MACAÍBA
PEDE SOCORRO
Valério
Mesquita*
mesquita.valerio@gmail.com
O rio Jundiaí, no trecho em que atravessa
a cidade de Macaíba, perdeu o solo, o curso, o chão, o cheiro, a visão e é
ameaça a segurança dos habitantes. Entre o parque governador José Varela e a
praça Antônio de Melo Siqueira, há mais de dez anos, deixaram crescer no leito
poluído sinistros manguezais que enfeiam um dos mais bonitos logradouros
urbanos, construído em 1950 (52 anos). Essa selva esconde lixo doméstico,
carcaças de animais, marginais do tráfico de drogas em todo o seu percurso e os
galhos já ultrapassam a altura da ponte e das balaustradas. A imprensa já
publicou, excelente matéria sobre tudo que ameaça e destrói os rios Potengi e
Jundiaí. Mas, o foco da minha questão e, creio, dos cidadãos macaibenses,
reside exatamente neste aluvião de perguntas: por que o Idema e o Ibama não
evitam, aparando, podando, somente nesse trajeto o “matagal” entre o antigo
cais histórico do porto até a outra lateral da ponte? Por que não permitem a prefeitura o fazer? Isso não afeta o meio ambiente em
nada. É até risivel dizer isto.
A praça e o parque perderam o charme de
antigamente. Ninguém enxerga ninguém, olhando de um lado para o outro. A
conscientização ambiental deve ser obedecida até onde não prejudique a
funcionalidade urbanística e o senso prático e plástico do mapa citadino. Desde
quando, em 1950, se planejou e se construiu a estrutura de pedra e cal das duas
margens, o choque do progresso jamais prejudicou a superfície do rio, nem
cortou os manguezais. Nem, tão pouco, molestaram o rio, a expansão e o
crescimento habitacional. Pelo contrário, a construção ordenou a trajetória das
águas e defendeu as ruas periféricas contendo os transbordamentos. Contemplo,
hoje, que os problemas das inundações estão equacionadas com a construção da atual
barragem de Tabatinga. Por que os órgãos responsáveis não permitem apenas nesse
pequeníssimo trajeto fluvial o corte da poluição que amputa a paisagem urbana e
memorial de Macaíba?
Ali, a vegetação desproporcional encobre
um dos pontos históricos do município. Refiro-me ao cais das antigas lanchas
que faziam o percurso fluvial entre Macaíba e Natal: a lancha do mestre
Antonio, o barco de João Lau, além da lancha “Julita” que transportou tantas
vezes Tavares de Lyra, Eloy, Auta e Henrique Castriciano de Souza, Augusto
Severo, Alberto Maranhão, João Chaves, Octacílio Alecrim e tantas outras
figuras notáveis ou não da vida social, cultural, política e econômica. Ali, o
centenário cais, jaz sob os escombros de verdes balizas envergadas e
fantasmagóricas. A visão noturna é tétrica e arrepiante. Desfigura e mutila os
padrões estéticos do planejamento da urbe que a faz parecer abandonada e suja.
Até a lua cheia que nasce lá por trás do Ferreiro Torto foi encoberta.
Assim como se deve obedecer a educação
ambiental, do mesmo modo, exige-se o tratamento e o corte, no pequeno trecho do
matagal inútil por parte do Idema e do Ibama a fim de evitar o represamento do
lixo no leito, exclusivamente urbano. Nas capitais e cidades importantes do
Brasil banhadas por rios não se vê tratamento tão e indiferente da parte das autoridades.
Ao redimensioná-lo neste texto, cabe uma reflexão, um reestudo sobre o cenário
dantesco do rio Jundiaí na parte descrita. O povo macaibense tem o direito de
ouvir e a coragem de duvidar que esse desdém dos parlamentares, que devora e
perturba, seja explicada e resolvida, sem slogans, clichês, palavras de ordem,
lugares comuns, peças de marketing ou princípios dogmáticos. Que venham à lume
as boas intenções e que não fique a história de Macaíba submersa na floresta de
manguezais. Até hoje, nenhum deputado federal ou estadual, senador ou
governador, se preocupou com o problema. Mas, em outubro vêm pedir votos. Sugiro
ao prefeito de Macaíba e aos vereadores que convidem os seus candidatos para
visitarem a ponte, a praça Antonio de Melo Siqueira e o parque José Augusto
Verela estão um lixo.
(*) Escritor
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