A PRIMEIRA ÁRVORE DE NATAL EM NATAL
Horácio Paiva *
Em sua “Acta
Diurna”, de 8/01/1960, intitulada “Cinqüentenário da Primeira Árvore de Natal”,
registra o mestre Câmara Cascudo uma curiosidade: a exibição, em 24 de dezembro de 1909, da primeira
Árvore de Natal em nossa cidade. E diz, em detalhes explicativos: “Foi
no salão do Natal Club, o primeiro, a 24 de dezembro de 1909, às oito horas da
noite porque, naquele tempo, não se pensava nas vinte horas”.
Renovo
o registro ante a oportunidade da informação, já que vivemos, mais uma vez,
neste ano da graça de 2022, o ciclo natalino, completando, no próximo 24 de
dezembro, cento e treze anos da introdução, entre nós, dessa árvore especial,
feita do brilho dos sonhos.
Especula-se
sobre qual a origem desse símbolo que, ao lado de tantos outros -
presépio, Papai Noel, luzes ornamentais, ceia, presentes -
interpretam a alegria do Natal.
Tem-se que o
costume de iluminar árvores no Natal surgiu no norte da Europa. Chegam alguns a
atribuir a Lutero o pioneirismo. Contam que, em 1530, ele teve a ideia, ao
apreciar a beleza dos pinheiros cobertos pela neve em noite estrelada. A cena
teria inspirado, ao seu espírito místico e contemplativo, a homenagem que
prestaria ao nascimento do Senhor. Em sua casa, compôs a árvore, com um pequeno
abeto, algodões e lanternas.
Já em 1605,
em Estrasburgo, França, há o registro de uma Árvore do Natal erguida na via
pública. Na América Latina, porém, o costume é de fins do século XIX e começo
do século XX.
Na
realidade, é um símbolo novo. A nossa mais antiga tradição natalina, decoração
em torno da qual festejavam os nossos antepassados, é a do presépio, que segue
a criativa idéia do pobrezinho de
Assis, hoje com seus quase oitocentos anos de comemoração.
E esse
presépio que gerou presépios - ao longo dos anos da cristandade e até
hoje -
era um presépio vivo. São Francisco o fez representar numa gruta de
Greccio, Itália, na noite de 24 de dezembro de 1223. Tudo era vivo: o menino
Jesus, São José, Maria, os Reis Magos, os pastores e as pastoras, a vaca, o
burrinho... e as miunças. Interpretava o menino Jesus o filho de uma camponesa
local, que ali era Nossa Senhora.
Não tenho
dúvidas da beleza, da simplicidade e da forte emoção daquele espetáculo, pleno
de ternura e devoção, protagonizado por gente do povo, sonhado e conduzido, em
pureza e amor, pelo poverello, o
“pobre de Deus”, São Francisco de Assis.
Em poucos
versos, sem ação verbal, mas tão-somente com a nota estática da contemplação,
na simplicidade natalina, também construí um presépio, abstrato - mas
iluminado pelo olhar de Maria:
NATIVIDADE
Luz
na estrebaria:
sobre
as dores do mundo
o
olhar de Maria.
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Horácio de Paiva Oliveira - Poeta, escritor, advogado, membro do
Instituto Histórico e Geográfico do RN, da União Brasileira de Escritores do RN
e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA.
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