OUTRAS
CARTAS DE COTOVELO – 04 - 10/janeiro/2017
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
É uma tarde típica de verão. Da minha
varanda recebo a brisa do mar, suave e esvoaçante, resvala nas folhas do
cajueiro e dos coqueiros da casa vizinha, da família do meu saudoso irmão
Fernando, trazendo um som agradável da natureza.
Ao meu lado, nas primeiras traquinagens
dos seus poucos meses, Luma, a cadelinha de Carlos Neto, destrói voluptuosamente
uma velha sandália de borracha de velhos carnavais vividos aqui na praia.
A minha rede espreita ansiosa, pelo meu
corpo cansado para me render homenagens, pois logo mais ocuparei, por inteiro,
o seu seio.
Sinceramente, apesar do repouso forçado
pelo declínio da saúde, abalada com uma crise aguda de diverticulite, estou com
uma paz de criança dormindo, um pouquinho incomodado com uma mordidinha de
carinho da sem vergonha de Luma, que sangrou, ocorrido num descuido entre uma
lambida na orelha e a dilaceração da sandália. Arrependida me enche com novas
lambidas nas perdas. Thereza me socorreu com Metiolate – está tudo sob
controle.
O sol ainda está longe de ir para o seu
leito e, num dado momento, Thereza vem completar o meu devaneio, como sempre
(são 63 anos de casamento), acompanhada dos seus livros de oração.
Aliás, este veraneio vem produzindo uma
salutar novidade – a leitura familiar do Livro Sagrado, pensamentos e salmos,
fortalecendo o espírito para melhor suportar as agruras do cotidiano.
O beija-flor amigo não veio hoje, fiquei
com saudade, como estou igualmente com a não presença dos bichanos da casa da
cidade, bem cuidada por Margarete na nossa ausência e dos seus múltiplos
habitantes: Chana, Rabuda,Fofa, Téo com suas três perninhas, o casal pretinho, as
três malhadas, as branquelas e agora com Labirim, este o único ainda original,
pois os outros já foram libertados dos percalços afrodisíacos da rua.
As árvores e os frutos preenchem a
vista, em contraste com os telhados das edificações vizinhas.
Paro alguns instantes para descansar a
mãe e, na medida em que retomo o escrito, vejo o sol caminhando para dar lugar
ao anoitecer que já conta com a imagem da lua entre o azul do céu e as nuvens de
carneirinho, preparando-se para reinar esplendorosa daqui a alguns dias.
Transeuntes me chamam a atenção – são jovens
com suas pranchas de surf, pescadores amadores e banhistas, em silêncio, que
retornam às suas casas e alguns casais que passeiam de mãos dadas com suas
crianças. As daqui enriquecidas hoje com a presença dos filhos de Roquinho/Daniela –
Maria Clara e Guilherme.
Saibam
- a beleza do momento não me faz notar o incômodo dos carros e motos que passam
a intervalos de tempo (hoje é dia útil). Como é bom ouvir somente o que
gostamos.
Obrigado Deus por este dia!
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