terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Outras Cartas


OUTRAS CARTAS DE COTOVELO04 - 10/janeiro/2017

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
       
       


        É uma tarde típica de verão. Da minha varanda recebo a brisa do mar, suave e esvoaçante, resvala nas folhas do cajueiro e dos coqueiros da casa vizinha, da família do meu saudoso irmão Fernando, trazendo um som agradável da natureza.
        Ao meu lado, nas primeiras traquinagens dos seus poucos meses, Luma, a cadelinha de Carlos Neto, destrói voluptuosamente uma velha sandália de borracha de velhos carnavais vividos aqui na praia.
        A minha rede espreita ansiosa, pelo meu corpo cansado para me render homenagens, pois logo mais ocuparei, por inteiro, o seu seio.
        Sinceramente, apesar do repouso forçado pelo declínio da saúde, abalada com uma crise aguda de diverticulite, estou com uma paz de criança dormindo, um pouquinho incomodado com uma mordidinha de carinho da sem vergonha de Luma, que sangrou, ocorrido num descuido entre uma lambida na orelha e a dilaceração da sandália. Arrependida me enche com novas lambidas nas perdas. Thereza me socorreu com Metiolate – está tudo sob controle.
        O sol ainda está longe de ir para o seu leito e, num dado momento, Thereza vem completar o meu devaneio, como sempre (são 63 anos de casamento), acompanhada dos seus livros de oração.
        Aliás, este veraneio vem produzindo uma salutar novidade – a leitura familiar do Livro Sagrado, pensamentos e salmos, fortalecendo o espírito para melhor suportar as agruras do cotidiano.
        O beija-flor amigo não veio hoje, fiquei com saudade, como estou igualmente com a não presença dos bichanos da casa da cidade, bem cuidada por Margarete na nossa ausência e dos seus múltiplos habitantes: Chana, Rabuda,Fofa, Téo com suas três perninhas, o casal pretinho, as três malhadas, as branquelas e agora com Labirim, este o único ainda original, pois os outros já foram libertados dos percalços afrodisíacos da rua.
        As árvores e os frutos preenchem a vista, em contraste com os telhados das edificações vizinhas.
        Paro alguns instantes para descansar a mãe e, na medida em que retomo o escrito, vejo o sol caminhando para dar lugar ao anoitecer que já conta com a imagem da lua entre o azul do céu e as nuvens de carneirinho, preparando-se para reinar esplendorosa daqui a alguns dias.
        Transeuntes me chamam a atenção – são jovens com suas pranchas de surf, pescadores amadores e banhistas, em silêncio, que retornam às suas casas e alguns casais que passeiam de mãos dadas com suas crianças. As daqui enriquecidas hoje com a presença dos filhos de Roquinho/Daniela – Maria Clara e Guilherme.
         Saibam - a beleza do momento não me faz notar o incômodo dos carros e motos que passam a intervalos de tempo (hoje é dia útil). Como é bom ouvir somente o que gostamos.
        Obrigado Deus por este dia!
       
       


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