Cartas de Cotovelo – 17/01/2020
Oitava Carta (com Saudade)
A viagem final do Menino
Passarinho
Neste 16 de janeiro de 2020 recebi mais uma notícia
de tristeza, o falecimento no Rio de Janeiro, onde morava desde os 10 anos, do
cantor e compositor Luiz Rattes Vieira,
nascido em Caruaru em 12 de outubro de 1928, em consequência de deficiência
respiratória. Era casado com Eurídice
Pereira.
O
pernambucano foi criado pelo avô, no interior do estado, em Alcântara, mas a
sua primeira composição deu-se quando tinha apenas 8 anos e, por isso, ganhou a
fama com o codinome de "príncipe
do baião" e fez sucesso nos anos 1950 como radialista nas rádios
Record e Tupi.
Responsável
por mais de 500 canções e muitos sucessos, o estimado compositor, no entanto,
começou a sua vida trabalhando em diversas outras funções - Chofer de caminhão,
motorista de táxi e engraxate.
O
estilo de Vieira guardou sempre o sentir pungente do nordestino e logo cedo
consagrou-se compondo toadas, canções e cantigas como em 1953, com Menino de Braçanã, consagrada pelos artistas cantores
Ivon Cury e Zizi Possi, de
épocas diferentes. Adotou o linguajar do
matuto estilizado, de poetas populares como o paraibano Zé da Luz, e o
maranhense Catulo da Paixão Cearense, e
desenvolveu-se, tanto em canções assinadas só por ele, quanto nas parcerias com
o maranhense João do Vale. Os dois assinaram clássicos como Nas Asas do Vento,
A Voz do Povo, Estrela Miúda, Maria Filó (O Danado do Trem) e Estrada do Columbandê.
Era um homem culto e pertenceu à elite do rádio
carioca dos anos 50 e 60, com consagradora passagem no programa da TV Jornal do
Commercio de Pernambuco, onde o conheci e passei a admirar, tornando-se
presente em minha vida desde então.
É
autor de clássicos da MPB, como Prelúdio Para Ninar Gente Grande (Menino
Passarinho) e Paz do meu Amor (Prelúdio Nº2).
Afirmam seus biógrafos que em 1958, Luiz Vieira
lançou o primeiro, e provavelmente seu melhor disco: “Retalhos do Nordeste” A
Música e a Poesia de Luiz Vieira (Copacabana). Já em 1951, gravou no selo
Todamérica, tendo suas composições gravadas por inúmeros cantores e cantoras como
Ivon Cury, Marlene, Inezita Barroso, Alaíde Costa, muita gente boa. Retalhos do
Nordeste. São dez faixas, parte delas com uma orquestra dirigida pelo maestro
Moacir Santos.
Luiz Vieira não era apenas cantor ou cantador, como preferia e compositor,
mas encenava as suas composições contando histórias, que o tornava diferente
dos demais cantores da época. Teve grande influência do estilo iniciado por Luiz
Lua Gonzaga e seus parceiros.
Em
2018, quando o cantor completou 90 anos, o produtor Thiago Marques promoveu um
show tributo a Vieira, no Teatro Itália, em São Paulo, que virou disco Luiz Vieira 90 anos, em 2019, com selo da
Kuarup, contendo 20 composições e participação de nomes como os de Zeca
Baleiro, Daniel, Maria Alcina, Renato Teixeira, Claudette Soares, Sérgio Reis, As Galvão, Verônica Ferriani e Ayrton
Montarroyos, tendo a direção musical e arranjos das gravações do pianista
Alexandre Vianna, direção, e produção artística do espetáculo, e do álbum de
Thiago Marques Luiz. O texto de apresentação é assinado por Rolando Boldrin,
que se confessa influenciado por Luiz Vieira, assisti-lo na TV fez com que se
voltasse para a carreira artística.
Ao lado de Luiz Gonzaga, apresentou o programa
“Salve o Baião” na Rádio Tamoio, no Rio. Em São Paulo, o artista foi cantor da
rádio Record. Vieira compôs músicas para Caetano Veloso, Rita Lee, Nara Leão, Moacyr
Franco, Elba Ramalho, Hebe Camargo,
Maria Bethânia e o próprio Luiz Gonzaga, ainda Taiguara, Pery Ribeiro, Augusto Calheiros, Gilberto Alves,
Agnaldo Rayol, Cascatinha e Inhana, Sérgio Reis, e Marcelo Costa.
Gravou criações de Assis Valente, foi produzido
por Moacyr Santos e recrutou os sanfoneiros Dominguinhos, Chiquinho do Acordeon
e Zé Menezes para um projeto dedicado ao forró.
Discografia
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(1951) Pai, acende o lampião/Caixa d,água • Todamérica • 78
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(1951) Baião da Vila Bela/Coreana • Todamérica • 78
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(1952) O retirante/Largo do Cafunçu • Todamérica • 78
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(1952) Dona Catulina/Chova ou faça sol • Todamérica • 78
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(1953) Pegando sol/A lenda do chafariz • Todamérica • 78
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(1953) Rolinha minha saudade/Toada com Maria Jesuína •
Todamérica • 78
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(1954) Pirraça/Lelê belezinha • Todamérica • 78
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(1954) O menino de Braçanã/Os olhinhos do menino • Todamérica •
78
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(1954) Paroliado/Desfeita • Todamérica • 78
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(1955) Viva a Penha/Sodade furadera • Odeon • 78
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(1955) Quem come bebe tudo/Mamãe bate • Odeon • 78
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(1955) Rolinha fogo pagô/O lenço da moça • Odeon • 78
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(1956) Maria Filó (O danado do trem)/Ambrosina • Copacabana • 78
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(1956) Forró do Frutuoso/Meu crucifixo • Odeon • 78
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(1957) Estrada de Columandê/Corridinho da saudade • Copacabana •
78
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(1958) Cantiga da lembrança/Embolada mudou • Copacabana • 78
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(1959) Retalhos do Nordeste • Copacabana • LP
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(1959) Futucando/Milho verde • Copacabana • 78
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(1960) A intrigante/Guarânia do amor sofrido • Copacabana • 78
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(1962) Encontro com Luiz Vieira. Volume 1 • Copacabana • LP
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(1962) Pagando o pato/Meu sentido era na bela • Copacabana • 78
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(1962) Prelúdio pra ninar gente grande/Jaguaribe • Copacabana •
78
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(1963) Paz do meu amor (Prelúdio nº 2)/Taí no que dá •
Copacabana • 78
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(1971) Em tempo de verdade • Copacabana • LP
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(1974) Luiz Vieira • Odeon • LP
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(1978) Na asa do vento • CBS • LP
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(1986) 40 anos de música • Continental • LP
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(1992) O melhor de Luiz Vieira • Movieplay • CD
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(2000) Os grandes sucessos • Polidisc • CD
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([S/D]) Encontro com Luiz Vieira. Volume 2 • Copacabana • LP
LUIZ
VIEIRA, o meu respeito, admiração e saudade.
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