quinta-feira, 19 de setembro de 2019



OUTRA VISÃO DE TAIPU
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, sócio do IHGRN

                Compulsando a recente publicação da Revista nº 98 (julho de 2019), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, deparei-me com dois arquivos que se entrelaçam na história de dois municípios da nossa zona da mata – Taipu e João Câmara (Baixa Verde).
        Sem renegar as informações dos seus autores, respectivamente João Batista dos Santos e Aldo Torquato, senão o meu desconhecimento da inimizade entre João Câmara e o Desembargador João Maria, decidi complementar alguma coisa dos textos, pelo fato das minhas raízes com o lugar Pitombeira, então do meu avô, Coronel João Gomes da Costa, terra onde nasceu meu pai, Desembargador José Gomes da Costa.
        O nome Taipu, segundo alguns historiadores, vem da linguagem dos índios potiguares (primitivos habitantes): Itaipi (era um aldeamento indígena), consoante citação do padre Manuel de Morais, apud CASCUDO, localizada a sete milhas ao oeste do Rio Grande do Norte. Mas poderia ser, também, de Itaipu, que significa pedra preta, tipo de solo arenoso existente naquela região, de tabuleiro com partículas silicosas, pedras e minérios, nas terras do Tapuio.
        Noticia-se que em 1645, durante o domínio holandês já se convivia com aldeias indígenas chefiadas por Antônio Papapeba.
        Ainda invocando o Mestre CASCUDO, ali existia em 1709 um poço de Manoel Rodrigues Coelho, nas terras da Fazenda Tabuleiro do Barreto, de propriedade de Antônio Alves da Rocha, que chegou a possuir olarias. Mas igualmente possuía massapé, nos vales úmidos, com húmus de arisco que se prestava a cultivo de cereais – mandioca, fruticultura, sem desprezar a criação de gado. Também solo
        O nome inicial da povoação, já em fase de colonização era conhecido como “Picada”, abertura onde começa o sertão até o Mato Grande (zona da mata). O início do seu desenvolvimento aconteceu no século XIX, com a participação dos fundadores do povoado Jorge Pegado Galvão, Marcos Pereira dos Santos, Bernardo Gadelha, André Soares da Silva e Joaquim José da Costa, alcançando as cercanias das povoações Barreto, Poço Branco, Gameleira, Contados, Boa Vista e Pitombeira, chegando a alcançar terras das localidades Ceará-Mirim, Extremoz, Genipabu, Muriú e Taipu.
        Depós, são registrados alguns beneficiamentos: em 1851 foi concluída uma capela em louvor a Nossa Senhora do Livramento, após trinta anos de labuta, sendo anualmente comemorada desde novembro de 1913; em 1864 criou-se uma escola; em 28 de junho de 1889 o distrito de Picada mudou seu nome para Taipu, ganhando Delegacia de Polícia e sendo desmembrada de Touros para Ceará-Mirim.  Em 10 de março de 1891 a Vila foi desmembrada de Ceará-Mirim pelo Decreto nº 97 do então Governador provisório Francisco Amintas da Costa Barros, sendo seu primeiro intendente o Capitão Candido Marcolino Monteiro. Fez-se Freguesia em 18 de abril de 1913 e Comarca em 16 de janeiro de 1960.
        Contudo, o seu desenvolvimento efetivo só aconteceu no final do século XIX, mas sobretudo no começo do século XX, com atividade econômica sustentável na avicultura, agricultura, pecuária e exploração de pedreiras. A Vila tornou-se cidade (Município) em 29 de março de 1938, quando era prefeito Rosendo Leite da Fonseca.
Estudos mais aprofundados foram desenvolvidos pelos escritores da região, JOSÉ HUMBERTO DA SILVA e TEREZINHA DIAS DA SILVA que escreveram o livro “Genealogia e História de Quatro Famílias Taipuenses”, preservando fidelidade às raízes da Terra Taipu, mostrando a saga dos pioneiros que, pondo de lado as vicissitudes da região, deram seu suor e sangue pela esperança visionária de alcançar prosperidade econômica, política e religiosa, ao mesmo tempo em que lhes prestam um justo tributo. Afinal, quem não cultua o seu passado não encontrará rumo do futuro.
        Taipu fez-se Vila e foi conduzida gozando o respeito do povo e de Deus, gerando uma povoação rica de homens de bem, na concepção preconizada por Mateus, 5. 44 a 48, tanto que doou ao mundo alguns descendentes de Mártires de Cunhaú e Uruaçu.
        No entanto, é mister que se faça justiça a alguns taipuenses que se destacaram pela dedicação de suas famílias, em particular quatro delas, aqui retratadas como as famílias que se seguem, três das quais de um mesmo tronco: Miranda, desenvolvida do nascedouro português de João Gomes Carneiro, que se casou com Ana Ferreira de Miranda e alargou-se com os Rodrigues Santiago (da Silveira), Câmara (Boa e da Silva), Severiano da Câmara,  Azevedo, Peixoto, Torres, Arruda, Soares, Pereira, Paiva, Paula, Amaral Lisboa, Ferreira (da Cruz, de Miranda), Leite da Fonseca, Furtado Menezes e Gomes da Costa; a família Rodrigues Santiago que ampliou sua estirpe com os Gomes da Costa (da Silva), os Praxedes, os Melo, os Rodrigues da Silveira, posteriormente com os Raposo da Câmara, Rabelo Dantas, Alves de Medeiros, Rego, Galvão, Urbano de Araújo, Amaral de Andrade, Leite da Fonseca e outros, partidos dos embriões de Jerônimo Ferreira de Miranda e Felipa Rodrigues da Silveira; segue-se a família do Coronel João Gomes da Costa, da qual sou oriundo, do tronco Manoel Gomes da Costa e Cândida da Costa Gadelha, que se tornou dona dos povoados Gameleira e Pitombeira onde teve feira livre e parada de trem onde se deu o início da bela trajetória de João Severiano da Câmara, casado com Maria (AA), cujo patriarca entrelaçou-se com as irmãs Bernardina e Anna Rodrigues Santiago, construindo uma prole numerosa. Esta última, por sua vez, era viúva de Sérgio Guedes da Fonseca, tendo, ainda, o concurso dos Gomes de Araújo, vindos da Paraíba, os Gomes de Almeida, Borges, Cunha Lima, Nobre da Costa, Ferreira da Costa (da Cruz), Soares da Câmara (da Silva, Severiano, Arruda), Leite da Fonseca, Furtado, Menezes, Rodrigues da Silva; completando o estudo temos a família Ponte ou  Pontes, que tem origem espanhola/portuguesa de Bartolomeu Pontes casado com Margarida Ribeiro, cujas raízes nordestinas (Ceará) surgem de Gonçalo Ferreira de Pontes, casado com Maria de Matos Coutinho, ele filho de Cosme de Freitas Pereira e Joana Barros Rego Coutinho até Alexandre Ferreira de Pontes – o grande patriarca, sendo que o ramo de Taipu surgiu de Manoel Alexandre de Pontes e Francisca Florentino(a) de Pontes, com o entrelaçamento das famílias Vieira, Gomes Costa, Aguiar e Bezerra de Menezes, do Estado do Ceará.
        Com estas poucas linhas não tenho o atrevimento de apresentar nenhuma informação definitiva da terra taipuense, mas apenas apontar uma bibliografia mais consentânea com a realidade, com indicação de autores que efetivamente têm o peso necessário para traçar a história, os costumes e as tradições da terra dos papagaios.


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Obras consultadas:
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte, Natal e Rio de Janeiro: Ed. FJA e Achiamé, 1984.
_________________ História de Um Homem (João Severiano da Câmara), Natal: DIRN, 1954.
LYRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte, Brasília: Gráfica do Senado, 2012.
MORAIS, Marcus Cavalcanti de. Terras Potiguares, Natal: Ed. Foco, 2004.
NOBRE, Manuel Ferreira. Breve História Sobre a Província do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2011 (reprodução da impressão de 1877).
SILVA, José Humberto da. Centenário de Fundação da Paróquia de Taipu – Ação e Fé, Natal, Ed. Do autor, 2013.
_______________ A Vila de Taipu e as famílias Ferreira da Cruz e Boa da Câmara, Natal, Ed. Do autor, 2011.
_______________ em parceria com SILVA, Terezinha Dias da. Genealogia e História de Quatro Famílias Taipuenses, Natal, 2019 (no prelo).


Um comentário:

  1. Fiquei surpreso, tinha sua trisavó paterna como Clara Maria de Jesus Paiva
    Cândida da Costa Gadelha seria filha de Bernardo José da Costa Gadelha e Inácia Maria do Carmo?

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