Antuérpia 1920 e Tóquio 2020
Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN
Ao se comparar as recentes Olimpíadas do Japão e as realizadas em 1920, na Bélgica, nota-se que algo similar envolveu as duas: as pandemias virais causadas pelo SARS-Cov-2, com a Covid-19, e pelo H1N1 , com a gripe espanhola. Em ambos os Jogos houve protestos, tanto dos belgas quanto dos japoneses, para que a grande festa esportiva não ocorresse em seus países, com receio de se agravarem as condições de saúde de suas populações. Porém, no caso dos Jogos de 1920, um outro fator contra o evento foi até pior, pois o armistício que pôs fim à Primeira Guerra mal acabara de ser selado. Um estudo feito na Universidade Gent, da Bélgica, aponta a Guerra como o principal fator nas barreiras para as Olimpíadas de 1920, apesar da gravidade da gripe espanhola. Veja-se, por exemplo, a ausência dos países derrotados, Alemanha, Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia, além da URSS, que preferiu ficar de fora. No rastro da Guerra, restou a pobreza em escala mundial e a consequente restrição de gastos com as Olimpíadas, a começar pelas acomodações dos atletas, que dormiam em camas sem colchões e em salas para 15 pessoas. A alimentação foi à base de pão, sardinha e café, ficando outras despesas por conta das delegações. Consta que grande parte da equipe dos Estados Unidos viajou para a Europa no mesmo navio usado para devolver corpos de soldados americanos mortos em combate, meses antes. O forte odor de formol muito perturbou a viagem dos atletas daquele país. Essas enormes dificuldades servem para mostrar a força do esporte, capaz de promover a paz por meio de competições renhidas e saudáveis. Tanto nos jogos de Antuérpia quanto nos de Tóquio, o COI apostou e ganhou com as decisões de manter os dois grandes eventos. Uma matéria na Folha de S. Paulo, assinada pela jornalista Anna Virgínia Balloussier, aborda esse assunto de forma bem interessante. Começa com uma foto da atleta norte-americana Ethelda Bleibtrey (1902- 1978), vencedora de todas as provas de natação, em 1920. Ela foi presa por retirar as meias que usava para nadar em uma piscina, até então uma prática obrigatória, e a sua ousadia venceu o atraso. As Olimpíadas de Antuérpia 1920, cidade histórica da Bélgica, terra natal do grande pintor Peter Paul Rubens (1577-1640), marcaram a estreia do Brasil nos Jogos. Os 21 atletas brasileiros fizeram uma viagem no navio a vapor Curvelo, numa travessia que durou quase um mês, sem conforto e desgastante. Os patrícios ganharam três medalhas, todas no tiro, inclusa uma de ouro, do tenente Guilherme Paraense. Foi na Bélgica que, pela primeira vez, tremulou a bandeira olímpica com os cinco aneis, houve a revoada de pombos da paz e ouviu-se o juramento dos atletas. Em Tóquio, a tecnologia dominou, haja vista os belos espetáculos na abertura e no encerramento, inclusive com a beleza dos origamis de papel no lugar e para o sossego dos pombinhos brancos. Texto publicado na Tribuna do Norte, em 30/09/2021
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