O PÁSSARO CANTANTE: ELINO JULIÃO
Berilo de Castro
Elino
Julião (Timbaúba dos Batistas/RN, 13 de novembro de 1936 - Natal, 20 de
maio de 2006). Filho de Sebastião Pequeno, tocador de cavaquinho e
concertina (instrumento musical diatônico, de palhetas livres, com fole,
semelhante a um acordeão) e de Lucymar, ambos forrozeiros natos.Tiveram
dezessete filhos, dos quais onze sobreviveram. Elino, foi o segundo
mais velho. Cresceu em um ambiente verdadeiramente musical, tendo como
foco maior o forró (ritmo, música e dança popular de origem nordestina
que possui temática ligada aos aspectos culturais, principalmente aos
festejos juninos, fauna e flora, como também aspectos do cotidiano da
região).
Sua
vida amorosa foi recheada de aventuras e romantismo. Manteve por vinte e
dois anos convivência amorosa com Marineide da Penha Silva, com quem
casou quando ainda era uma criança com apenas catorze anos. Casamento de
papel passado e tudo -(Elino Julião - o cantador do Seridó - Damião
Nobre, p. 46). Depois da separação, se uniu com Maria Veneranda de
Araújo, sua admirada produtora musical.
No quente sertão do Seridó,
tinha como ofício “butador d’água” junto ao seu estimadíssimo jumentinho
“Moleque”, no sítio Toco, quando cantarolava batendo numa lata as
modinhas que aprendia na festa de Santana em Caicó-RN.
Começou a cantar ainda garoto na sede do Caicó Esporte Clube.
Cantar para Elino já era um sentimento de prazer inigualável e êxtase.
Na
década de 1950, com apenas 15 anos, pegou “morcego” no caminhão de
Artur Dias, comerciante da região do Seridó e veio para Natal, mais
precisamente para o bairro das Quintas, morar na casa de uma tia, e logo
agregou-se ao meio artístico da cidade, onde foi cantar no Programa
Domingo Alegre da Rádio Poti, de frente com o ícone da radiofonia
potiguar Genar Wanderley. Fez ponto também no animado Forró da Coreia,
local onde funcionou até pouco tempo o estádio de futebol Machadão
(Lagoa Nova), que mais tarde lhe daria inspiração para compor o Forró da
Coreia: “Só tem veia/Só tem veia /No forró da Coreia/ Barco perdido,
bem carregado/ Eu tinha chegado em Natal...
Após prestar serviço
militar, voltou a atuar na Rádio Poti, quando conheceu o famoso ritmista
Jackson do Pandeiro (Alagoa Grande/PB, agosto de 1919 - Brasília/DF,
julho de 1982), em uma de suas visitas a Natal para fazer show. Do
encontro, surgiu a grande, sólida e produtiva amizade. Dessa estreita
empatia, e devido ao bom relacionamento artístico, foi convidado para
morar em sua casa na cidade do Rio de Janeiro, quando começou a compor e
a se apresentar em rádios, TVs e a fazer muitos shows pelo Brasil
inteiro, sempre como grande divulgador da música e da cultura
nordestina. Teve uma passagem pela cidade de São Paulo, onde trabalhou
com Pedro Sertanejo ( pai de Osvaldinho do Acordeon) durante seis anos.
Gravou
seu primeiro disco no ano de 1961 pela gravadora Chanticlê, mas foi na
Philips/Polygram que gravou seus primeiros sucessos: “Puxando o Fogo” e
“Xodó do Motorista”; como consequência da grande aceitação das suas
músicas, foi convidado pela gravadora Columbia, CBS, depois Sony Music,
onde permaneceu por vinte e três anos.
Produziu centenas de músicas, e teve a honra de ver suas canções
interpretadas por grandes compositores e intérpretes como: Luiz Gonzaga,
Dominguinhos, Genival Lacerda, Jackson do Pandeiro, Tetê Espíndola,
Coronel Ludugero Jacinto Silva, Trio Nordestino, Marinês, Abdias,
Marinalva, e outros (Dicionário da Música do Rio Grande do Norte, Leide
Câmara/ 2001). Foi sempre ligado e enraizado no “Forró Pé de Serra", com
grandes sucessos como: O Rela Bucho, Puxando o Fogo, O Rabo do Jumento
(seu maior sucesso em parceria com Adilson Dória, 1968): “Você disse que
é valente Nascimento/ Você cortou o rabo do jumento/ Eu não quero
pagamento, Nascimento/ Eu só quero é outro rabo do jumento...”; Na
Sombra do Juazeiro, Maria Home, Filho de Gaiamum, com regravações na
Bélgica, em Portugal e na África (Zâmbia).
Em 1999, dividiu o palco
do Teatro Alberto Maranhão no Programa Seis e Meia, da fundação José
Augusto, com a encantadora Marinês e sua Gente, durante a V Semana de
Cultura Popular, quando recebeu das mãos do então presidente, o
jornalista Woden Madruga, o Troféu Brasil 500 anos.
Faleceu aos 69
anos, vítima do rompimento de um aneurisma cerebral, quando se preparava
para fazer uma apresentação na cidade de Assu/RN.
Concluo recorrendo
a bela crônica de Alex Nascimento, que disse: “Elino se foi como um
pássaro cantante. Morreu na sua estação preferida, a estação das
sanfonas, dos arrasta-pés, das fogueiras, dos balões, das canjicas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário