domingo, 27 de janeiro de 2019



CARTAS DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 13) 

            É do domínio popular o adágio: “o que é bom dura pouco”. Contudo ele não representa mais do que uma forma de ver as coisas.

Um período de veraneio deve ser encarado como um momento infinito face às mudanças comportamentais no estilo de vida nem sempre o mais adequado, para convocar para um convívio mais aconchegante com a família e os amigos.

O contato mais relaxado com a natureza e o gozo pelas suas dádivas nos oferta a oportunidade de realizar tarefas inusitadas ou divertimentos incomuns, amadurecendo os mais jovens e dando algum alento de juventude aos idosos – todos caminhando sobre as areias alvas da praia e sendo tocados pelas águas limpas e mornas, quando do cair do dia.

Nesses momentos é fácil contemplar o que sempre existiu, mas não era percebido – o nascer e o entardecer de cada dia, acompanhando a trajetória do Astro Rei; a beleza do reflexo da Lua na mansidão das mansas ondas do mar de Cotovelo; ouvir os sons das árvores ou das quebradas das ondas do mar, numa sinfonia inspiradora; o cantar dos pássaros anunciando o amanhecer e a maravilha do silêncio das noites mal iluminadas, sentindo o sopro constante de uma brisa litorânea.

De repente retornamos a uma época lúdica da convivência com os nativos, como só era possível na vida interiorana das minhas passagens pelas paisagens bucólicas de Angicos, Penha e Macaíba em tempos inesquecíveis, andando de pés nus, das feiras de cada lugar, do tirar dos sacos das mercearias algum torrão de açúcar bruto, buscar os frutos e legumes fresquinhos como aqui se repete na feirinha de Pium.

Nas casas da praia, inexplicavelmente, temos melhor sabor para o pão de cada dia, do café da tarde, o desjejum com cuscuz, tapioca e inhame, harmonizando-se com o bom estado de espírito que a todos contamina.

Todos esses acontecimentos me retornam à infância da Redinha, às sessões dos cinemas de Natal, hoje inexistentes como antigamente. A propósito, o veraneio me leva ao filme “Amor de Outono”, com o jovem ator Gino Leurini e sua primeira experiência de amor em um veraneio europeu, película que me foi presenteada pelo inesquecível Dr. Ernani Rosado, quase setenta anos depois que eu o tinha assistido, trazendo de volta a minha emoção de adolescente (Cinema Rex).

Agora vem a realidade cruel – o dia de retorno à selva de pedra, momento indesejável de arrumar as malas, a volta da rotina citadina e a invasão irreversível da saudade que invade o nosso ser, notadamente no caso de um idoso que não tem a garantia de um próximo veraneio.

Mas em fevereiro farei um breve retorno, de passagem apenas para interromper a prescrição até que chegue a quarta-feira de cinzas, quando o hiato será muito mais acentuado, quando então se fecham as cortinas do espetáculo.

Afinal, temos o lenitivo de que em todo findar existe um renascer. Economizarei forças para voltar ao seio da minha “nirvana” no próximo tempo de emoções praianas 2019-2020, se Deus assim o permitir.

Tchau!!!!!!.

 (Cotovelo/Natal, 27 de janeiro).


Um comentário:

  1. Até logo, professor! Obrigada pela presença acolhedora e maravilhosa, pelos textos diários no blog, pelo apoio efetivo e valoroso nas atividades da PROMOVEC, pelo presente da histórica publicação do livro "PROMOVEC - uma linda história "e muito mais. Desejo breve recuperação do pequeno acidente, muita inspiração e muitas alegrias.

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