquismo sagaz
Fostes tão bravos nas linhas,
Quanto nas cargas audaz
Pois aos sinal transmitido
Por belicosas cornetas,
Foi-se ao covil dos jagunços
Ao choque das baionetas.
“Salve! punhados de bravos!
Salve! guerreiros cohorte!
Ó filhos estremecidos
Do Rio Grande do Norte!
Salve! memória d’aqueles
Que lá ficaram no val
Para sempre amortalhados
Na gratidão
nacional!”
Com o retorno dos
guerreiros do 34º BI, a Natal, teve início uma campanha, encam-pada pelo jornal
“A República”, visando a angariar recursos para a construção de um monumento em
homenagem aos mortos naquela campanha belicosa, e ao Exército Brasileiro. Dessa
forma foi construído no Cemitério do Alecrim, nesta Capital, um “monumento
cívico” único em todos os centros de onde partiram os batalhões empenhados
naquela luta.
Trata-se de um
projeto assim descrito:
“Uma pirâmide
quadrangular truncada no vértice, de onde se destaca outra pequena pirâmide de
facetas recurvadas, sobre cuja convergência assenta uma cruz de ci-mento,
simbolizando a religião do Crucificado. A pirâmide maior contém uma única
inscrição, colocada no alto de sua faze anterior, onde de destaca sobre um
pequeno nicho circundado por duas ordens de frisos pretos, esta incomparável
sentença da Augusto Comte – “OS VIVOS SÃO SEMPRE E CADA VEZ MAIS GOVERNADOS
PELOS MORTOS”
O pedestal consta
primeiro de três planos superpostos em escadaria, sobre o menor dos quais
repousa uma coluna de forma prismática, recebendo em sua parte superi-or a base
da pirâmide maior.
Uma cornija divide
esta coluna em duas porções, circundando-a inteiramente. A face anterior da
metade inferior da coluna básica contém um lindo baixo relevo, de cores
naturais, simbolizando o belo escudo da República. Um grande medalhão com fundo
amarelo sobre o qual assenta a esfera azul simbólica, com a faixa branca
contém, em verde o lema político e científico – ORDEM E PROGRESSO. Circundam-no
quatro palmas verde-primavera.
Sobre a esfera
destacam-se, em relevo, as 21 estrelas brancas na disposição das constelações
que abrilhantam o nosso céu e ornamentam o incomparável da República
brasileira.
A porção superior
da mesma coluna apresenta em suas quatro faces outras tantas inscrições, na
seguinte ordem, partindo da anterior pela direita de monumento: AOS ABNEGADOS
MÁRTIRES DA REPÚBLICA EM CANUDOS, AO GLORIOSO EXÉR-CITO BRASILEIRO, HOMENAGEM
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, AO HERÓICO BATALHÃO 34 DE INFANTARIA.
Todas essas
inscrições são feitas sobre quatro nichos circundados de frisos pretos.
Todo o monumento é
de cor de mármore ordinário, com as cornijas mais escuras, os planos inferiores
azuis, e as inscrições pretas. Na parte mais inferior da coluna, des-tacam-se
quatro medalhões, com cores de passa, sobre espelhos simbólicos.
A coroa deverá ser
colocada em um grampo de metal amarelo, fixado na parte ante-rior e superior do
monumento, cuja despesa orçou em 450$000 (quatrocentos e cin-quenta contos de
réis)”.
Esse monumento foi
inaugurado em 29 de março de 1898, e já em 1910, era dado como abandonado.
Aconteceu, porém, que em fevereiro de 1978, o Presidente do Instituto Histórico
e Geográfico, Dr. Enélio Lima Petrovich, provocado e incentivado pelo
Historiador Raimundo Nonato da Silva, procurou o Coronel de Infantaria Eider
Nogueira Mendes, então Comandante Geral da Polícia Militar-RN, convencendo-o a
promover a restauração daquele monumento que se encontrava em ruínas. Foi daí
que a Polícia Militar assumiu todos os reparos e em 29 de março daquele ano,
dian-te das mais altas autoridades do Estado, entre civis, militares e
eclesiásticas, educa-dores, representantes de entidades culturais e estudantes,
e na presença da Im-prensa, prestigiaram aquele ato cívico da consagração das
memórias dos que se tornaram merecedores da admiração e do respeito público,
pela coragem e pelo sa-crifício com que lutaram em terríveis combates, neles
tombando sem vida. O Dr. Ro-drigues de Melo fez a saudação pela recuperação de
tão importante monumento, contando sua história e significado para a sociedade
potiguar. A bênção do monu-mento foi feita por D. Nivaldo Monte, Arcebispo de
Natal.
O monumento está
encravado na alameda principal, a uns 30 metros do portão, no lado esquerdo,
tendo ao lado o monumento em homenagem ao Padre João Maria, o “Santo de Natal”.
O estado em que se encontra é de completo abandono, em ruinas, sem a bela
decoração e suas legendas. Lamentavelmente, assim é que nossas
ins-tituições não devem tratar nossos heróis.
Cabe-nos repetir
aqui as palavras de “CHANTECLER”, pseudônimo do cronista utili-zado na edição
de “A República”, em 18 de outubro de 1910, quando já reclamava sobre o
abandono daquele monumento:
“Mas será possível
que isso continue? Não teremos nós ainda a primeira estima e admiração pelos
extintos de Canudos, que honraram nos combates sangrentos o nome de nossa
terra?
A memória dos
nossos mortos é um dos estímulos mais poderosos na luta pela vida. Conservemos
com desvelo a homenagem de pedra aos soldados do 34.
Custa tão pouco!
Uma restauração do monumento, que se conservará e flores, mui-tas flores
ornando-lhes a solidão.”
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