OUTRAS
CARTAS DE COTOVELO – 06- 18/janeiro/2017
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
Impossível
ficar indiferente ao que vem ocorrendo na Penitenciária de Segurança Máxima de
Alcaçuz – verdadeiro paradoxo com a busca da tranquilidade dos que procuram
recuperar suas forças na aprazível Praia de Cotovelo, vizinha à pacata
comunidade do Pium.
O problema vem de longas datas, desde quando
há 18 anos foi inaugurado esse equipamento prisional. Reclamam uns que o local
de dunas é incompatível pela textura do solo. Contudo, um presídio de segurança
máxima tem uma técnica que se torna indiferente o solo onde é erguido. O caso,
na realidade, foi incompetência, descuido e falta de manutenção física e de
recursos humanos, exageradamente inferiores ao necessário e mesmo assim com
pessoal jejuno de reciclagem, armamento e assistência pertinente à importância
desse centro de reclusos.
A situação calamitosa não é local, mas
decorrente da falta de uma política nacional de Segurança Pública. A propósito
disso, deve-se rememorar uma matéria engendrada pelo jornalista Arnaldo Jabor,
em 2006, em uma coluna do Jornal O Globo, quando teria entrevistado o apenado líder
do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, conhecido por “Marcola”. Verdadeira ou
não, merece se levar em consideração alguns aspectos da matéria:
“Estamos
todos no inferno. Não há solução, pois não conhecemos nem o problema. O GLOBO:
Você é do PCC? – Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e
invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole
resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural,
desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca
vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para
nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas
sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos
com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início
tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão… O GLOBO: – Mas… a solução seria…– Solução? Não há mais solução, cara…
A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas
do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução
como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um
governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico,
revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta
quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia
burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você
acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do
Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo
penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias
municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre
presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança
psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não
há solução. O
GLOBO: – Você não têm medo de morrer? – Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês
não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós
somos homens-bomba.”
É a banalização
do sistema punitivo, que agora vive dias de agonia, com medidas de emergência,
sem a métrica apropriada. No RN fala-se em contratação emergencial, mas com
ameaça de greve dos agentes policiais, e uma possível intervenção das forças
armadas, ainda imunes às intempéries da corrupção.O momento exige cautela e
união!
A população
aguarda e espera uma solução definitiva, séria, consistente e sustentável.
Vale a pena
repisar: vamos mudar Penitenciária para outro complexo, construído dentro da
técnica adequada e transformar a edificação existente numa Central de
Abastecimento, que o local é apropriado para isso.
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